Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 13 de maio de 2014

O escândalo político e o discurso cínico!

Foi no dia 14 de maio de 2005, há exatos 9 anos, que a edição 1905 da revista Veja chegou às bancas com uma discreta chamada no cabeçalho mas com uma longa matéria revelando o que viria a se transformar no maior escândalo político-midiático da República recente: O escândalo do mensalão. Talvez a maior herança deste escândalo tenha sido a legitimação, em sua completa magnitude, do chamado "DISCURSO DO CÍNICO". O que é isto?

É exatamente o "discurso do cínico" que faz com que um escândalo seja tão pouco escandaloso e faça prevalecer a crença de que, ao final, tudo acabe em "pizza" e que só reste a equação: "eu sei que ele sabe que eu sei". 

O grande trunfo de um escândalo é a "confissão", é isso que o transforma em algo verdadeiramente devastador. Quando a Revista Veja trouxe a denúncia de corrupção nos Correios só se inaugurou o que chamamos de "pré-escândalo". Só com a entrevista de Roberto Jefferson (06 de maio) e sua "confissão" surge  a fase do "escândalo propriamente dito". Mas sempre faltou algo: Lula nunca admitiu!

Ele sabe que é a da confissão que todos precisam. O reverendo Eymerich, no "Manual dos Inquisidores" (1376), já nos dizia da importância da "confissão". Enquanto o segredo não se tornar transparente o culpado ainda não se sente devassado pelo olhar do outro que o acusa. Neste aspecto Lula foi e é mestre! Jamais admitiu e, mesmo quando vacilou numa quase admissão de culpa, logo reagiu com um discurso contrário.

O "eu não sabia", portanto, virou o grande lema e a grande incógnita do escândalo do mensalão. É aquele "buraco" que ainda não foi devidamente tapado. Por isso Lula sempre aposta em que "a história mostrará a verdade". É daí que brota o "discurso do cínico", dessa incapacidade de admissão, desse esconder-se no segredo e na não revelação, no não reconhecimento da culpa. Ter algo a esconder é próprio do cinismo.

Mas, Lula talvez seja só a expressão maior de uma época em que a "ética da malandragem" instaura e legitima, como nunca, a ordem dos "espertos" e do "jeitinho". O seu "EU NÃO SABIA" marcou época, fez escola e nos colocou, definitivamente, no interior do "discurso do cínico".

Como nos diz, de forma incisiva, o psicanalista Ricardo Goldenberg ("No Círculo Cínico", ed. Relume Dumará, 2002), o homem moral de Kant está obsoleto, é um "otário" e quase ninguém mais quer habitar sua moradia. Rejeitamos a internalização da Lei e das Regras e a substituímos pela fé cega de que há sempre um "jeito" de sermos uma "exceção". O que vivemos é uma tremenda crise do superego e nenhum modelo vinculado às leis e regras parecem ser suficientes para determinar nossa subjetividade e domar nossos desejos.

Vivemos em uma época em que o cinismo se transformou na caricatura da moral Iluminista evidenciando sua possível falência, pois estamos sempre invocando normas universais e, ao mesmo tempo, promovendo sua transgressão. Como nos diz Goldenberg "o cinismo consiste no conjunto de operações que preservam oculto o hiato entre os princípios e a prática que os contradiz"

Os canalhas se deleitam em nossa época! Todos, imersos em culpa, não a reconhecem e levantam os punhos afrontando a justiça e a todos. Quanto a isso, temos muito o que agradecer ao ex-presidente Lula!

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A conversa dialógica e o "fetichismo da informação" no mundo da política

Estava pensando um pouco sobre o que é mais importante numa conversa, se fazer afirmações ou escutar? Quem já não se questionou sobre isso? Basta lembrar situações em que estamos, por exemplo, numa mesa de bar com amigos onde todos falam ao mesmo tempo e buscam impor seus argumentos, ou quando estamos ouvindo a quem admiramos e parecemos não questionar nem um pouco o que a pessoa diz. 


Nos dois casos há o domínio do que se chama de "fetiche da informação", ou seja, aquela ilusão de que só o que falamos e afirmamos é que tem importância e os demais devem simplesmente ouvir e ficar quietos. Nesses casos não há conversa alguma, só imposição de argumentos, de um lado ou de outro.

Na conversa "dialógica" não temos, necessariamente que chegar a "acordo" algum que signifique a eliminação do "outro", não temos que nos "confrontar" para eliminar um argumento, nela temos que exercitar a capacidade de "escutar" principalmente. Diria que esta é a conversa democrática por excelência, pois o mais importante não é "vencer" um debate, mas "escutar", trocar, se conscientizar mais do próprio ponto de vista e ampliar a compreensão entre todos que conversam. Bem, pode até ser a conversa de tipo mais "democrático", mas não me perguntem se, de fato, é este tipo de conversa que ocorre numa democracia, ou mais especificamente no mundo político.

Seja no interior dos parlamentos, seja na relação com a mídia, a política praticamente desconhece a conversa dialógica. Em momentos de disputa eleitoral, nem pensar. A questão é o confronto direto e tudo cede lugar ao marketing. Ok, essas são as regras! O discurso político está mesmo reduzido ao "mínimo possível", ou seja, quanto menos palavras maior a chance de ser internalizado. Vivemos uma era de informações rápidas, multiplicadas, mas com pouquíssima substância e nenhuma disponibilidade para o debate. É de se pensar onde, e em que espaços a conversa "dialógica" está sobrevivendo! Na mídia? Nas Universidades? Não sei! Cada vez tenho menos ideia disso!

O fato é que, no mundo da política, mesmo de deixarmos de lado os momentos de confronto (como as disputas eleitorais) vemos que a conversa dialógica está cada vez mais ausente, mesmo naquelas pequenas reuniões partidárias onde todos teriam que ter a chance de falar e de, principalmente, saber escutar. Aí complica tudo! Como dar legitimidade às decisões "coletivas"? Essa é uma boa pergunta para a democracia responder!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre as "salvacionices" paranóicas no mundo da Política

Em sua sempre interessante coluna no Estadão Roberto Damatta¹ transcreve uma carta que teria recebido do professor e amigo Richard Moneygrand. Trata-se de um intelectual aposentado, norte-americano e "brasilianista" (aliás, como já nos tinha chamado a atenção o prof. Moniz Bandeira², o termo só se aplica aos norte-americanos que pensam o Brasil. Na Europa são chamados de "africanistas"). Moneygrand é um personagem inventado por Roberto Damatta para pensar o Brasil e, desta vez, nos falou sobre um aspecto interessante que está em questão nesta conjuntura político-eleitoral que vivemos: as "resoluções messiânicas" para os nossos problemas.

De acordo com Moneygrand, atuar sobre uma conjuntura de disputa eleitoral deste porte não é nada simples e fácil pois exige atitudes nem sempre confortáveis de um lado ou de outro. Ações, valores e princípios são questionados e a crítica é promovida em alta escala. 

