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terça-feira, 13 de maio de 2014

A contra-ofensiva do PT com a volta de "fantasmas do passado"

O interessante, e desafiador, de uma campanha eleitoral é que não há linha "reta", ou seja, está permeada por ofensivas e contra-ofensivas. Aécio apareceu na TV, contou com o crescimento do temor da volta da inflação e capitalizou boa parte dos insatisfeitos que deixaram o apoio à Dilma entre março e maio. Agora vem a contra-ofensiva. Peça de campanha do PT hoje, em rede nacional, dá sequência ao pacote de bondades lançado por Dilma em 1° de maio.

Nada de novo nesta peça de propaganda. A defesa da continuidade é clara. O PT que teria "resgatado" parte da população pobre para o consumo e integrado-a na sociedade mostra para todos o "risco" de um governo do PSDB acabar com tudo isso ("volta de fantasmas do passado"). 

Uma coisa é certa, o PT sabe que há um claro movimento de reação na sociedade por "mudanças" e certo "cansaço" com o governo Dilma. E está contra-atacando com o que tem de melhor até aqui (o alcance das políticas de emprego e incremento do consumo). O tom é melodramático e inspira o "medo"! 

O alcance, porém, me parece limitado ao "reduto" mais tradicional do PT nestes últimos anos e trata-se, salvo engano, de uma tentativa de "reagrupar" o "time principal" (setores pobres que emergiram para o consumo) para, a partir daí contra-atacar em direção a outros setores sociais.

O recado do PT é claro: "ei vocês aí que conseguem trabalhar e se alimentar por nossa causa, fiquem do nosso lado e não se deixem contaminar pela onda de mudanças!"

Daqui a uns dias começam a sair novas pesquisas e já começamos a ver o que aconteceu de fato e como a oposição vai agir novamente!

Tá ficando animado!!!

(José Henrique P. e Silva)

O medo inconsciente do voto facultativo

Artigo, no Observatório da Imprensa, a respeito da pesquisa Datafolha que aponta alta rejeição ao voto obrigatório entre os brasileiros.

O medo inconsciente do voto facultativo (José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Dilma não está associada às mudanças necessárias!

A pesquisa do Datafolha, feita ontem, foi a primeira após a "reação" da presidente (anúncio do aumento do Bolsa Família, diminuição do "volta Lula" etc.). Diria o seguinte:

Se a eleição fosse hoje o 2° turno seria "inevitável" (Dilma tem menos votos que a soma dos demais candidatos). Dilma perdeu poucos votos agora pela sua "reação" mas, já é a candidata com maior "rejeição" (35%) e está menos associada à possíveis "mudanças" (Aécio já aparece como o nome mais preparado). 

A continuar neste ritmo, mesmo que atenue sua queda (continua em oscilação negativa) a presidente será vista com cada vez menos "bons olhos". Se a conjuntura econômica não mudar rapidamente, será necessário que o "volta Lula" (Lula ainda é visto mesmo como um "bom reserva") ou aconteça mesmo ou tenha capacidade de transferir apoio pra presidente, do contrário, é esperar que a inauguração de obras e o tempo de TV faça milagre durante a campanha. 

O complicado pra Dilma é que os nomes de Aécio e Campos, que ainda têm muito espaço para aumentar seu "conhecimento" junto ao eleitorado, já estão capitalizando essa "insatisfação" com o governo federal e surgindo com "bons olhos". Parece que dessa vez o PT vai enfrentar uma eleição com uma conjuntura econômica desfavorável, com muitos flancos abertos (corrupção, ineficiência administrativa etc.) e, pior, com candidatos de oposição que "agradam" e são capazes mesmo de capitalizar a insatisfação e o anseio por mudanças.

