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terça-feira, 22 de abril de 2014

Limites e agressão!

O UOL trouxe uma matéria ontem sobre a questão dos "limites" na relação entre as pessoas, com contribuições da Terezinha Baptista, do Sedes Sapientiae. Há sempre méritos em discutir a questão da agressividade como modelo de educação e é desnecessário enfatizar que a agressividade é uma de nossas reações mais primitivas, e que exige alguma "domesticação" na própria infância.


E uma das formas mais utilizadas pela agressividade é a violência psicológica (não física), aquela que envergonha, humilha, diminui, destrói a identidade da pessoa. É claro que a irritabilidade, em situações ocasionais, é algo absolutamente normal e nos protege de internalizar ofensas, mas o problema está quando a irritabilidade e a agressividade se tornam modelo de conduta, tomam conta da personalidade. 

Gritar, berrar, agredir, se impor pela força, só demonstram a fraqueza e a incapacidade psíquica de lidar com o controle, o argumento, a reflexão e o respeito ao outro. Mostram forte egocentrismo, talvez como defesa para uma evidente identidade muito fragilizada e insegura. Sem dúvida, impor limites sem o uso da violência é uma habilidade que pode ser melhorada com o tempo. 

Mas, só treino de habilidades não resolve tudo. Trata-se de um indivíduo que precisa ter seu NARCISISMO observado com mais atenção, pois algo pode ter falhado e ele está tentando se manter forte e agressivo para simplesmente não "desabar".

Quando falei que a agressividade precisa ser "domesticada" é porque fica evidente em nossa evolução emocional, ainda na infância, que se não reconhecermos limites isso irá gerar seríssimos problemas mais tarde. E esses limites vem do modelo dos pais, principalmente. Não há como esperar por escolas ou pela sociedade. Essas estão, cada vez mais, falhando em seus papeis de mostrar limites e, principalmente, mostrar limites a partir da EDUCAÇÃO e não da força física ou psicológica.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Humihação e Medo!

O horário era o do almoço. Perto de umas 13:30. Numa mesa próxima, um pai e duas crianças. Em determinado momento uma delas, a menor (talvez uns 5 anos), abre uma mochila, tira um brinquedo e o coloca sobre a mesa. O "problema" é que o brinquedo ao ser colocado e arrastado sujou a toalha que cobria a mesa. A reação do pai foi absolutamente desproporcional. Numa rápida reação esticou o braço, arrancou o brinquedo das mãos da criança, com uma mão lhe segurou fortemente o braço, com a outra lhe colocou o dedo na cara e desfilou uma série de pequenas ofensas, com uma feição que beirava o ódio.
 
Ele parecia mesmo estar seguro de que realmente tinha feito a coisa certa, afinal estava dando uma demonstração pública de seu "cuidado" com a educação de seu filho. Ok, tudo bem! Parei de olhar e me voltei para meu próprio prato. Mas, logo em seguida, comecei a me chocar por outra coisa. A reação da criança. Ficou absolutamente calada, quase estática em seu lugar durante todo o restante do almoço. Parecia estar paralisada de medo. Sua obediência era exemplar. Nem um pio sequer, nem um esboço de movimento, difícil até perceber se ela levantava o rosto. E isso parece não ter causado nenhuma outra reação no pai, que parecia convencido de sua missão. Mas, e a criança, o que sentia? Vergonha, humilhação, impotência, insegurança, abandono?
 
Ver esta reação da criança que me fez pensar em algo que as vezes parece tão óbvio, mas tão difícil de ser colocado em prática: Uma educação sustentada no afeto, e não na agressividade. Nós precisamos de uma casa e de uma família sadia para nos constituirmos emocionalmente fortes. Aí está o óbvio da questão, pois se trata de um princípio inquestionável. Mas, nunca é tão simples. Se tudo fosse tão simples, talvez a psicanálise nem existisse! E precisaríamos deixar de ser humanos também.
 
Claro que, depois de adultos, podemos recuperar parte do "estrago" que experimentamos na infância, mas poderíamos evitar muito desse sofrimento se existisse mesmo a luta e a disposição para transformar a família em um local de harmonia, onde o respeito ao outro (criança) deve prevalecer acima de tudo, e onde sempre haja motivo para o cuidado e o amor... só isso! Isso não significa ser passivo diante de uma atitude equivocada da criança, significa apenas que algo diferente deve ser colocado no lugar da agressividade e da ofensa. Esse pai, portanto, é exatamente o outro polo daquele pai submisso que, incapaz de colocar  limites, ajuda na formação de "pequenas majestades".
 
Mas, é comum ouvir pessoas, principalmente de uma ou duas gerações passadas, dizerem que o "sofrimento nos fortalece". Isso já serviu como pano de fundo e justificativa para uma educação "tirânica" e carente de afeto. É lógico que a dureza da realidade está aí para nos ensinar algo. Mas, será que não podemos aprender de outra forma? Temos mesmo que agir de uma forma que beira a crueldade com os filhos? Quem disse que uma educação centrada no respeito e no carinho não torna uma criança muito mais forte e segura que uma educação centrada na simples severidade? Veja, não estou falando de limites. Isso é outra coisa! Estou falando de se negar afeto.
 