No caso brasileiro, o que estaria sob avaliação seria "uma história transcendental que iria libertar os oprimidos e os miseráveis e os diretores dessa fase tidos como politicamente invencíveis. Para Moneygrand, será inevitável entender-se melhor ("desmascarar") os chamados "salvadores do Brasil" e contrastá-los com a proliferação de escândalos de corrupção, a avidez pelo enriquecimento pessoal e uso de privilégios, e o aparelhamento do Estado para fins de interesse pessoal. 

Ainda segundo Moneygrand, esta seria uma sina brasileira, ou seja, a "crença numa resolução messiânica para todos os seus problemas; daí a atração pelo conceito de "revolução" em toda a latinidade americana". O tema é dos mais interessantes e gostaria de trazer algo da Psicanálise para ajudar no debate sobre o entendimento do poder e seus arredores. 

Se estamos falando de "crença messiânica" estamos nos referindo a algo que, em maior ou menor proporção, está muito próximo dos conceitos de "líder carismático" e de "populismo". Vejamos. Um esclarecimento inicial: A sucessão é para o governo da presidente Dilma, mas não nos enganemos, se há um projeto "messiânico" em questão, como nos sugeriu Moneygrand, ele foi construído pelo ex-presidente Lula, que é, para quem, o nosso olhar deve se voltar. Claro que seria um grande equívoco metodológico tentar trazer o ex-presidente para o divã, mas podemos olhar com atenção os "estilos de atuação na política" e nos arriscarmos a algumas considerações. 

Para isso, Eugène Enriquez (“As Figuras do Poder”), é um exemplo de autor que fornece subsídios teóricos interessantes para entender o campo da política sob o olhar da psicanálise. Segundo ele, o poder tem sempre uma "face" encarnada em um indivíduo ou grupo, e desvelar essa "face" é fundamental para se entender alguns dos motivos das ações e palavras dos agentes políticos. Se olhássemos, então, com atenção, para o estilo de atuação do ex-presidente Lula não seria tão arriscado defini-lo como predominantemente carismático/paranóico. 

Trata-se de um estilo de atuação que está assentado sobre algumas "fantasias". Quais? E de que liderança, então, estamos falando?

·   A fantasia de que a “fala” organiza o mundo – Para este líder, tudo depende, essencialmente, do "discurso". Qualquer dado da realidade parece sem valor diante da "fala" do líder, que a tudo avaliza. Se o discurso é peça fundamental no campo da política, com este líder ele ganha uma relevância exagerada. Ele quer ser ouvido, pois com sua fala, organiza e explica o mundo de acordo com os seus interesses. O viés carismático vem de uma habilidade de ensaiar metáforas populares a todo instante, como, por exemplo, no recorrente uso do futebol pra explicar diversos fatos;

·    A fantasia de que existem “explicações definitivas” – É um líder que não abre mão de suas certezas absolutas. Suas convicções são o espelho de sua "grandeza", e sua mensagem é de "salvação" para a sociedade. É um "messias" que anuncia uma "nova origem" a partir de sua chegada ao poder, como se tudo se explicasse a partir de um "... nunca antes na história desse país...";

·   A fantasia de que há inimigos por toda parte – Neste líder, há uma idealização da imagem de “conspiradores” (a “elite golpista”, a “mídia de direita”, a “classe média egoísta”, os “brancos de olhos azuis”, os “inimigos do povo” etc.). Assim, só existem dois tipos de indivíduos para este líder: aqueles que ele reduz a objetos de sua dádiva e aqueles que precisam ser “destruídos”. Muito comum que esses “inimigos” sejam fabricados pelo próprio discurso deste líder. Um exemplo está na recorrente e obsessiva comparação estatística com tudo o que antecedeu ao governo Lula, especialmente o governo Fernando Henrique Cardoso. Manter esta obsessão pela comparação é fundamental para a existência de sua “liderança” e demarcação de um "território", pois lhe garante uma "identidade" e um “lugar” na política e na vida;

·    A fantasia de ser uma figura “central” no mundo – Coloca-se, então, na posição de “centro” do mundo. Com ele que surge uma nova "lei" (o desprezo ao STF e incapacidade de assumir erros nos falam um pouco dessa quase impossibilidade de sujeitar-se às regras), é uma espécie de "herói criador", um "pai único e verdadeiro", que se pretende "onipotente", sem limites, e livre de qualquer ameaça. Não acredita na história, pois é ele quem a "começa" a partir de sua chegada ao poder;

·  A fantasia de que é necessário “transformar” o mundo – Sua fala traz sempre a "verdade", quase de inspiração divina. O ex-presidente Lula dizia: "...não existe ninguém mais ético do que eu...", e, por vir das classes populares, trazia consigo a "verdade". É com essa "origem" que ele se transforma no “eleito", no "campeão", enfim, no “cara”, como um dia disse Obama;

·     A fantasia de que “tudo é possível” - Para este líder, finalmente, é fundamental criar uma "nova sociedade", afinal "tudo começa" com ele e acredita que, para isso, "tudo é possível" e justificável. É aqui que os delírios encontram espaço para florescer, inclusive aqueles que classificam corruptos como simplesmente “presos políticos”;

Todos nós, individualmente, possuímos traços que nos realçam a persecutoriedade. Alguns um pouco mais. E líderes políticos não escapam, obviamente, a estes traços. Alguns um pouco mais, evidentemente. O ex-presidente Lula, me parece, usou e abusou desse estilo. Não o condeno, afinal, é o seu estilo de atuação na política. Nem diria que foi sempre assim. Um olhar mais detido sobre a evolução de sua postura e discurso políticos mostra que ele transformou-se com o tempo. Mudança significativa, porém, aconteceria no auge da conjuntura crítica do escândalo do mensalão, quando passaria a adotar, de forma frequente, as linhas deste estilo carismático/paranóico. Mas, isso é assunto pra outra conversa.

O interessante é que para manter estas fantasias o líder carismático/paranóico precisa tensionar a sociedade, num permanente conflito entre “nós x eles”. Ele "movimenta" as relações sociais a um ponto tal de conflito que, se não ameaça, por vezes desqualifica e deslegitima, as instituições democráticas. É nesse estímulo ao "conflito permanente" que o líder carismático/paranóico tenta apropriar-se do conceito de "povo" (o único conceito legítimo para ele). Ele se infiltra, profundamente, então, no imaginário popular.

Não se trata, portanto, de um estilo de atuação "essencialmente" democrático. Aliás há muito o que se conversar sobre essa tal "essência" da Democracia. Mas, é decisivo, então, sustentar-se a capacidade crítica, oferecer uma nova possibilidade de recontar a história do país, manter as instituições o máximo livres e independentes. Ou atribuímos à democracia um valor universal, onde o "povo" é transformado em "cidadão" (e não estou dizendo meramente "consumidor"), ou continuaremos nos apegando a “messias” e “salvacionices”, mantendo a nossa sina, como bem assinalada por Moneygrand. 