Enfim, a próxima alteração de conjuntura, ainda antes do início das campanhas, me parece, será com a entrada em cena da Copa do Mundo e as possíveis manifestações. Vamos esperar pra ver como a população se comporta.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A necessária "chispa" na relação entre Internet e Democracia

Pensando um pouco sobre a relação internet e política acabei relendo um artigo do ex-presidente Fernando Henrique no Estadão de, quase exato, um ano atrás. No artigo, ele fala de suas leituras de M. Castells (Redes de Indignación y Esperanza) e Moisés Naim (The End of Power), ambos tratando da relação da tecnologia e a política, discussão que se aprofunda na esteira da perda de força da democracia representativa e na expansão da política tradicional (principalmente nas disputas eleitorais) sobre estas novas tecnologias.

O assunto não é novo e recebeu grande impulso a partir da "Primavera Árabe", e talvez por isso se enxergue nesse uso da tecnologia on-line uma maior presença de homens comuns, que não seguem lideranças tradicionais e deixam claro seus desejos de forte "autonomia", pois quase sempre formam uma "massa invisível" para as instituições representativas. 

E, com base nisso, muitos se apressam em dizer que há na internet um potencial "explosivo" para a política. Mas, a relação entre a internet e a mobilização política não é automática pois, da mesma forma que na vida "real", na vida "on-line" são necessários "fatores desencadeadores" que nos tirem do isolamento. E estes, só surgem quando de um clima psicossocial propício para a "chispa de indignação".  Nesse ponto, Fernando Henrique nos diz que:
A chispa, entretanto, só ateia fogo e produz reações quando se junta profunda desconfiança das instituições políticas com deterioração das condições materiais de vida. A isso se soma frequentemente o sentimento de injustiça (com a desigualdade social, por exemplo, ou com a corrupção diante do descaso dos que mandam), que provoca um sentimento de ira, de indignação, geralmente proveniente de uma situação de medo que dá lugar a seu oposto, a ousadia. Passa-se, assim, do medo à esperança. 
É a partir deste quadro que a conjuntura atual oferece uma boa oportunidade para se testar um pouco mais dessa relação entre internet e política.

Há condições propícias para isso hoje em dia? Não há nenhuma dúvida que se vive um período de erosão de alguns ganhos obtidos em épocas anteriores, trazendo riscos para um possível descontrole da inflação, aumento do desemprego, perda de capacidade de consumo etc., além de um forte descontentamento com a vida política em geral. Em função disto, já é visível a movimentação no eleitorado no sentido de reforçar a oposição e, com a chegada da Copa do Mundo, e a muito provável intensificação de movimentos de rua, a "chispa de indignação" pode surgir ainda mais forte.

Quem vai ganhar com isso? Acho que na altura do campeonato, o "poder de fogo" do governo é pequeno. Teria que surgir algo muito "novo" e "interessante" para frear esta queda de popularidade. E, além disso, Aécio Neves e Eduardo Campos teriam que se tornar muito "antipáticos" à população. Sinceramente? Acho que esta combinação não vai ocorrer, e mesmo que o governo tenha "balas na agulha" vai encontrar, além de uma conjuntura desfavorável, uma oposição muito mais agradável e disposta a chegar ao poder.

Então, é fato que a simples potencialização e abrangência da tecnologia de contato on-line não necessariamente se transforma em algo "real". É preciso que haja um clima psicossocial propício ao surgimento de "chispas de indignação".

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre o discurso da oposição em 2014

Hoje, no seu Twitter, o Gaudêncio Torquato disse não acreditar tanto que o PT comece a acusar a oposição de querer "vender" a Petrobrás. Segundo ele, é um "truque manjado". E é verdade, afinal, foi assim que ocorreu nas duas últimas eleições com o PT insistindo em "colar" no PSDB o carimbo de "privatista". Mas, hoje, a forma como o PT está tentando "reelaborar" a crise da Petrobrás colocando a oposição como interessada na derrocada da empresa sinaliza bem que, na eleição, esse discurso de "salvação" do patrimônio público pode voltar sim, embora seja "manjado". 

