Quem é o praticante do Bullying?
Em linhas gerais, é um adolescente, marcado pela ausência de um superego bem consolidado e, portanto, pela maior presença de traços de onipotência e agressividade no aparelho psíquico. Nesses casos, pode-se especular que houve uma má saída do complexo de édipo resultando em um quadro de fracos limites, podendo ser fonte potencial de violências futuras. Trata-se de um indivíduo que atribui muita importância ao pertencimento a um grupo, que considera decisivo para a construção de sua personalidade.
Portanto, esse indivíduo, na grande maioria das vezes, é oriundo de uma família "desestruturada", no sentido de não ter ocorrido uma educação a partir de "limites". Isso o levou a ver na "força" e "agressividade" a melhor estratégia de resolução de problemas. Como sente-se, em boa parte, humilhado e descontente com sua própria posição, busca a humilhação do outro para evitar o contato com suas próprias fraquezas. Para corroborar esta posição basta vermos a importância atribuída pelo Bully ao "grupo", sem o qual ele parece exatamente do tamanho que é, "pequeno" (a partir daí fica fácil entender que os que seguem o grupo acabam por seguir o superego do líder do grupo, violento).
Nesta composição psíquica, portanto, ele aproxima-se de um "sádico", mas a sua vítima, não necessariamente é um "masoquista" que luta para pertencer ao grupo do qual é excluído. Definir o Bullying a partir de uma relação sado-masoquista não explica muita coisa. Talvez alguns casos. Somente isto. Dizer que a vítima é masoquista e que bastaria, para isso, querer evitar o grupo e o conflito, é, parece-me, atribuir culpa à vítima desta violência. A vítima, no caso, é muito mais uma "caça" para este "predador" que é o Bully.
A violência, ou "agressividade", tão própria do Bullying, é um comportamento que surge desde muito cedo quando buscamos chamar a atenção para nós mesmos, como através de atitudes de ambição e coragem. Se o Bully, então, é um indivíduo agressivo, é porque aprendeu a reagir sempre no contexto de uma competição, de uma disputa, quase sempre para tentar, justamente, evitar uma situação em que ele próprio seja o excluído. Não convive bem com as críticas, além de desejar conquistar a tudo que tem interesse a qualquer preço, numa espécie de "conduta ambiciosa".
Nesse sentido, campanhas educativas pouco resolvem contra aparelhos psíquicos deste tipo podendo, pelo contrário, servir como reforço à ousadia e desafio que os Bully se impõem a todo instante. A experiência é covarde e violenta e deve ser tratada, também, com rigor, sem deixar espaço para impunidades. Afinal, isentá-los de responsabilidade só tornará ainda mais fracos seus superegos que já desconhecem limites. É evidente, por outro lado, que tais Bullys precisam de tratamento terapêutico. O acompanhamento terapêutico psicanalítico se torna indispensável, primeiro para que os envolvidos (praticantes e cúmplices) se dêem conta dos processos que estão vivenciando, e em segundo, por reconhecer-se que estamos lidando com fenômenos mentais e comportamentais recorrentes em busca de um gozo absoluto e, por isso, mortal.
Levando-se em conta este perfil podemos ainda acrescentar que um dos mecanismos sempre presentes na ação do Bully é a "projeção", ou "identificação projetiva", um conceito bem desenvolvido pela psicanalista Melanie Klein que mostra que o indivíduo tenta livrar-se de "partes" de si que considera intoleráveis e as projeta no outro. Trata-se de um mecanismo muito comum em situações psicóticas mas está muito presente, também, nas situações de discriminação e preconceito contra o outro. É sobre esse outro, portanto, que recaem as projeções (como os sentimentos de inferioridade e raiva) e angústias do Bully, na sua impossibilidade de lidar melhor com suas próprias dores.
Enfim, trata-se de uma tentativa de perfil. Não se esgota, evidentemente.