Olhar, então, para o estilo de atuação dos governantes, e seus pormenores discursivos, pode dar ao campo da política um especial interesse. Neste caso, o que se percebe é um conjunto de fantasias que povoam o líder carismático/paranóico. Moneygrand conclui sua análise lembrando que há uma chance de dispensarmos estes "Messias" mas, desde que comecemos mesmo a "desconfiar que nada neste mundo de Deus pode ser resolvido paulatinamente, a não ser por todos e cada um".
_____________

¹ "Onde Estamos", O Estado de São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2014. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-estamos,1157387,0.htm 
² "Divagações de um brasilianista". Observatório da Imprensa, 04/09/2012, edição 710. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed710_divagacoes_de_um_brasilianista

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 15 de abril de 2014

O terrorismo e sua nova estética: todos estamos em risco

Esta semana completa 1 ano do atentado à maratona de Boston (EUA) e nunca é demais comentar um pouco sobre o tema. Este atentado me fez lembrar, à época, que talvez a era do terrorismo com "endereço certo" talvez já tenha mesmo acabado e Bin Laden talvez tenha sido seu último grande representante. Hoje o terrorismo está em qualquer lugar e não necessariamente em um país "miserável e ditatorial" da África ou da Ásia. Está em todo lugar e qualquer um de nós pode ser o seu alvo.

Aqueles dois jovens irmãos representam a face mais nova desse terrorismo. Não precisaram de muita coisa para fazer o estrago que fizeram, apenas um bom suporte "ideológico". Mais do que nunca são "pessoas comuns", como eu e você, que estão agindo assim. Por isso espanta a todos ouvir estórias do tipo: "eles eram bons garotos", "pareciam tão normais", "eram bons vizinhos e bons alunos". E o amadorismo deles (bomba caseira, despreocupação em serem filmados, fuga atrapalhada) só atesta esta tese. 

São pessoas comuns sim! E isso só nos deixa ainda mais preocupados. Fica fácil entender quando a população de Boston "comemorou" o fim da "caçada" à dupla de irmãos. É só isso que pôde resgatar um pouco mais da sensação de segurança por lá (aconteceu o mesmo quando Bin Laden foi morte e já havia acontecido também quando o WTC foi atacado). Nós por aqui, no Brasil, não sabemos e não temos elementos para avaliar e julgar isso corretamente. Então não podemos nos apressar em criticá-los, pois eles estão no olho do furacão e nós, nem de longe, sabemos o que isso significa na pele.

Mas, nada disso é tão novo assim. Sempre lembro, quando penso neste assunto, de um texto de Miguel Chaia, um ex-professor meu na PUC-SP¹. De acordo com Chaia, experimentamos, hoje, uma "estética da vulnerabilidade", traduzida na relação entre arte e guerra. Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, autores de tragédias gregas, em seus “lamentos nascidos no dilaceramento da alma humana e na difícil sociabilidade” já apontavam para o significado que a violência tem sobre a sociedade e o destino das pessoas. Mais à frente, Shakespeare nos mostraria um novo tipo de tragédia onde o “ser” é também frágil diante de conflitos internos. Para ele, a história seria cíclica, num eterno continuum entre guerra e paz, com o outro e consigo mesmo. Segundo o professor Chaia, a política não detém a tragédia, afinal:
O campo social está permanentemente aberto às contingências e o pretenso controle que se objetiva alcançar politicamente com freqüência transforma-se em um inusitado descontrole social. O inesperado pode se abater a qualquer instante sobre os homens.
Ou seja,
a esfera do político, em vez de representar o controle do espaço público, deve ser compreendida como o lugar do confronto permanente entre o homem e seu destino, como o lócus dos conflitos intermináveis. Os riscos e as desgraças são inerentes não somente à vida, mas também às condições da ação política. Os acontecimentos trágicos são aqueles que reafirmam a conexão entre o (nosso) destino individual e o destino coletivo.
Ora, ninguém vive isolado no mundo, e é nesse encontro do homem com o mundo que a Arte aprofunda sua dimensão política, fazendo surgir uma nova estética essencialmente midiática. É assim que o terrorismo muda de face e entra neste círculo de visibilidade ganhando expressividade e mostrando que vivenciamos uma vida cada vez mais “trágica”, onde uma explosão é repetida mil vezes, nos trazendo essa mensagem: estamos sob risco, cada um de nós está em risco. É neste contexto de "medo" que engendramos uma nova sociabilidade cotidiana, marcada pela instabilidade, pela fragilidade da vida e pelas respostas violentas por parte da própria população (os "amarrados em postes" estão aí para evidenciar esta nossa "insegurança cotidiana").

E mais, nessa nova estética terrorista (que não é mais a da "guerra"), não temos mais a presença do Estado, dos campos de batalha, das ideologias, das utopias, dos novos homens. Não há mais como sonhar com a beleza, o igualitarismo, o progresso, enfim. Parece só ter restado mesmo a destruição coletiva.
A estética do terrorismo tem na imagem sua principal estratégia de disseminação. É no ato espetacular transmitido pelos canais midiáticos, como a internet, a televisão e a imprensa, que ele encontra sua eficácia e força. Basicamente, a cidade é o seu principal alvo, tornando as metrópoles mundiais as melhores caixas de ressonância de suas práticas violentas.
É esta nova estética que atinge nossa retina (e rotina também), formando nossa subjetividade, cada vez mais marcada pelo medo, e pela intolerância. É a partir desta nova estética que a estética da política vai se construindo no cotidiano, marcada pela inevitabilidade dos conflitos insolúveis e a “impossível” sociabilidade.

Dessa forma,
a estética da guerra foi superada, dando lugar à experiência do confronto entre sistema e bandos, que demonstraram que esse sistema não é impenetrável. Nessas condições, a cultura da violência encontra seu par complementar na cultura do ódio, a mídia do entretenimento tem continuidade na mídia em transe, e a irracionalidade das massas pontua-se pela mutilação individual e coletiva.
De uma forma, direta ou indireta, participamos do reality show, do espetáculo, ao vivermos cotidianamente a absorção destas novas estéticas do terrorismo e da política, seja como vítimas, seja como espectadores. Afinal,
Se o indivíduo não for atingido na rua, com certeza a eficácia política do terror o alcançará na rede da internet ou na rede de televisão. Assim é que a estética do terrorismo é dada na descoberta da instabilidade e da fragilidade da vida e na construção da insuficiência e da limitação da política.
Culpa dos meios de comunicação de massa? Não sei! Os terroristas buscam a mídia para o deleite dos resultados de seus atos, e nós a buscamos para deleite de nossas ansiedades e entender (ou manter) nossos medos. Não há glória alguma! Não há vencedores! Todos perdemos! Embora alguns ganhem (poder e audiência) com essa tragédia toda.
_______________

¹ CHAIA, Miguel. Arte, Política e Explosão. In: Revista Cult, n. 95, set/2005, ano 8, p. 59-63. O autor é professor do Departamento de Política e da Pós-Graduação em Ciências Sociais e pesquisador do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da PUC-SP.

domingo, 13 de abril de 2014

Política: Tão próxima dos vícios...e distante das virtudes!