A questão é que agora, com 12 anos de administração petista já é bem possível mostrar o tamanho da "INEFICIÊNCIA" da gestão pública (obras inacabadas, gastos excessivos, aparelhamento, crescimento econômico pífio, dificuldades no mercado internacional). Esse discurso pode ser mais forte até que o da "corrupção" (importante por consolidar os votos de classe média). Não acredito em um discurso novo do PT nesta eleição. Virá, como sempre, sustentado no Bolsa Família, crescimento da classe C e, para isso, irá explorar ao máximo (de novo) o "conflito de classes" (ricos x pobres), a "comparação com FHC", e colocar-se como "salvação". Muito difícil a Dilma sustentar-se da ideia de ser uma boa "gerente" ou "mãezona" (estão fragilizados estes discursos)

Então, insisto que o que está fazendo o governo da Dilma "patinar" na popularidade, não é tanto a corrupção quanto a INEFICIÊNCIA, principalmente em não conseguir sustentar a ECONOMIA do país. Isso é que coloca uma grande INTERROGAÇÃO na cabeça do eleitor: o que virá pela frente com mais 4 anos de Dilma? Por que não mudar? O eleitor está começando a "duvidar". Ou seja, O FIEL DA ELEIÇÃO SERÁ AQUELE ELEITOR DE CLASSE C QUE COMEÇA A DUVIDAR DE UM FUTURO TÃO "CERTINHO" COM A DILMA E O PT, E COMEÇA A MOSTRAR-SE DISPOSTO A "ARRISCAR" (mudar).

Acho que se o Aécio e o Campos "puxarem" o debate para o terreno da "eficiência e competência administrativa" e não caírem na cilada do "conflito de classes" as chances da oposição ficam muito fortes. O problema é que as oposições em 2006 e 2010 ficaram sem "discurso". Naqueles momentos, praticamente nada podia bater de frente com o discurso do bolsa família e do crescimento econômico...mas e agora? A conjuntura é bem outra!!! Existe discurso sim!!!

Além do mais, se o Campos tiver uma boa atuação no Nordeste e se o Aécio tiver um vice de São Paulo, a coisa fica imensamente complicada para o PT.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A conversa dialógica e o "fetichismo da informação" no mundo da política

Estava pensando um pouco sobre o que é mais importante numa conversa, se fazer afirmações ou escutar? Quem já não se questionou sobre isso? Basta lembrar situações em que estamos, por exemplo, numa mesa de bar com amigos onde todos falam ao mesmo tempo e buscam impor seus argumentos, ou quando estamos ouvindo a quem admiramos e parecemos não questionar nem um pouco o que a pessoa diz. 


Nos dois casos há o domínio do que se chama de "fetiche da informação", ou seja, aquela ilusão de que só o que falamos e afirmamos é que tem importância e os demais devem simplesmente ouvir e ficar quietos. Nesses casos não há conversa alguma, só imposição de argumentos, de um lado ou de outro.

Na conversa "dialógica" não temos, necessariamente que chegar a "acordo" algum que signifique a eliminação do "outro", não temos que nos "confrontar" para eliminar um argumento, nela temos que exercitar a capacidade de "escutar" principalmente. Diria que esta é a conversa democrática por excelência, pois o mais importante não é "vencer" um debate, mas "escutar", trocar, se conscientizar mais do próprio ponto de vista e ampliar a compreensão entre todos que conversam. Bem, pode até ser a conversa de tipo mais "democrático", mas não me perguntem se, de fato, é este tipo de conversa que ocorre numa democracia, ou mais especificamente no mundo político.

Seja no interior dos parlamentos, seja na relação com a mídia, a política praticamente desconhece a conversa dialógica. Em momentos de disputa eleitoral, nem pensar. A questão é o confronto direto e tudo cede lugar ao marketing. Ok, essas são as regras! O discurso político está mesmo reduzido ao "mínimo possível", ou seja, quanto menos palavras maior a chance de ser internalizado. Vivemos uma era de informações rápidas, multiplicadas, mas com pouquíssima substância e nenhuma disponibilidade para o debate. É de se pensar onde, e em que espaços a conversa "dialógica" está sobrevivendo! Na mídia? Nas Universidades? Não sei! Cada vez tenho menos ideia disso!

