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terça-feira, 13 de maio de 2014

A contra-ofensiva do PT com a volta de "fantasmas do passado"

O interessante, e desafiador, de uma campanha eleitoral é que não há linha "reta", ou seja, está permeada por ofensivas e contra-ofensivas. Aécio apareceu na TV, contou com o crescimento do temor da volta da inflação e capitalizou boa parte dos insatisfeitos que deixaram o apoio à Dilma entre março e maio. Agora vem a contra-ofensiva. Peça de campanha do PT hoje, em rede nacional, dá sequência ao pacote de bondades lançado por Dilma em 1° de maio.

Nada de novo nesta peça de propaganda. A defesa da continuidade é clara. O PT que teria "resgatado" parte da população pobre para o consumo e integrado-a na sociedade mostra para todos o "risco" de um governo do PSDB acabar com tudo isso ("volta de fantasmas do passado"). 

Uma coisa é certa, o PT sabe que há um claro movimento de reação na sociedade por "mudanças" e certo "cansaço" com o governo Dilma. E está contra-atacando com o que tem de melhor até aqui (o alcance das políticas de emprego e incremento do consumo). O tom é melodramático e inspira o "medo"! 

O alcance, porém, me parece limitado ao "reduto" mais tradicional do PT nestes últimos anos e trata-se, salvo engano, de uma tentativa de "reagrupar" o "time principal" (setores pobres que emergiram para o consumo) para, a partir daí contra-atacar em direção a outros setores sociais.

O recado do PT é claro: "ei vocês aí que conseguem trabalhar e se alimentar por nossa causa, fiquem do nosso lado e não se deixem contaminar pela onda de mudanças!"

Daqui a uns dias começam a sair novas pesquisas e já começamos a ver o que aconteceu de fato e como a oposição vai agir novamente!

Tá ficando animado!!!

(José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Dilma não está associada às mudanças necessárias!

A pesquisa do Datafolha, feita ontem, foi a primeira após a "reação" da presidente (anúncio do aumento do Bolsa Família, diminuição do "volta Lula" etc.). Diria o seguinte:

Se a eleição fosse hoje o 2° turno seria "inevitável" (Dilma tem menos votos que a soma dos demais candidatos). Dilma perdeu poucos votos agora pela sua "reação" mas, já é a candidata com maior "rejeição" (35%) e está menos associada à possíveis "mudanças" (Aécio já aparece como o nome mais preparado). 

A continuar neste ritmo, mesmo que atenue sua queda (continua em oscilação negativa) a presidente será vista com cada vez menos "bons olhos". Se a conjuntura econômica não mudar rapidamente, será necessário que o "volta Lula" (Lula ainda é visto mesmo como um "bom reserva") ou aconteça mesmo ou tenha capacidade de transferir apoio pra presidente, do contrário, é esperar que a inauguração de obras e o tempo de TV faça milagre durante a campanha. 

O complicado pra Dilma é que os nomes de Aécio e Campos, que ainda têm muito espaço para aumentar seu "conhecimento" junto ao eleitorado, já estão capitalizando essa "insatisfação" com o governo federal e surgindo com "bons olhos". Parece que dessa vez o PT vai enfrentar uma eleição com uma conjuntura econômica desfavorável, com muitos flancos abertos (corrupção, ineficiência administrativa etc.) e, pior, com candidatos de oposição que "agradam" e são capazes mesmo de capitalizar a insatisfação e o anseio por mudanças.

Enfim, a próxima alteração de conjuntura, ainda antes do início das campanhas, me parece, será com a entrada em cena da Copa do Mundo e as possíveis manifestações. Vamos esperar pra ver como a população se comporta.

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre o discurso da oposição em 2014

Hoje, no seu Twitter, o Gaudêncio Torquato disse não acreditar tanto que o PT comece a acusar a oposição de querer "vender" a Petrobrás. Segundo ele, é um "truque manjado". E é verdade, afinal, foi assim que ocorreu nas duas últimas eleições com o PT insistindo em "colar" no PSDB o carimbo de "privatista". Mas, hoje, a forma como o PT está tentando "reelaborar" a crise da Petrobrás colocando a oposição como interessada na derrocada da empresa sinaliza bem que, na eleição, esse discurso de "salvação" do patrimônio público pode voltar sim, embora seja "manjado". 