"Política é cálculo e oportunidade, paixão e frieza... É ação coletiva: carreiras solo dificilmente progridem e o companheirismo, as lealdades, as amizades pesam de forma determinante..." (prof. Marco Aurélio Nogueira, Caderno Alias do Estadão, 13.04.14)

Esta frase do prof. Marco Aurélio, de quem sou admirador, chama a atenção para algo virtuoso na política que é a capacidade de projetar o futuro num quadro de responsabilidades mútuas. Mas, como as melhores definições de política não encontram respaldo na realidade ou, quando encontram, é como farsa, o que seria essa "lealdade" ou "companheirismo" no dia a dia do mundo da política? Pra isso, recorro ao primeiro episódio da série "House of Cards" quando o político e protagonista Frank Underwood (Kevin Spacey) nos diz o seguinte: 
"...Sou apenas o líder da maioria da Câmara. Faço tudo funcionar num Congresso sufocado por mesquinharia... Meu trabalho é limpar os canos e fazer o lodo fluir, mas não vou ser encanador por muito tempo, já cumpri meu tempo e apoiei o cara certo...RECIPROCIDADE, bem vindos a Washington".
É nesse sentido que muito da legítima e necessária lealdade e companheirismo se transforma, na prática, em fisiologismo, oportunismo e vantagens pessoais. Este é o mundo "real" da política, sempre muito distante das virtudes e próximo dos vícios. Por isso é sempre recomendável nunca deixar de ler Maquiavel, ele nos ensinou mais sobre política que toda a filosofia e a ética.

(José Henrique P. e Silva)

O link abaixo é o do artigo (muito bom) do prof. Marco Aurélio.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Como lidar com a ausência do "poder"?


"Alguém que deixa o poder defronta-se antes de tudo com o fantasma daquilo que perde: os rituais, a vida distinta, os mimos e mesuras dos subordinados, o conforto do palácio. Precisa se acostumar com os ruídos alheios e esquecer o som da própria voz. Há quem diga que sente certo alívio ao voltar ao anonimato e se libertar da agenda carregada, das liturgias cansativas, do excesso de exposição. Mas a ausência disso pode se assemelhar a uma crise de abstinência, que termina por levar o ex-poderoso à busca inglória de um lugar ao sol semelhante ao que desfrutava nos dias de fausto" (Marco Aurélio Nogueira, prof. de Teoria Política da Unesp - O Estado de S. Paulo, 27/03/11, Aliás, J3).
Acredito nos que dizem ser um alívio, pois para este o poder pode ter machucado e ferido sua estrutura de personalidade, seu caráter, mas também acredito nos que dele sentem falta, como numa abstinência, pois para estes o poder servia como um sentido para sua vida, o eixo estruturante de sua personalidade e, sem o poder, como podem sobreviver sendo "mais um", como deixar de sentirem-se "nada" sem o poder? estão prontos para a separação? É claro que isto serve para nosso cotidiano, onde sempre imaginamos que a "posse" de algo é que nos alivia de nossas ansiedades ou angústias mais profundas. Precisamos aprender a "perder", a nos "separarmos", a nos depararmos com nós mesmos.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Precisamos ser humilhados pela mídia e pela política?

"...Me deixei maltratar por pessoas que não eram melhores que eu em caráter ou capacidade..." (F. S. Fitzgerald, escritor).

Folheando alguns recortes me deparei com uma coluna da Márcia Tiburi (Cult, mar/2013) onde ela cita a frase acima para servir de exemplo para o necessário "esforço de resistência" em entender as estruturas que nos humilham, e resistir à subserviência. A frase, porém, implica...
algo muito forte, ou seja, a tomada da consciência de si, do valor próprio, para que possamos deixar de crer em um destino infeliz que tenta se impor de forma inexorável. Mas, então, a partir de onde estamos sendo humilhados?

Márcia nos dá dois exemplos: o da política e o mídia que, voltada em grande parte para uma indústria cultural e de entretenimento de mau gosto*, brinca com a inteligência e sensibilidade das pessoas, com sua programação desrespeitosa e ignorante. Sobre a política nos diz o seguinte: "...a política de nosso tempo não é mais política porque, em vez de ser laço em que as relações entre indivíduos e instituições são valorizadas constituindo a ação capaz de dar sustentabilidade à sociedade, se transformou no gesto de negar o outro, o gesto antipolítico por excelência...".

Ora, sempre entendi que a "política", conceitualmente falando, tem uma forte capacidade agregadora. Ela junta, reúne, estimula o debate, motiva à ação. É isso que lhe permite criar um "laço" social, dando a sustentabilidade à sociedade de que Márcia Tiburi fala. Mas, na prática, e cada vez mais no tempo atual, o que se vê é a desmoralização da vida política e sua transformação em um campo onde lobos devoram homens, onde domina o preconceito, a mentira, o cinismo e a violência. O político, antes um "representante", cada vez mais nos humilha com suas atitudes (corrupção e descaso, principalmente). Esta, infelizmente, tem sido a regra. A politica tem sido o campo do "impossível". Recuperar este conteúdo da política, enquanto "laço", é fundamental. Mas, para isso, não esperemos por "políticos bonzinhos". Temos que refletir sobre o que F.S. Fitzgerald nos fala na frase acima e...reagir, não permitindo humilhações. Algumas coisas nós podemos fazer sim!

________

(*) sei que este termo é "perigoso" e soa elitista, mas é o único que encontro agora para definir uma programação que, longe de ser "popular", não passa de pornográfica, insultuosa, e que não nos exige mais do que apertar o botão que liga e desliga a TV. Vivemos, ou não, uma forte época de "rebaixamento cultural"?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A "interação" (e a responsabilização) na base do conceito de Política

Conceituar "política", como nos diz Iain Mackenzie¹, já é assumir uma determinada posição política. Apesar das dificuldades, entretanto, ele nos oferece um bom caminho para se pensar um conceito de política, claro que sem qualquer pretensão de esgotar o assunto. 