Ora, o sofrimento, se nos ensina algo, é sempre nos machucando, ferindo, causando dor. O máximo que ele consegue é nos "embrutecer" e isso não é ser "emocionalmente sadio". A realidade já será devidamente dura para todos nós e nossas crianças, mas pra que antecipar estes sofrimentos? Torná-la capaz de sobreviver à dureza da realidade não significa envolve-la em sofrimento desde cedo. Significa dotá-la de afeto, lhe dar a segurança de saber que é amada, pois é este afeto que a tornará forte para enfrentar a vida. Uma vida dura leva ao sacrifício de muitos afetos e, consequentemente, da felicidade. Então, acreditar que uma educação baseada no sofrimento ajuda a suportar melhor a vida é só reproduzir aquilo que se aprendeu e se recebeu: uma vida sem afeto! Nada mais que isso. Temos mesmo que reproduzir isso? E não adianta culpar quem nos causou algum sofrimento. A responsabilidade por mudar é nossa. Somente nossa!
 
Enfim, há poucas coisas tão terríveis na vida quanto ver uma criança que, na sua paralisia e medo, mostra todo o seu desamparo afetivo. Nessa hora, alguma lembrança pode vir à mente, você suspira fundo, se identifica com algo e logo percebe: não precisava ser assim! Podia ter sido de forma diferente! Mas, vamos em frente.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O perfil do Bully (praticante do Bullying)

Quem é o praticante do Bullying?

Em linhas gerais, é um adolescente, marcado pela ausência de um superego bem consolidado e, portanto, pela maior presença de traços de onipotência e agressividade no aparelho psíquico. Nesses casos, pode-se especular que houve uma má saída do complexo de édipo resultando em um quadro de fracos limites, podendo ser fonte potencial de violências futuras. Trata-se de um indivíduo que atribui muita importância ao pertencimento a um grupo, que considera decisivo para a construção de sua personalidade. 

Portanto, esse indivíduo, na grande maioria das vezes, é oriundo de uma família "desestruturada", no sentido de não ter ocorrido uma educação a partir de "limites". Isso o levou a ver na "força" e "agressividade" a melhor estratégia de resolução de problemas. Como sente-se, em boa parte, humilhado e descontente com sua própria posição, busca a humilhação do outro para evitar o contato com suas próprias fraquezas. Para corroborar esta posição basta vermos a importância atribuída pelo Bully ao "grupo", sem o qual ele parece exatamente do tamanho que é, "pequeno" (a partir daí fica fácil entender que os que seguem o grupo acabam por seguir o superego do líder do grupo, violento).

Nesta composição psíquica, portanto, ele aproxima-se de um "sádico", mas a sua vítima, não necessariamente é um "masoquista" que luta para pertencer ao grupo do qual é excluído. Definir o Bullying a partir de uma relação sado-masoquista não explica muita coisa. Talvez alguns casos. Somente isto. Dizer que a vítima é masoquista e que bastaria, para isso, querer evitar o grupo e o conflito, é, parece-me, atribuir culpa à vítima desta violência. A vítima, no caso, é muito mais uma "caça" para este "predador" que é o Bully.

A violência, ou "agressividade", tão própria do Bullying, é um comportamento que surge desde muito cedo quando buscamos chamar a atenção para nós mesmos, como através de atitudes de ambição e coragem. Se o Bully, então, é um indivíduo agressivo, é porque aprendeu a reagir sempre no contexto de uma competição, de uma disputa, quase sempre para tentar, justamente, evitar uma situação em que ele próprio seja o excluído. Não convive bem com as críticas, além de desejar conquistar a tudo que tem interesse a qualquer preço, numa espécie de "conduta ambiciosa".

Nesse sentido, campanhas educativas pouco resolvem contra aparelhos psíquicos deste tipo podendo, pelo contrário, servir como reforço à ousadia e desafio que os Bully se impõem a todo instante. A experiência é covarde e violenta e deve ser tratada, também, com rigor, sem deixar espaço para impunidades. Afinal, isentá-los de responsabilidade só tornará ainda mais fracos seus superegos que já desconhecem limites. É evidente, por outro lado, que tais Bullys precisam de tratamento terapêutico. O acompanhamento terapêutico psicanalítico se torna indispensável, primeiro para que os envolvidos (praticantes e cúmplices) se dêem conta dos processos que estão vivenciando, e em segundo, por reconhecer-se que estamos lidando com fenômenos mentais e comportamentais recorrentes em busca de um gozo absoluto e, por isso, mortal.

Levando-se em conta este perfil podemos ainda acrescentar que um dos mecanismos sempre presentes na ação do Bully é a "projeção", ou "identificação projetiva", um conceito bem desenvolvido pela psicanalista Melanie Klein que mostra que o indivíduo tenta livrar-se de "partes" de si que considera intoleráveis e as projeta no outro. Trata-se de um mecanismo muito comum em situações psicóticas mas está muito presente, também, nas situações de discriminação e preconceito contra o outro. É sobre esse outro, portanto, que recaem as projeções (como os sentimentos de inferioridade e raiva) e angústias do Bully, na sua impossibilidade de lidar melhor com suas próprias dores.

Enfim, trata-se de uma tentativa de perfil. Não se esgota, evidentemente.