A questão é que agora, com 12 anos de administração petista já é bem possível mostrar o tamanho da "INEFICIÊNCIA" da gestão pública (obras inacabadas, gastos excessivos, aparelhamento, crescimento econômico pífio, dificuldades no mercado internacional). Esse discurso pode ser mais forte até que o da "corrupção" (importante por consolidar os votos de classe média). Não acredito em um discurso novo do PT nesta eleição. Virá, como sempre, sustentado no Bolsa Família, crescimento da classe C e, para isso, irá explorar ao máximo (de novo) o "conflito de classes" (ricos x pobres), a "comparação com FHC", e colocar-se como "salvação". Muito difícil a Dilma sustentar-se da ideia de ser uma boa "gerente" ou "mãezona" (estão fragilizados estes discursos)

Então, insisto que o que está fazendo o governo da Dilma "patinar" na popularidade, não é tanto a corrupção quanto a INEFICIÊNCIA, principalmente em não conseguir sustentar a ECONOMIA do país. Isso é que coloca uma grande INTERROGAÇÃO na cabeça do eleitor: o que virá pela frente com mais 4 anos de Dilma? Por que não mudar? O eleitor está começando a "duvidar". Ou seja, O FIEL DA ELEIÇÃO SERÁ AQUELE ELEITOR DE CLASSE C QUE COMEÇA A DUVIDAR DE UM FUTURO TÃO "CERTINHO" COM A DILMA E O PT, E COMEÇA A MOSTRAR-SE DISPOSTO A "ARRISCAR" (mudar).

Acho que se o Aécio e o Campos "puxarem" o debate para o terreno da "eficiência e competência administrativa" e não caírem na cilada do "conflito de classes" as chances da oposição ficam muito fortes. O problema é que as oposições em 2006 e 2010 ficaram sem "discurso". Naqueles momentos, praticamente nada podia bater de frente com o discurso do bolsa família e do crescimento econômico...mas e agora? A conjuntura é bem outra!!! Existe discurso sim!!!

Além do mais, se o Campos tiver uma boa atuação no Nordeste e se o Aécio tiver um vice de São Paulo, a coisa fica imensamente complicada para o PT.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre as "salvacionices" paranóicas no mundo da Política

Em sua sempre interessante coluna no Estadão Roberto Damatta¹ transcreve uma carta que teria recebido do professor e amigo Richard Moneygrand. Trata-se de um intelectual aposentado, norte-americano e "brasilianista" (aliás, como já nos tinha chamado a atenção o prof. Moniz Bandeira², o termo só se aplica aos norte-americanos que pensam o Brasil. Na Europa são chamados de "africanistas"). Moneygrand é um personagem inventado por Roberto Damatta para pensar o Brasil e, desta vez, nos falou sobre um aspecto interessante que está em questão nesta conjuntura político-eleitoral que vivemos: as "resoluções messiânicas" para os nossos problemas.

De acordo com Moneygrand, atuar sobre uma conjuntura de disputa eleitoral deste porte não é nada simples e fácil pois exige atitudes nem sempre confortáveis de um lado ou de outro. Ações, valores e princípios são questionados e a crítica é promovida em alta escala. 

No caso brasileiro, o que estaria sob avaliação seria "uma história transcendental que iria libertar os oprimidos e os miseráveis e os diretores dessa fase tidos como politicamente invencíveis. Para Moneygrand, será inevitável entender-se melhor ("desmascarar") os chamados "salvadores do Brasil" e contrastá-los com a proliferação de escândalos de corrupção, a avidez pelo enriquecimento pessoal e uso de privilégios, e o aparelhamento do Estado para fins de interesse pessoal. 