A política seria uma "atividade", realizada em "conjunto", em "interação", visando a "solução" de "problemas" (divergências, conflitos, bem comum), através de "consensos" e maiorias (o que implica cooperação) que resultem em "normas" e padrões comuns a todos. Em síntese,
Política tem a ver não só com discordâncias sobre se a política trata da resolução de conflitos ou da cooperação em prol de valores comuns, mas tem a ver com o que somos: será que "nós" somos agentes individuais em controle dos próprios interesses, desejos, valores, costumes, e assim por diante, ou será que "nós" somos indivíduos profundamente moldados pela maneira como essas coisas são transmitidas em termos de prática e estrutura social (p. 16).²
Me parece que existe aí uma questão acerca de nossa "RESPONSABILIDADE" sobre a política e seus resultados. De qualquer forma, em uma definição deste tipo a "política" escapa ao campo meramente institucional e ganha uma dimensão de "interação" e "cooperação". Isso faz com que tenhamos a oportunidade de pensar a ação política como resultado não somente da ação de atores institucionais (parlamentos, políticos, partidos, lideranças etc.) mas, fundamentalmente, a partir das mais simples interações no cotidiano.
O que fica de lição? Que não se pode ficar esperando que a solução de problemas ou a adoção de medidas que favoreçam o bem comum venham somente das instituições e governos. Essas agem, em grande parte, sob a pressão, que nelas se reflete, oriunda de outros atores da opinião pública (imprensa, grupos organizados e a própria opinião pública). Abdicar a esta concepção de política significa ficar refém de concepções que negam ao indivíduo sua responsabilidade sobre seu destino. Exemplos? Populismos demagógicos e autoritarismos de toda espécie, seja de "esquerda" ou de "direita" (confesso que não coloco uma unha no fogo por estes conceitos).
A política, então, só se torna "perversa" quando é abandonada pelos cidadãos e deixada aos "especialistas" e "técnicos". Não à toa, hoje em dia, quando cidadania e emancipação são, em grande parte, entendidas como "bem-estar material" (consumismo) vivemos um momento de "refluxo" do interesse pela política e, em consequência, maior possibilidade de "aventuras populistas" dentro da "democracia". Se não nos mantivermos, portanto, em permanente contato, em interação sobre os rumos de nossa política, como poderemos nos queixar quando intervierem negativamente em nossos destinos?

Se na psicanálise clínica nos utilizamos do conceito de "responsabilização" para enfatizar que somos, nós mesmos, os principais responsáveis por nossas atitudes e por nossos dramas, porque não extrapolar esse conceito para o campo da política, através da "interação social". É nesse espaço de interação que se constrói e se mantém, portanto, uma mútua responsabilidade sobre nosso destino, tanto individual, quanto coletivo, se é que é possível pensar nesta divisão.

Assim, tanto no campo de nossas ações individuais, quanto no campo das interações para a ação política, não conquistamos nossa liberdade sem o preço da responsabilidade. Desfrutar de uma liberdade sem responsabilidade seria, simplesmente, ceder a um espaço inconsciente de gozo absoluto, destrutivo, absolutamente narcísico, e incapaz de gerar laço social.

Não precisamos negar a política, mas podemos negar as formas como ela vem sendo praticada e entregue nas mãos de supostos "especialistas" e "técnicos" que, encastelados em suas "instituições" se colocam como benfeitores e "protetores" do povo. É preciso ter cuidado com isso, pois cada vez que acreditamos em um "herói" abdicamos um pouco mais de nossa própria força.

___________
¹ MACKENZIE, Iain. Política: conceitos-chave em filosofia; tradução: Nestor Luiz João Beck. - Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 9-17.
² Neste ponto, o autor nos parece falar de uma dicotomia entre um sujeito "individual e racional" versus um sujeito que "resulta do social". É um momento muito interessante pois talvez aqui precisemos recorrer à Psicologia Social para nos apegarmos a uma concepção de sujeito que, ao mesmo tempo que possui sua singularidade individual, vai formando-se e ganhando especificidade justamente na interação social. A dicotomia, portanto, pode revelar-se falsa.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pierre Bourdieu (Dossiê - Revista Cult 166/2012)

Impossível não registrar algo acerca do dossiê preparado pela Revista Cult (n. 166, março 2012) para relembrar alguns conceitos de Pierre Bourdieu neste momento de 10 anos de sua morte (1930-2002). Uma justa homenagem a um dos maiores intelectuais do século XX, principalmente num momento em que, como diz Daysi Bregantini (editora da Cult),
nossos poucos intelectuais públicos são desmotivados, assim como nossos bons criadores. A economia vive um momento inédito de crescimento, mas não é representada na produção cultural, que está desbotada e sem vigor. O jornalismo cultural, com poucas exceções, está quase desmoralizado e a reboque da indústria do entretenimento. Por que nos conformamos?
Bourdieu é aquele intelectual ao qual podemos atribuir duas grandes características: é "engajado" (segue a tradição francesa de participar ativamente de movimentos sociais, integrando a teoria com a prática) e é "total" (sua obra cobre uma gama extremamente variada de problemas, domínios e dimensões da vida social).
 
Sua produção é vasta e, recentemente, foi publicado na França o livro "Sobre o Estado", produto de um curso oral entre 1989 e 1992 onde discutiu o papel do Estado e do indivíduo na sociedade. Segundo Franck Poupeau, ali Bourdieu constrói um modelo de gênese do Estado, pensado no cruzamento da História, da Sociologia e da Filosofia Política, com referências ao contexto francês da época, quando da desconstrução dos serviços públicos, das políticas sociais e da própria ideia de "público".
 
O termo que usava era o do "abandono do Estado", imaginando que o neoliberalismo estaria esvaziando completamente o Estado de suas funções. Nesse aspecto talvez tivesse se surpreendido, hoje em dia, com a sobrevivência de inúmeras funções e, talvez, optasse por falar em "transformação" do Estado e suas funções. Mas, é esperar pra ver, com calma, como tratou esta questão do Estado num momento decisivo de seu questionamento.
 
Entretanto, apesar de ser um dos autores mais citados no mundo (e "descoberta" no mundo inglês), sua obra vem sendo muito atacada pelos sociólogos franceses. Para Bernard Lahire, um de seus  herdeiros, estaria ocorrendo um processo de "desqualificação" (muito típico nas Ciências Sociais) que obedeceria à lógica da moda*, onde não há espaço para argumentações e evidências empíricas, somente para o "novo" e o "ultrapassado".
 
O que existiria por trás disso, então, seria uma recusa de uma sociologia subjetiva, apegada aos estudos da dominação e da desigualdade, dos determinismos sociais. Predomina, na atualidade, uma sociologia consensual, ausente de relações de dominação.
 
Vê-se aí reflexos da ideologia consumista onde os intelectuais estariam se comportando como crianças que, em busca de reconhecimento por parte do poder, estariam se tornando dóceis e se recusando a denunciar as violências. Um comportamento que tira das Ciências Sociais qualquer possibilidade de se tornar um contrapoder.
 
É neste contexto que Geoffroy de Lagasnerie critica a relação de muitos intelectuais (como Alain Badiou) com a mídia, também expressão dessa busca frenética por um tipo de reconhecimento similar à das celebridades.
 
Para ele, tais autores estariam se tornando ensaistas de segunda linha e produzindo subpesquisas, fazendo praticamente desaparecer o debate intelectual. Entretanto, o autor não demoniza a mídia e vê que Bourdieu, por sua vez, não soube avaliar com clareza o papel da mídia, perdendo-se, junto a outros importantes teóricos, numa feroz crítica aos jornais e suplementos culturais. Havia um receio de se perder o "monopólio" do discurso acadêmico?
 