O fato é que, no mundo da política, mesmo de deixarmos de lado os momentos de confronto (como as disputas eleitorais) vemos que a conversa dialógica está cada vez mais ausente, mesmo naquelas pequenas reuniões partidárias onde todos teriam que ter a chance de falar e de, principalmente, saber escutar. Aí complica tudo! Como dar legitimidade às decisões "coletivas"? Essa é uma boa pergunta para a democracia responder!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre as "salvacionices" paranóicas no mundo da Política

Em sua sempre interessante coluna no Estadão Roberto Damatta¹ transcreve uma carta que teria recebido do professor e amigo Richard Moneygrand. Trata-se de um intelectual aposentado, norte-americano e "brasilianista" (aliás, como já nos tinha chamado a atenção o prof. Moniz Bandeira², o termo só se aplica aos norte-americanos que pensam o Brasil. Na Europa são chamados de "africanistas"). Moneygrand é um personagem inventado por Roberto Damatta para pensar o Brasil e, desta vez, nos falou sobre um aspecto interessante que está em questão nesta conjuntura político-eleitoral que vivemos: as "resoluções messiânicas" para os nossos problemas.

De acordo com Moneygrand, atuar sobre uma conjuntura de disputa eleitoral deste porte não é nada simples e fácil pois exige atitudes nem sempre confortáveis de um lado ou de outro. Ações, valores e princípios são questionados e a crítica é promovida em alta escala. 

No caso brasileiro, o que estaria sob avaliação seria "uma história transcendental que iria libertar os oprimidos e os miseráveis e os diretores dessa fase tidos como politicamente invencíveis. Para Moneygrand, será inevitável entender-se melhor ("desmascarar") os chamados "salvadores do Brasil" e contrastá-los com a proliferação de escândalos de corrupção, a avidez pelo enriquecimento pessoal e uso de privilégios, e o aparelhamento do Estado para fins de interesse pessoal. 

Ainda segundo Moneygrand, esta seria uma sina brasileira, ou seja, a "crença numa resolução messiânica para todos os seus problemas; daí a atração pelo conceito de "revolução" em toda a latinidade americana". O tema é dos mais interessantes e gostaria de trazer algo da Psicanálise para ajudar no debate sobre o entendimento do poder e seus arredores. 

Se estamos falando de "crença messiânica" estamos nos referindo a algo que, em maior ou menor proporção, está muito próximo dos conceitos de "líder carismático" e de "populismo". Vejamos. Um esclarecimento inicial: A sucessão é para o governo da presidente Dilma, mas não nos enganemos, se há um projeto "messiânico" em questão, como nos sugeriu Moneygrand, ele foi construído pelo ex-presidente Lula, que é, para quem, o nosso olhar deve se voltar. Claro que seria um grande equívoco metodológico tentar trazer o ex-presidente para o divã, mas podemos olhar com atenção os "estilos de atuação na política" e nos arriscarmos a algumas considerações. 

Para isso, Eugène Enriquez (“As Figuras do Poder”), é um exemplo de autor que fornece subsídios teóricos interessantes para entender o campo da política sob o olhar da psicanálise. Segundo ele, o poder tem sempre uma "face" encarnada em um indivíduo ou grupo, e desvelar essa "face" é fundamental para se entender alguns dos motivos das ações e palavras dos agentes políticos. Se olhássemos, então, com atenção, para o estilo de atuação do ex-presidente Lula não seria tão arriscado defini-lo como predominantemente carismático/paranóico. 

Trata-se de um estilo de atuação que está assentado sobre algumas "fantasias". Quais? E de que liderança, então, estamos falando?