Ainda segundo Moneygrand, esta seria uma sina brasileira, ou seja, a "crença numa resolução messiânica para todos os seus problemas; daí a atração pelo conceito de "revolução" em toda a latinidade americana". O tema é dos mais interessantes e gostaria de trazer algo da Psicanálise para ajudar no debate sobre o entendimento do poder e seus arredores. 

Se estamos falando de "crença messiânica" estamos nos referindo a algo que, em maior ou menor proporção, está muito próximo dos conceitos de "líder carismático" e de "populismo". Vejamos. Um esclarecimento inicial: A sucessão é para o governo da presidente Dilma, mas não nos enganemos, se há um projeto "messiânico" em questão, como nos sugeriu Moneygrand, ele foi construído pelo ex-presidente Lula, que é, para quem, o nosso olhar deve se voltar. Claro que seria um grande equívoco metodológico tentar trazer o ex-presidente para o divã, mas podemos olhar com atenção os "estilos de atuação na política" e nos arriscarmos a algumas considerações. 

Para isso, Eugène Enriquez (“As Figuras do Poder”), é um exemplo de autor que fornece subsídios teóricos interessantes para entender o campo da política sob o olhar da psicanálise. Segundo ele, o poder tem sempre uma "face" encarnada em um indivíduo ou grupo, e desvelar essa "face" é fundamental para se entender alguns dos motivos das ações e palavras dos agentes políticos. Se olhássemos, então, com atenção, para o estilo de atuação do ex-presidente Lula não seria tão arriscado defini-lo como predominantemente carismático/paranóico. 

Trata-se de um estilo de atuação que está assentado sobre algumas "fantasias". Quais? E de que liderança, então, estamos falando?

·   A fantasia de que a “fala” organiza o mundo – Para este líder, tudo depende, essencialmente, do "discurso". Qualquer dado da realidade parece sem valor diante da "fala" do líder, que a tudo avaliza. Se o discurso é peça fundamental no campo da política, com este líder ele ganha uma relevância exagerada. Ele quer ser ouvido, pois com sua fala, organiza e explica o mundo de acordo com os seus interesses. O viés carismático vem de uma habilidade de ensaiar metáforas populares a todo instante, como, por exemplo, no recorrente uso do futebol pra explicar diversos fatos;

·    A fantasia de que existem “explicações definitivas” – É um líder que não abre mão de suas certezas absolutas. Suas convicções são o espelho de sua "grandeza", e sua mensagem é de "salvação" para a sociedade. É um "messias" que anuncia uma "nova origem" a partir de sua chegada ao poder, como se tudo se explicasse a partir de um "... nunca antes na história desse país...";

·   A fantasia de que há inimigos por toda parte – Neste líder, há uma idealização da imagem de “conspiradores” (a “elite golpista”, a “mídia de direita”, a “classe média egoísta”, os “brancos de olhos azuis”, os “inimigos do povo” etc.). Assim, só existem dois tipos de indivíduos para este líder: aqueles que ele reduz a objetos de sua dádiva e aqueles que precisam ser “destruídos”. Muito comum que esses “inimigos” sejam fabricados pelo próprio discurso deste líder. Um exemplo está na recorrente e obsessiva comparação estatística com tudo o que antecedeu ao governo Lula, especialmente o governo Fernando Henrique Cardoso. Manter esta obsessão pela comparação é fundamental para a existência de sua “liderança” e demarcação de um "território", pois lhe garante uma "identidade" e um “lugar” na política e na vida;

·    A fantasia de ser uma figura “central” no mundo – Coloca-se, então, na posição de “centro” do mundo. Com ele que surge uma nova "lei" (o desprezo ao STF e incapacidade de assumir erros nos falam um pouco dessa quase impossibilidade de sujeitar-se às regras), é uma espécie de "herói criador", um "pai único e verdadeiro", que se pretende "onipotente", sem limites, e livre de qualquer ameaça. Não acredita na história, pois é ele quem a "começa" a partir de sua chegada ao poder;