Não há como negar o importante papel destes outros espaços como "críticos" das práticas acadêmicas, papel importante para se atenuar as chamas "imposturas" acadêmicas (similares às imposturas midiáticas). A crítica feroz, portanto, mais parecia uma tentativa de salvaguardar de críticas o espaço acadêmico, contribuindo para isolá-lo cada vez mais da sociedade, fechando-o em si mesmo.
Quando refletimos sobre o jornalismo, insistimos com frequência na censura que exerce. Mas a contribuição essencial do jornalismo reside no fato de que se trata de uma instância exterior à universidade. Ele representa um espaço de acolhimento para as obras, os autores e questionamentos em ruptura com as normas científicas (p. 39).
Outra publicação de Bourdieu, que deve ser lançada ainda este ano no Brasil, é "Os Herdeiros". Segundo sua tradutora, Ione Ribeiro Valle (UFSC), o livro inspira-se na tradição weberiana de não considerar a relação de dominação como exclusivamente econômica, embora sustente (como o marxismo) a ideia de divisão da sociedade entre dominantes e dominados.
 
No livro, Bourdieu rompe com a "ingenuidade" da ideologia da igualdade de oportunidades assentada na ideia de uma escola que alcance a todos. Independente de qualquer coisa, a escola ainda tem a função de legitimadora das desigualdades, mais do que um instrumento de mobilidade social. Para Bourdieu, a cultura de elite ainda predomina e seria necessário uma socialização diversa daquela preconizada pela escola (**). Vejamos, em síntese, alguns dos principais conceitos de Bourdieu:
 
1) Capital Cultural - Conjunto de qualificações intelectuais produzidas pela escola ou transmitidas pela família. Pode ser "incorporado" (como a facilidade de expressão), "objetivo" (como livros) ou "institucionalizado" (como títulos escolares). É uma propriedade que se tornou parte integrante da pessoa através da aprendizagem e aculturação, e fortemente relacionado ao capital econômico do indivíduo;
 
2) Capital Econômico - Conjunto de recursos patrimoniais e de rendas ligados ao capital ou a um exercício profissional assalariado ou não assalariado;
 
3) Contato Social - Conjunto de contatos, relações, amizades, obrigações, relações socialmente úteis que podem ser mobilizadas ao longo da trajetória profissional ou pessoal do indivíduo. É uma variável que confere maior ou menor "espessura" social, poder de ação e reação. "A rede de relações é o produto de estratégias de investimento social", consciente ou não, a fim de criar, manter, reforçar, reativar ligações das quais pode esperar retirar "lucros materiais ou simbólicos";
 
4) Campo -Espaço social estruturado e conflitual no qual os agentes sociais ocupam uma posição definida pelo volume e pela estrutura do capital eficiente no campo, agindo segundo suas posições nesse campo. Cada campo - um "campo de força" de agentes e instituições em luta - é dotado de regras de funcionamento e de agentes investidos de hábitos específicos (campo universitário, jornalístico, literário, jurídico, econômico etc). São campos autônomos que resultam da diferenciação do mundo social e dos modos de conhecimento do mundo. Assim, cada campo tem um ponto de vista fundamental sobre o mundo e cria, portanto, seu objeto próprio;
 
5) Distinção - Corresponde a uma estratégia de diferenciação que está no âmago da vida social. É uma propriedade que marca um desvio, uma diferença em relação a outros e que funda uma hierarquia entre indivíduos e grupos;
 
6) Capital Simbólico - Conjunto de rituais (como a etiqueta e o protocolo) ligados à honra e ao reconhecimento. É o crédito e a autoridade que conferem a um agente o reconhecimento e a posse das três outras formas de capital (econômico, cultural e social). Ele é produto da "transfiguração de uma relação de força em relação de sentido", designando o efeito de violência imaterial das outras formas de capital sobre a consciência. Um exemplo típico das transmutações das outras espécies de capital em efeitos simbólicos é o "grande nome" (de uma "grande família"), que condensa todas as propriedades materiais e imateriais acumuladas e herdadas. A compreensão da lógica dos efeitos simbólicos de posições e de recursos advém de uma economia dos bens simbólicos;
 
7) Espaço Social -~Representação multidimensional e relacional da estrutura da sociedade de acordo com o volume e a estrutura do capital em posse das diferentes classes sociais em conflito. É aqui que se encontra a verdadeira lógica da dinâmica social, pois a sociedade não é mais que um espaço de distribuição, ou seja, um vasto conjunto de posições hierarquizadas através de múltiplas dimensões, recortado por tensões e dominações, definido pela exclusão mútua, ou distinção, das posições que o constituem;
 
8) Habitus - Talvez seja o conceito central em Bourdieu. É um sistema de disposições duráveis e transponíveis, que podem gerar práticas em outras esferas no curso do processo de socialização. São potencialidades objetivas que têm a tendência a se atualizar e a operar nas práticas e representações que elas moldam de forma duradoura. Embora Bourdieu negue um determinismo social rígido (pois há uma margem de manobra para o "jogo" e a improvisação) o habitus seria sempre produto do condicionamento histórico e social. Ele não pode ser revertido com uma mera tomada de consciência, pois está profundamente inscrito, internalizado, nos corpos, gestos e posturas, mas nem sempre percebido e muito menos entendido racionalmente.
 
9) Hysteresis - É estar atrasado, defasado, em descompasso.
 
10) Violência Simbólica - É a violência não percebida, obtida por um trabalho de inculcação da legitimidade dos dominantes sobre os dominados e que assegura a permanência da dominação e da reprodução social. Um exemplo é a transmissão da cultura escolar;
O dossiê elaborado pela revista ainda tráz uma série de revelações da trajetória de Sérgio Miceli, para muitos o maior divulgador de Bourdieu no Brasil. No texto se percebe o fascínio e o caminho percorrido por Miceli no encontro com as ideias de Bourdieu, sua forte preocupação com as questões culturais e o pouco espaço encontrado nas universidades brasileiras dos anos 70, que se concentravam demasiadamente em Marx e em O Capital. Era uma época de "má vontade" da Sociologia com a cultura.
 
Para Miceli, enquanto o marxismo tratava a cultura de forma reducionista, o trabalho de Bourdieu era mais complexo e fascinante. Ele trazia uma nova leitura, menos dogmática e mais simbólica. Era, segundo muitos, a consolidação daquilo que os frankfurtianos iniciaram: uma análise central da cultura. Trata-se de um belo texto, revelador de uma época. Assim como Bourdieu pode ser muito revelador para a época atual.
 
____________
 
(*) interessante como a Universidade e, em especial o competitivo campo das Ciências Sociais, se utilize justamente daquilo que mais critica: a descartabilidade. Na ânsia por um "lugar" na história se patrocina, seguidamente, o "enterro" de teorias e metodologias (e seus representantes) para dar lugar às novidades. Ora, o que mais isso é além da "lógica da moda"?
(**) um bom terreno para se avaliar esta questão é o Brasil atual com sua migração social e o papel da escolaridade nesse processo como um todo. se pode tentar observar como o "desprezo" pela educação pode, de um lado, continuar servido a uma reproduzção cultural elitista, mas, também, a uma outra socialização, que menospreza qualquer valor oriundo da cultura escolar e acadêmica.