·   A fantasia de que a “fala” organiza o mundo – Para este líder, tudo depende, essencialmente, do "discurso". Qualquer dado da realidade parece sem valor diante da "fala" do líder, que a tudo avaliza. Se o discurso é peça fundamental no campo da política, com este líder ele ganha uma relevância exagerada. Ele quer ser ouvido, pois com sua fala, organiza e explica o mundo de acordo com os seus interesses. O viés carismático vem de uma habilidade de ensaiar metáforas populares a todo instante, como, por exemplo, no recorrente uso do futebol pra explicar diversos fatos;

·    A fantasia de que existem “explicações definitivas” – É um líder que não abre mão de suas certezas absolutas. Suas convicções são o espelho de sua "grandeza", e sua mensagem é de "salvação" para a sociedade. É um "messias" que anuncia uma "nova origem" a partir de sua chegada ao poder, como se tudo se explicasse a partir de um "... nunca antes na história desse país...";

·   A fantasia de que há inimigos por toda parte – Neste líder, há uma idealização da imagem de “conspiradores” (a “elite golpista”, a “mídia de direita”, a “classe média egoísta”, os “brancos de olhos azuis”, os “inimigos do povo” etc.). Assim, só existem dois tipos de indivíduos para este líder: aqueles que ele reduz a objetos de sua dádiva e aqueles que precisam ser “destruídos”. Muito comum que esses “inimigos” sejam fabricados pelo próprio discurso deste líder. Um exemplo está na recorrente e obsessiva comparação estatística com tudo o que antecedeu ao governo Lula, especialmente o governo Fernando Henrique Cardoso. Manter esta obsessão pela comparação é fundamental para a existência de sua “liderança” e demarcação de um "território", pois lhe garante uma "identidade" e um “lugar” na política e na vida;

·    A fantasia de ser uma figura “central” no mundo – Coloca-se, então, na posição de “centro” do mundo. Com ele que surge uma nova "lei" (o desprezo ao STF e incapacidade de assumir erros nos falam um pouco dessa quase impossibilidade de sujeitar-se às regras), é uma espécie de "herói criador", um "pai único e verdadeiro", que se pretende "onipotente", sem limites, e livre de qualquer ameaça. Não acredita na história, pois é ele quem a "começa" a partir de sua chegada ao poder;

·  A fantasia de que é necessário “transformar” o mundo – Sua fala traz sempre a "verdade", quase de inspiração divina. O ex-presidente Lula dizia: "...não existe ninguém mais ético do que eu...", e, por vir das classes populares, trazia consigo a "verdade". É com essa "origem" que ele se transforma no “eleito", no "campeão", enfim, no “cara”, como um dia disse Obama;

·     A fantasia de que “tudo é possível” - Para este líder, finalmente, é fundamental criar uma "nova sociedade", afinal "tudo começa" com ele e acredita que, para isso, "tudo é possível" e justificável. É aqui que os delírios encontram espaço para florescer, inclusive aqueles que classificam corruptos como simplesmente “presos políticos”;

Todos nós, individualmente, possuímos traços que nos realçam a persecutoriedade. Alguns um pouco mais. E líderes políticos não escapam, obviamente, a estes traços. Alguns um pouco mais, evidentemente. O ex-presidente Lula, me parece, usou e abusou desse estilo. Não o condeno, afinal, é o seu estilo de atuação na política. Nem diria que foi sempre assim. Um olhar mais detido sobre a evolução de sua postura e discurso políticos mostra que ele transformou-se com o tempo. Mudança significativa, porém, aconteceria no auge da conjuntura crítica do escândalo do mensalão, quando passaria a adotar, de forma frequente, as linhas deste estilo carismático/paranóico. Mas, isso é assunto pra outra conversa.

O interessante é que para manter estas fantasias o líder carismático/paranóico precisa tensionar a sociedade, num permanente conflito entre “nós x eles”. Ele "movimenta" as relações sociais a um ponto tal de conflito que, se não ameaça, por vezes desqualifica e deslegitima, as instituições democráticas. É nesse estímulo ao "conflito permanente" que o líder carismático/paranóico tenta apropriar-se do conceito de "povo" (o único conceito legítimo para ele). Ele se infiltra, profundamente, então, no imaginário popular.