·  A fantasia de que é necessário “transformar” o mundo – Sua fala traz sempre a "verdade", quase de inspiração divina. O ex-presidente Lula dizia: "...não existe ninguém mais ético do que eu...", e, por vir das classes populares, trazia consigo a "verdade". É com essa "origem" que ele se transforma no “eleito", no "campeão", enfim, no “cara”, como um dia disse Obama;

·     A fantasia de que “tudo é possível” - Para este líder, finalmente, é fundamental criar uma "nova sociedade", afinal "tudo começa" com ele e acredita que, para isso, "tudo é possível" e justificável. É aqui que os delírios encontram espaço para florescer, inclusive aqueles que classificam corruptos como simplesmente “presos políticos”;

Todos nós, individualmente, possuímos traços que nos realçam a persecutoriedade. Alguns um pouco mais. E líderes políticos não escapam, obviamente, a estes traços. Alguns um pouco mais, evidentemente. O ex-presidente Lula, me parece, usou e abusou desse estilo. Não o condeno, afinal, é o seu estilo de atuação na política. Nem diria que foi sempre assim. Um olhar mais detido sobre a evolução de sua postura e discurso políticos mostra que ele transformou-se com o tempo. Mudança significativa, porém, aconteceria no auge da conjuntura crítica do escândalo do mensalão, quando passaria a adotar, de forma frequente, as linhas deste estilo carismático/paranóico. Mas, isso é assunto pra outra conversa.

O interessante é que para manter estas fantasias o líder carismático/paranóico precisa tensionar a sociedade, num permanente conflito entre “nós x eles”. Ele "movimenta" as relações sociais a um ponto tal de conflito que, se não ameaça, por vezes desqualifica e deslegitima, as instituições democráticas. É nesse estímulo ao "conflito permanente" que o líder carismático/paranóico tenta apropriar-se do conceito de "povo" (o único conceito legítimo para ele). Ele se infiltra, profundamente, então, no imaginário popular.

Não se trata, portanto, de um estilo de atuação "essencialmente" democrático. Aliás há muito o que se conversar sobre essa tal "essência" da Democracia. Mas, é decisivo, então, sustentar-se a capacidade crítica, oferecer uma nova possibilidade de recontar a história do país, manter as instituições o máximo livres e independentes. Ou atribuímos à democracia um valor universal, onde o "povo" é transformado em "cidadão" (e não estou dizendo meramente "consumidor"), ou continuaremos nos apegando a “messias” e “salvacionices”, mantendo a nossa sina, como bem assinalada por Moneygrand. 

Olhar, então, para o estilo de atuação dos governantes, e seus pormenores discursivos, pode dar ao campo da política um especial interesse. Neste caso, o que se percebe é um conjunto de fantasias que povoam o líder carismático/paranóico. Moneygrand conclui sua análise lembrando que há uma chance de dispensarmos estes "Messias" mas, desde que comecemos mesmo a "desconfiar que nada neste mundo de Deus pode ser resolvido paulatinamente, a não ser por todos e cada um".
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¹ "Onde Estamos", O Estado de São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2014. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-estamos,1157387,0.htm 
² "Divagações de um brasilianista". Observatório da Imprensa, 04/09/2012, edição 710. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed710_divagacoes_de_um_brasilianista

(José Henrique P. e Silva)

sábado, 22 de junho de 2013

13 equívocos no discurso de Dilma, em 21/06/2013

O Brasil vive um momento muito especial em termo de politização e de discussão pública de temas tradicionalmente circunscritos a especialistas, mídia e atores políticos. O processo começou "não oficialmente" com a retomada da inflação desde o início deste ano e foi adensado por um ritmo de crescimento econômico tão baixo que, no máximo, só consegue manter os níveis de emprego do jeito que estão. 

Havia, portanto, um clima de insatisfação no ar. Lula antecipou o debate eleitoral, ainda em fevereiro, e a oposição mostrou que estava disposta a levar muito a sério a disputa de 2014. Eduardo Campos começou a ocupar espaço na mídia, Marina Silva iniciou a reorganização de seu partido e Aécio Neves conseguiu a união do PSDB em torno de seu nome.

