Foi com o tempo, já adulto, que ele percebera mais claramente como ela lidava com a vida. Estava certo que ela não queria mais viver. De alguma forma, desde criança, ele não conseguira entender a razão de tanta infelicidade, mas não conseguia admitir tal hipótese. Quando a admitiu foi um misto de dor e alívio. Mas, isso só aconteceu mesmo um bom tempo depois, já adulto, afinal, por vezes, ela parecia ter um brilho nos olhos que demonstrava o contrário. Demonstrava que ela poderia sorrir e ser feliz com todos. Mas esse brilho nunca fora forte o suficiente para retirar-lhe a sombra tão pesada de uma maldita melancolia que lhe sugava todo o desejo e vontade de ser feliz. Uma melancolia que facilmente se transformava em raiva, em ódio; que rapidamente destruía qualquer laço que se formasse ao seu redor, por mais amoroso que fosse. Não, de fato, ela não queria mais viver. E lutou mesmo, decididamente, para morrer. Mas, nunca deu um fim rápido a todo este sofrimento. Optou por senti-lo até o final, como que punindo-se violentamente por uma culpa que não conseguia entender.
Acabou por viver muito. Com pouca qualidade, mas viveu. Rejeitava favores, menosprezava abraços, desdenhava carinhos e afastava a todos que queriam o seu bem. Esteve por aqui um bom tempo. Por engano, assim ela imaginava. Ele lhe cobrou amor, pois sabia que ela o tinha. Ele experimentara isso, tinha lembranças de quando era bem pequenino. Nunca desistira dessa busca. Já crescendo, amadurecendo, à noite, vez por outra, parecia se contorcer na cama em busca do seu colo, de um aconchego do qual se recordava e que lhe fazia muita falta. Sim, ele lhe cobrara amor durante toda a vida, toda a vida. Hoje ele sabe que, a seu modo, ela o amava. Mas, como ela poderia retribuir mais? Como? Há muito tempo ela já havia desistido. Ele mesmo, quando percebera isso deixou de lhe cobrar qualquer coisa, nem mesmo uma pitadinha de amor. Havia, finalmente, descoberto, de forma trágica, que isso era uma impossibilidade. Passou, então, a entendê-la e a sofrer por seu destino. Ela nunca conhecera o amor, como, então, poderia doá-lo a alguém?
Ele teve que sobreviver, não sem um custo é claro, mas teve algum sucesso nessa sobrevivência. E, de alguma forma, ela também encontrou algum sucesso ao ir embora. Afinal, ele só conseguia mesmo imaginar que realmente ela estava aqui "por engano". Nunca vira uma angústia tão inominável, nunca vira uma dor tão dilacerante. Os tormentos lhe tomaram conta de toda a vida, a ponto de a única definição sensata que ele conheceu para a palavra tormento foi: "mãe".
Que todo o seu tormento agora se transforme em luz. Que ela volte a ser criança, que volte a brincar, que volte a ser sapeca, que volte a correr com os pés no chão e na chuva, que ele descobrira ser o que ela mais gostava. Que possa ter uma segunda chance, e não mais sentir-se aqui "por engano". E que ele encontre, finalmente, o amor que sempre buscou, pois desde algum tempo atrás desacreditou, finalmente, que estava aqui, também, "por engano". Afinal de contas, há coisas a fazer! Há coisas pelo que esperar! Há pessoas a amar!
Acabou por viver muito. Com pouca qualidade, mas viveu. Rejeitava favores, menosprezava abraços, desdenhava carinhos e afastava a todos que queriam o seu bem. Esteve por aqui um bom tempo. Por engano, assim ela imaginava. Ele lhe cobrou amor, pois sabia que ela o tinha. Ele experimentara isso, tinha lembranças de quando era bem pequenino. Nunca desistira dessa busca. Já crescendo, amadurecendo, à noite, vez por outra, parecia se contorcer na cama em busca do seu colo, de um aconchego do qual se recordava e que lhe fazia muita falta. Sim, ele lhe cobrara amor durante toda a vida, toda a vida. Hoje ele sabe que, a seu modo, ela o amava. Mas, como ela poderia retribuir mais? Como? Há muito tempo ela já havia desistido. Ele mesmo, quando percebera isso deixou de lhe cobrar qualquer coisa, nem mesmo uma pitadinha de amor. Havia, finalmente, descoberto, de forma trágica, que isso era uma impossibilidade. Passou, então, a entendê-la e a sofrer por seu destino. Ela nunca conhecera o amor, como, então, poderia doá-lo a alguém?
Ele teve que sobreviver, não sem um custo é claro, mas teve algum sucesso nessa sobrevivência. E, de alguma forma, ela também encontrou algum sucesso ao ir embora. Afinal, ele só conseguia mesmo imaginar que realmente ela estava aqui "por engano". Nunca vira uma angústia tão inominável, nunca vira uma dor tão dilacerante. Os tormentos lhe tomaram conta de toda a vida, a ponto de a única definição sensata que ele conheceu para a palavra tormento foi: "mãe".
Que todo o seu tormento agora se transforme em luz. Que ela volte a ser criança, que volte a brincar, que volte a ser sapeca, que volte a correr com os pés no chão e na chuva, que ele descobrira ser o que ela mais gostava. Que possa ter uma segunda chance, e não mais sentir-se aqui "por engano". E que ele encontre, finalmente, o amor que sempre buscou, pois desde algum tempo atrás desacreditou, finalmente, que estava aqui, também, "por engano". Afinal de contas, há coisas a fazer! Há coisas pelo que esperar! Há pessoas a amar!