Não se trata, portanto, de um estilo de atuação "essencialmente" democrático. Aliás há muito o que se conversar sobre essa tal "essência" da Democracia. Mas, é decisivo, então, sustentar-se a capacidade crítica, oferecer uma nova possibilidade de recontar a história do país, manter as instituições o máximo livres e independentes. Ou atribuímos à democracia um valor universal, onde o "povo" é transformado em "cidadão" (e não estou dizendo meramente "consumidor"), ou continuaremos nos apegando a “messias” e “salvacionices”, mantendo a nossa sina, como bem assinalada por Moneygrand. 

Olhar, então, para o estilo de atuação dos governantes, e seus pormenores discursivos, pode dar ao campo da política um especial interesse. Neste caso, o que se percebe é um conjunto de fantasias que povoam o líder carismático/paranóico. Moneygrand conclui sua análise lembrando que há uma chance de dispensarmos estes "Messias" mas, desde que comecemos mesmo a "desconfiar que nada neste mundo de Deus pode ser resolvido paulatinamente, a não ser por todos e cada um".
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¹ "Onde Estamos", O Estado de São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2014. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-estamos,1157387,0.htm 
² "Divagações de um brasilianista". Observatório da Imprensa, 04/09/2012, edição 710. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed710_divagacoes_de_um_brasilianista

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pesquisa Vox Populi e suas "artimanhas"

A divulgação da pesquisa do VOX POPULI anteontem sobre a disputa presidencial me chama a atenção para algo que, vez por outra, ocorre em época de eleição. Na rápida tabela que montei abaixo se percebe que o VOX POPULI fez a pesquisa nos dias 6 e 8 mas só divulgou em 16.04. O DATAFOLHA havia feito uma pesquisa semelhante nos dias 2 e 3 e divulgado no dia 5 de abril. Pode-se dizer que os resultados estão dentro da margem de erro (38% para Dilma no DATAFOLHA e 40% no VOX). 

O problema está justamente na DATA DE DIVULGAÇÃO dos resultados. Divulgar um resultado com 8 ou 9 dias de diferença, como fez o Vox Populi, não é recomendável pois estamos tratando de CONJUNTURAS DISTINTAS (embora os dados possam estar corretos). Percebe a questão? Além disso, a pesquisa do VOX apontou uma oscilação positiva da Dilma (de 38% do Datafolha, para 40%). Me chamou a atenção porque isso parece ser muito comum no VOX POPULI. Em 2010 para a disputa do Senado o mesmo já acontecera em Pernambuco, quando o VOX também demorou pra divulgar os resultados e o fez com uma intenção de voto bem superior à divulgada pelo Datafolha. 

Onde está o problema então? Ora, divulgar dados com uma boa defasagem de tempo significa que você está tentando "FREAR UMA OSCILAÇÃO" (no caso, a oscilação negativa da Dilma, confirmada pela pesquisa do IBOPE com 37%) e também criar um clima de "otimismo" tentando "ABAFAR UMA CONJUNTURA DESFAVORÁVEL" (escândalo da Petrobrás). É simples! Não é tão difícil perceber isso!!! Estamos falando de conjunturas distintas que a pesquisa do Vox Populi tentou "negar".

Agora, outra questão: quem acolheu esta pesquisa do VOX POPULI com tanto tempo de atraso? A Revista CARTA CAPITAL. Olha, nada contra a revista, mas isso é só um exemplo de que temos que acabar com essa besteira de que tudo o que sai na VEJA é "falso" e tudo o que sai na CARTA CAPITAL é "verdadeiro", como se a esquerda estivesse com a "verdade" ao seu lado. Não estamos falando de ideologia (ideologia hoje só serve mesmo pra quem não gosta de pensar muito), estamos falando de disputa eleitoral, interesses, poder... e nisso o PT e seus aliados (como o VOX POPULI e a CARTA CAPITAL) são tão eficientes quanto os demais. Só não vale, entretanto, é ficar posando de "santinho" e "dono da verdade", e usar esse tipo de artimanha antiética e imoral onde se usa um instrumento técnico como a pesquisa eleitoral pra MANIPULAR UMA CONJUNTURA. Infelizmente esse tipo de debate não chega à grande população. Infelizmente.