De um lado, um quadro econômico pouco promissor e insatisfação ascendente. De outro, uma oposição animada e ansiosa por 2014. Não deu em outra. A aprovação do Governo Dilma caiu 8 pontos percentuais, com sérias desconfianças sobre sua capacidade de corrigir os problemas econômicos.

Lutando contra a aceleração da inflação, Dilma havia solicitado que as prefeituras e governos não elevassem as tarifas de transporte público no início do ano, e tudo ficou para junho. E assim foi. Subiram as tarifas em junho. Com um histórico de conflitos já acontecidos em algumas capitais brasileiras motivados pela alta das tarifas, surge em São Paulo um movimento de resistência. 

Vem às ruas a luta pela redução da tarifa. Começa a revolta dos R$ 0,20, liderada pelo Movimento Passe Livre, uma pequena organização de extrema-esquerda apoiada politicamente pelo PSOL e PSTU, mas que se define como apartidária. Até aí tudo bem, sua causa é horizontal, enquanto seu posicionamento ideológico é de extrema-esquerda.

De imediato a "causa" dos R$ 0,20 foi amplamente superada por uma lista de causas mais difusas que acabaram por se concentrar na questão do mau uso do dinheiro público e da corrupção. Mas, isso só se deu porque as manifestações deixaram de ser "puxadas" pelo Movimento Passe Livre e a sociedade como um todo ocupou as ruas.

Perdendo o controle de uma situação que visava, politicamente, sitiar o governador de São Paulo, e vendo que a causa das manifestações dirigiam-se, na totalidade, ao Palácio do Planalto e, além disso, saíram de São Paulo e explodiam pelo Brasil afora, o PT, motivado por Lula e seu presidente Rui Falcão, enviam às ruas os militantes do PT. O clima é de disputa de "espaço". Controlando as manifestações o PT diluiria as críticas ao governo federal. 

Não foi o que se deu. Foram mal aceitos nas manifestações e nasceu, daí, o discurso de que a "direita" estava controlando as manifestações, além de todo um "chororô" afirmando que os manifestantes estavam sendo "antidemocráticos" por não aceitar a presença de bandeiras partidárias. Ora, vamos falar sério, o PT tenta desqualificar as manifestações e depois vem querer ocupar um espaço para direcionar as manifestações. O povo não é tão ingênuo Deputado Rui Falcão.

Depois que a população deu seu recado principal e o próprio PT perceber que não tinha muito como "sair dessa", e tendo que enfrentar séria rejeição entre os manifestantes, e, ainda, apostando que as manifestações se desmoralizariam com a violência, a presidente vai às TVs para dar a sua opinião sobre tudo.

Sobre este discurso, aponto 13 grandes equívocos na fala da presidente Dilma, a partir de uma rápida análise de seus sentidos implícitos (1):

1) Discurso esteticamente feio e vazio - A presidente passa muito pouca segurança. Seu discurso não é contínuo, é sempre recortado, como na eterna busca eterna por um sorriso, por uma simpatia, uma expressão mais leve. Suas frases são mal "arrumadas", parecendo não trabalhar bem a pontuação e as necessárias ênfases e tons. Sua expressão está sempre carregada de um nervosismo, que tenta esconder sob uma fala mais "dura", do tipo "gerente". Não é um discurso atabalhoado, mas é um discurso fraco do ponto de vista da comunicação, soando quase sempre como "vazio" por não permitir que fiquem guardados seus pontos principais;

2) Desqualificação das manifestações, vistas como de "jovens" - A presidente fala que as manifestações mostram o desejo da juventude em avançar. Não! Não se trata de um movimento da juventude. Seria se tivesse ficado sob controle do Movimento Passe Livre e se sua pauta se restringisse aos R$ 0,20. Foram as famílias que foram às ruas, foram os adultos que somaram-se a todos os jovens, foram crianças que sentaram no asfalto para pintarem seus cartazes, num imenso aprendizado de cidadania. E mais, associar as manifestações aos "jovens" pé querer, de alguma forma, circunscrevê-la a uma suposta inclinação "natural" do jovem para a rebeldia, primeiro passo para sua desqualificação;