Política Midiatizada e Mídia Politizada

O texto abaixo é uma síntese das ideias apresentadas por Piovezani Filho¹ acerca das transformações envolvendo a mídia e a política. Piovezani parte do conceito de "pós-modernidade" de David Harvey, baseada na "acumulação flexível", para enfatizar a efemeridade do que é produzido e consumido no capitalismo atual.
Volatilidade e efemeridade nos serviços, nas ideias e nos desejos, e instantaneidade e descartabilidade das mercadorias são duas tendências do refinamento do capitalismo nos tempos pós-modernos. Em detrimento da ética, aflora a estética capitalizada, a era é a da imagem, do parecer e do aparecer (p. 51).
Em paralelo, a política também "espetacularizou-se". Não que desde sempre a política já não possuísse uma intrínseca propriedade imaginária, mas, agora, esse processo teria se intensificado, com uma "nova linguagem política", cujas maiores características seriam (segundo Courtine - post neste blog: "Os deslizamentos do espetáculo político"): a brevidade e a conversação. No que diz respeito à "brevidade", o campo político passou a organizar-se em termos de "arcaico x moderno" e não mais em termos de "esquerda x direita" -  (um exemplo está na eleição para a Prefeitura paulistana em 2012).
 
A "conversaçao", por sua vez, supõe uma forma dialógica que teria por missão construir a imagem de um político acessível (não distante do cidadão), sempre próximo e aberto ao diálogo. Mas, se a política se "espetacularizou", a mídia se "politizou", paralelamente. Com isso, a mídia busca sua posiçao de agente político, intensificando seu exercício sobre a política por meio da revelaçao de segredos e mentiras.
Subsidiada na pretensa existência, no espaço político, de um nível profundo (e, por isso mesmo, mais real), ou de uma dupla dimensão - a da manifestação (aparência) e da imanência (essência) -, a mídia reinvindica a legitimidade de sua laboração politizada, na medida em que diante daquilo que não é, mas que se manifesta como sendo ou daquilo que é, mas que aparenta não ser, a postura crítico-heurística que ela toma cumpre a funçao de deslindar o obtuso, de revelar o real (p. 57).
Natural daí surgir aquela postura de porta-voz dos que estão alijados do poder.  O que temos, então, é um simulacro da fala do povo, já que se o povo realmente falasse não precisaria de um porta-voz. Neste processo, a mídia acaba por assumir duas posições, como afirmava Bourdieu: a de "tribuno" (falando em nome do povo e para o povo) e do "debater" (fala da, para e contra a classe política). Existe aí uma "vontade de verdade" que, evidentemente, não elimina possíveis manipulações.
 
Um ponto necessário a ressaltar é com relação à audiência. Não estamos falando de uma subjetividade passiva, mas que interpreta, em parte, o produto midiático que consome, o que, necessariamente, influi na própria mídia. Ou seja,
Faz-se anunciar a inscrição de uma subjetividade consumidora, em certa medida subversiva, manifesta sob a forma do uso, de modo que se estabelece, com efeito, na produção discursiva midiática, uma interpretação espectadora e não uma mera recepção passiva (p. 62).
_____________
 
¹ PIOVEZANI FILHO, Carlos Félix. Política Midiatizada e Mídia Politizada: Fronteiras mitigadas na pós-modernidade. In: GREGOLIN, M.R.V. (org.). Discurso e Mídia: A cultura do espetáculo. - São Carlos: Claraluz, 2003, p. 49-64.

A Espetacularização da Política e da Mídia e a Tarefa da Análise do Discurso

O texto abaixo é uma síntese das principais ideias trazidas por M.R.V. Gregolin¹ acerca da relação entre mídia e política na atualidade. A autora nos relembra, inicialmente, que Guy Debord, em 1967 ("A Sociedade do Espetáculo"), ao falar da indistinção entre o "real" e aquilo que é produzido e colocado em circulação, dá mais um passo ao que Adorno já anunciava como "industrialização cultural". Como analisar este caráter "espetacular" do que é circulado? Para a autora não há como não pensar esta "cultura do espetáculo" como um fato de "discurso", e que pode, portanto, ser trabalhada pela Análise do Discurso, cujo objetivo é o de:
explicar os mecanismos discursivos que embasam a produção dos sentidos [a partir de uma] compreensão de como se dá a produção e a interpertação dos textos em um determinado contexto histórico, em uma determinada sociedade (p. 10).
Em 1983, Pêcheux ("Discurso: estrutura ou acontecimento"), quando da vitória de Mitterand, percebeu como a mídia opera a transformação da política. Para ele, a estrutura enunciativa do discurso da mídia se assemelhava aos gritos das torcidas esportivas. Estaria ocorrendo a "espetacularização da política", através de uma metáfora popular, esportiva, que adequava-se ao campo político. Mas, o que isto significa?
 
Ora, quando a mídia diz "ganhamos!", referindo-se à vitória de Mitterand, o acontecimento político se associa ao resultado de um jogo esportivo. Mas, o problema é que, ao final de um jogo, o que se tem, sempre, é um resultado estável, que não se questiona. Perguntas como: "quem ganhou de verdade?", "o que está além das aparências?", não são colocadas, e perde-se qualquer relação entre o "real da língua" e o "real da história". É aí que deve entrar em cena o analista de discurso e sua tarefa de entender a relação entre essas duas ordens para poder falar sobre o "sentido" produzido. Afinal,
Há sempre batalhas discursivas movendo a construção dos sentidos na sociedade. Motivo de disputa, signo de poder, a circulação dos enunciados é controlada de forma a dominar a proliferação dos discursos. Por isso, aquilo que é dito tem de, necessariamente, passar por procedimentos de controle, de interdição, de segregação dos conteúdos (p. 12).
Nesse sentido,
A análise do discurso propõe, portanto, descrever as articulações entre a materialidade dos enunciados, seu agrupamento em discursos, sua inserção em formações discursivas, sua circulação através de práticas, seu controle por princípios relacionados ao poder, sua inserção em um arquivo histórico (p. 12)
Podemos, então, num esforço de síntese, dizer que a grande tarefa do analista de discurso é desvendar os sentidos produzidos pelos enunciados colocados em circulação em determinado contexto sócio histórico. Voltando à autora, o grande operador de todo este processo de espetacularização seria a mídia, com as transformações nas práticas discursivas por três meios:
 
1) A política como espetáculo - Com a forte aproximação entre a mídia e a política, aquela passou a exigir uma nova "fala" pública, cambiável, flúida e imediata. Desse modo, técnicas de comunicação foram aplicadas ao discurso político que ficou cada vez mais homogeneizado, um produto de consumo vendido a partir da "teatralização". Como consequência, os políticos cada vez mais oscilaram entre heróis de novelas e mercadorias a venda, cada vez mais se utilizou jogos de palavras e recursos que evitavam explicações, que afastaram o debate político e o aprofundamento dos temas.
Esse estilo é adequado à mídia hoje dominante - a televisão - que valoriza as performances exuberantes e faz com que a aparição de políticos se transforme em um espetáculo para o grande público (p. 13-4).
O resultado é o que se chama de "midiatização da política". Mas, este processo é mais amplo e implica na transformação da própria mídia que, cada vez mais, se atribui a função de investigação, situando-se como "porta-voz" da coletividade, que vai descobrir os "segredos" dos agentes políticos. Resulta daí, então, a "politização da mídia". Midiatização da política e politização da mídia são, portanto, dois processos correlatos, que se alimentam.
 