O que é isso que acontece com o VOX POPULI? Incompetência técnica e falta de agilidade? Deliberada "proteção" a seus candidatos? É nesta hora que o TSE deveria exigir respostas por parte dos institutos de pesquisa e a mídia deveria ser mais responsável com a divulgação de dados. Bem, mas não estamos falando de situações ideais e sim de uma disputa de interesses que é sempre ferrenha.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Ainda é cedo para o eleitor decidir-se!

Muita gente se espanta com algo que vem acontecendo no cenário político, ou seja, ao mesmo tempo que cresce o pessimismo do brasileiro com a economia a Dilma se mantém razoavelmente como favorita para as eleições. Nesse quadro muitos passam a desacreditar em pesquisas etc. O que explica isso? Ora, simplesmente AINDA NÃO CHEGOU A HORA DO ELEITOR DECIDIR-SE. 


Apesar do pessimismo ser crescente o debate eleitoral ainda não chegou às ruas (talvez no facebook e alguns círculos mais restritos sim, mas nas ruas não!). Então, é absolutamente natural que o eleitor se comporte de forma conservadora, ou seja, diz que vai votar em que está no governo, em quem conhece mais, em quem, enfim, tem maior lembrança. À medida que o debate eleitoral for chegando às ruas, o eleitor começará a pensar mais seriamente em sua escolha e aí muita coisa pode mudar. "Poder mudar" não significa "mudar". Isso vai depender da capacidade do governo em blindar-se contra as críticas e da capacidade da oposição em colocar-se como alternativa. 

Mas, até lá tem muita coisa pra acontecer. Ainda é cedo pra mudanças significativas nas pesquisas eleitorais. É muito comum que, só após a entrada da TV (programa eleitoral) em cena, que o eleitor comece a pensar mesmo em quem vai votar. Por enquanto a "briga" entre governo e oposição é por espaço na mídia e na cabeça do eleitor!!! E isso é muito importante, muito mesmo!!!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A "importação" de médicos cubanos


Hoje a noite assistindo ao Globo News Alexandre Garcia pude ouvir um pouco mais sobre esse debate envolvendo a "importação" de médicos, especialmente cubanos, pelo Governo Federal. No debate estavam o deputado federal Rogério Carvalho (PT-SE) e o presidente do Conselho Federal de Medicina Roberto D'Ávilla. Foi muito interessante e dá para perceber algumas "coisinhas":

1) É fato que faltam médicos HOJE no Brasil, especialmente no setor público, nas periferias de grandes cidades e municípios pequenos ao longo de todo o Brasil;

2) Aos "trancos e barrancos", nos últimos anos, foram abertas muitas faculdades de medicina pelo país afora, o que fará com que dentro de três ou quatro anos, ocorra maior equilíbrio em termos númericos (médicos per capita);

3) Entretanto, mesmo que se formem muitos médicos a partir de agora não há nenhuma garantia de que esses novos médicos formados no Brasil se destinem a esses locais onde há falta de atendimento por absoluta falta de uma política de estímulo e melhor gerenciamento do sistema público de saúde por parte do governo federal (GESTÃO);

4) A "pressa" do governo em importar esses médicos atende a um objetivo eleitoral explícito: trata-se de uma mão de obra superbarata que não vai exigir praticamente nada do governo federal e que vai ser distribuída em locais onde "nossos" médicos não querem ir. Se der certo será uma ótima cartada a favor do PT, que vai "atacar" aquela que é a principal demanda da sociedade mais pobre: SAÚDE!