3) Não reconhecimento das manifestações, associadas à baderna - A presidente oscila, permanentemente, entre um reconhecimento das manifestações como legítimas e um "alerta" com relação à violência. A presidente não percebe que uma coisa é a "manifestação" e outra coisa é a ação isolada de "vândalos". Seu não entendimento causa uma confusão conceitual que muito facilmente leva a opinião pública a associar manifestação com violência (nisso, evidentemente, o discurso da presidente é reforçado pela cobertura jornalística). Não à toa, seu curto discurso está repleto de "ameaças": "correndo o risco de colocar muita coisa a perder"; "ouvir dentro dos primados da lei e da ordem"; "fazer isso de forma ordeira e pacífica"; "violência que envergonha o Brasil"; "vamos manter a ordem";

4) Desqualificação das lutas presentes, quando comparadas às lutas passadas - Ao afirmar que "o Brasil lutou muito para se tornar um país democrático" e que "não foi fácil chegar onde chegamos" há uma sobrevalorização das lutas contra a ditadura, sem perceber que a democracia não se conquista simplesmente com a luta contra uma ditadura, mas com sua construção no cotidiano da população. Nesse sentidos, manifestações cidadãs como as atuais são tão os mais importantes que as lutas contra um ditadura. Do contrário, o que terá sobrevivido será sempre uma democracia fisiologista e péssima em termos de representação política. Uma espécie de Democracia sem República. Alguém lembra quando um dos defensores de José Dirceu disse que ele deveria ser absolvido "por tudo que já fez pelo país". Ora, se isto for verdade, na melhor das hipóteses ele é um traidor de suas causas e do próprio país, pois teria lutado em causa própria;

5) Institucionaliza o debate público acerca da política - Todos sabemos que o PT construiu sua história em grande parte nas ruas, com fortes mobilizações, com recusas em assinar a Constituição de 1988, com recusa em aceitar o Plano Real, com fortes ataques aos governantes deste país etc. Ótimo, sem problemas, justamente porque isso mostra que política se faz nas ruas sim. Então, porque a presidente dar mais destaque aos minoritários atos de violência que ao pacifismo das manifestações? Ela simplesmente está adotando a ótica do "poder", ou seja, de quem está no comando e, para quem, a ordem é fundamental. Entretanto, é na desordem que se avança também, e de forma legítima. Como o próprio PT fez em toda a sua história e que, agora, parece perplexo diante de movimentos de massa contra si mesmo;

6) Forte contradição quanto ao uso da força militar - No início das manifestações em São Paulo o Ministro da Justiça veio a público, de forma quase irônica, oferecer ajuda ao governador para "conter" a violência de forma "adequada". Aquele foi o momento de auge do PT pois a questão parecia se canalizar para a "incompetência do governador de SP em lidar com a segurança pública", tema que o PT vai adotar de forma central nas eleições do próximo ano aqui em São Paulo. mas, quando a coisa saiu do controle ressurge o "discurso de ordem" e de intolerância". O que o Governo Dilma pensa, de fato, sobre a segurança pública? Isso é uma incógnita;

7) Pega carona nas manifestações, sem nenhuma auto-crítica - Ao querer aproveitar o "vigor" das manifestações diz que sua pauta ganhou prioridade nacional. Mas, como? Vai haver um combate à PEC 37? O que vai ser feito contra a corrupção? Nada disso foi dito. trata-se de uma "apropriação" meramente ideológica, vazia de conteúdo e sem qualquer possibilidade de resposta futura em termos de atendimento às causas levantadas. Pior, em nenhum momento a sua fala reconhece algum problema, algum erro. Diz que "não abre mão" do combate à corrupção e desvio de recursos públicos, mas o que faz, de fato, contra isso? Era esse o ponto central do seu discurso e só ocupou duas linhas ou poucos segundos;

8) De novo, a promessa de melhorias - O PT se elegeu à Presidência, em 2002, com um fortíssimo discurso de "esperança", assentado, fundamentalmente, nas questões da educação, segurança e da saúde. O que foi feito, de fato? O que mudou, qualitativamente falando? O que mudou em termos de gestão? Conversar com governadores e parlamentares em busca de um "pacto"? O que é isso, de fato? 11 anos de governo petista e nada significativo na área de saúde e educação? Inacreditável!

9) Transferência do problema para "terceiros" - Colocou a responsabilidade sobre a aprovação dos 100% de recursos do petróleo nas mãos do Congresso. É um ultimato, novamente? Disse que vai trazer "milhares de médicos do exterior". Que oportunismo! Por que não discutiu essa questão ao longo dos 11 anos em que o PT está no poder?

10) Demagogia - A presidente diz que vai receber os líderes das manifestações. Que líderes? estes, que diante da pressão petista, recuaram e disseram não mais convocar nenhuma manifestação? Vai transferir mais recursos públicos para eles? E a reforma política, vai ter mesmo prosseguimento? Ou trata-se de um discurso que, mais uma vez, só é muito bom para ser usado nos momentos em que os políticos estão sob fogo cerrado? O que a presidente vai, de fato, propor em termos de reforma política para garantir maior cidadania? Ela já sabe das dezenas de propostas que existem no Congresso Nacional? Já ouviu falar sobre o "Voto Distrital"?

11) Cinismo I ? - Dizer que a transparência é o melhor combate à corrupção e "fechar" o acesso aos gastos com viagens da comitiva presidencial não é bem o que se entende por uma fala coerente. Ou é má-fé ou uso indevido da paciência dos outros;

12) Cinismo II ? - Dizer que o dinheiro público (e não do "Governo Federal") gasto com os estádios é fruto de financiamento e que vai ser devolvido pelas empresas é brincar com a racionalidade dos que conhecem a história dos "perdões" de recursos públicos em nome do "interesse nacional". É preciso, sobre isso, um discurso mais claro, duro e transparente acerca dos reais benefícios que a Copa vai deixar para o país, de como esses recursos serão devolvidos e das razões para tanto atraso nas obras e liberação de recursos sem licitação;

13) O momento de "jogar com a platéia" - É próprio do discurso político apelar a "brincadeirinhas" para aliviar a pressão do momento. Lula foi o maior entre todos nesta "arte". Agora, apelar à nossa "alma" e nosso "jeito de ser" futebolístico ao dizer que participamos de todas as copas, ganhamos cinco delas e sempre fomos bem recebidos em todo lugar, é demais! Acho que 95% dos intelectuais petistas sempre foram radicalmente contrários ao uso ideológico do futebol na política. Por que isso agora? É a "Pátria de Chuteiras" de volta? O PT não consegue ser mais inteligente que isso? Para fechar, nada mais ideológico que dizer "... o Brasil fará uma grande copa...";

OK, presidente, podemos até tirar a camiseta branca das manifestações e vestir a amarela da seleção brasileira. Mas, coloque-se no lugar da população e veja se este seu pedido tem o mínimo de coerência, dada a urgência de resposta do Governo Federal às necessidades sociais e efetivo combate à corrupção. Ah, e por favor, peça a seus assessores e intelectuais para pararem de classificar de "udenismo moralista" a luta dos que são contra a corrupção, afinal, o dinheiro que lhe paga, e aos seus assessores, é nosso, do povo brasileiro.

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Todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.

Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder.

Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.

O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.

Brasileiras e brasileiros,

As manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças, mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.
A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros.

Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.
Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão.

Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar.
Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.

O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS.

Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.

Brasileiras e brasileiros,

Precisamos oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.

Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes.

Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos os poderes da República e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. Aliás, a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.

Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.

Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso Nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação.

Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria, é assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacífica entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.

Minhas amigas e meus amigos,

Eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça.

Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.

Boa noite!