2) A língua como espetáculo - A língua portuguesa, na mídia, tem como objetivo não apenas comunicar, mas um efeito simbólico (ordenação, categorização etc.) e político (luta pelo poder).
 
3) A história como espetáculo - A mídia desenvolve estratégias para a construção de uma "história espetacularizada", como se acompanhássemos ao vivo a produção da história, mas dela não participássemos (uma história sem sujeitos, portanto).
______________
 
¹ GREGOLIN, Maria do Rosário V. A Mídia e a Espetacularização da Cultura. In: GREGOLIN, M.R.V. (org.). Discurso e Mídia: A Cultura do Espetáculo. - São Carlos: Claraluz, 2003, Apresentação, p. 9-17.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O discurso político: lugar de um "jogo de máscaras" que tem sua eficácia

Um dos autores que mais gosto, quando se trata de entender o discurso político, é Patrick Charaudeau¹. Ele nos diz, pra início de conversa, que o discurso é um "jogo de máscaras" e que a "máscara" é um símbolo de "dissimulação" que tenta nos oferecer uma determinada "imagem". Não mais que isso. Por isso, não adianta buscar "por baixo" da máscara uma suposta "realidade oculta", uma suposta "verdade". Estamos falando de "imagem" e não de "verdade". É preciso saber diferenciar.

É justamente esta "imagem" que permite a identificação entre a máscara e a pessoa, fazendo surgir uma "personagem". Talvez seja isto mesmo o máximo que possamos saber de alguém. Claro que isso é frustrante para quem busca a verdade e a "verdadeira" personalidade das pessoas. Mas, se formos sensatos e lembrarmos que é a partir de percepções que construímos nossos conceitos sobre as pessoas, aceitaremos este ponto de vista. Não se trata, então, de uma "falsa" pessoa, mas de uma "personagem".

MÁSCARA (Dissimulação, "imagem") 
PESSOA (Personagem, "ser presente")

Por exemplo, num encontro (momento de troca) onde um enuncia e o outro interpreta e, em seguida, responde, ambos agem em função do que imaginam do outro (imagens). Assim,
... cada um é para o outro apenas uma imagem. Não absolutamente uma imagem falsa, uma aparência enganosa, mas uma imagem que é o próprio ser em sua verdade da troca. Nesse momento, a máscara seria nosso ser presente (...) O discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras. Toda palavra pronunciada no campo político deve ser tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e não diz. Jamais deve ser tomada ao pé da letra, numa transparência ingênua, mas como resultado de uma estratégia cujo enunciador nem sempre é soberano (p. 8 - prólogo).
Por isso, a principal tarefa quando se trata de estudar o discurso político é, justamente, identificar como se instaura esse jogo de máscaras. E isso vai exigir, identificar o cenário da prática social em que se move o discurso; Identificar o quadro de trocas e, identificar os meios discursivos utilizados para persuasão e sedução.

É partindo deste ponto de vista, do discurso político enquanto um "jogo de máscaras", que Charaudeau nos provoca, perguntando:
... há verdadeiramente, como sustentam alguns, degenerescência do discurso político ou deve-se pensar em uma nova ética do conceito político? (p. 9 - prólogo).
Esta "provocação" é excelente e oportuna pois nos permite, de imediato, escapar ao "moralismo" que tanto contamina as análises sobre a política e, especialmente, a "fala" política. Nos permite escapar da ideia de buscar um suposto discurso político "sincero", "verdadeiro" e "transparente", ou, de outra forma, não cair na vala comum dos que desacreditam em qualqeur discurso político. Talvez o mais sensato seja mesmo pensar em "modalidades" de discurso.

Então, estamos falando de um discurso que possui uma imagem que representa uma personagem. Mas, esse discurso tem eficácia? E se tem, como avaliá-la?

Quando falamos do Discurso Político estamos falando da "Palavra Política", uma palavra que está  inscrita em uma prática social, ou seja, que circula em um espaço público de trocas e que tem sempre algo a ver com as relações de poder, e que exige a observação de três princípios que dizem respeito ao "outro": Princípio da Alteridade (o "outro" deve ser reconhecido); Princípio da Influência (o "outro" é trazido para o raio de influência); Princípio da Regulação (o "outro" não é passivo, ele fala e age, então existe uma "relação" que precisa ser gerenciada).

É fundamental, então, que o "outro" se reconheça no discurso, se convença em seu pensamento e se sinta sujeito da fala do político. É neste contexto, em que o outro reconhece-se e é reconhecido, que a troca ocorre com maior eficácia, pois há a criação e reforço do "vínculo".

Tudo isto implica que o estudo da "palavra" não é, necessariamente, o estudo da "ação" , das "instâncias" (partes interessadas na ação) ou dos "valores" (em nome dos quais as ações são realizadas), embora a palavra permeie todos estes setores, conforme abaixo:
  • É a ação política que organiza e determina a vida social. Mas, para que as decisões e ações sejam coletivas é preciso haver "entendimento" quanto ao projeto e quanto ao objetivo comum. Isso exige transparência e comunicação em espaços de discussão (públicos, por exemplo);
  • A instância "cidadã" leva ao poder a instância "política" para que este realize o "desejável", mas esta só consegue realizar o "possível", daí a dificuldade do exercício político;
 ... isso faz com que ao espaço de discussão que determina os valores responda um espaço de persuasão no qual a instância política, jogando com argumentos da razão e da paixão, tenta fazer a instância cidadã aderir à sua ação (p. 18).
  • Os valores são as ideias defendidas no espaço de discussão e funcionam como um "terceiro" em torno do qual as pessoas (e o político) se agrupam - é o ideal compartilhado, mas isso não implica a subtração de outras opiniões pois a sociedade é fragmentada. A necessidade de "gerenciar" os conflitos oriundos é de vital importância;
Pode-se concluir, então, que é pela existência dos espaços de discussão e persuasão, lugares de elaboração dos valores dos quais depende a ação, que o campo político surge, antes de mais nada, como o "governo da palavra" (M. Augé, "Pour une anthropologie des mondes contemporains", 1994).  Essa concepção nos leva a perceber o debate de ideias, no espaço público, como uma luta discursiva para a conquista da legitimidade

É nessa relação que se dá o "jogo de máscaras" que é o discurso político em sua troca com a sociedade. E são dois os espaços em que se dá: o espaço "político" (núcleo duro) e o espaço "público", mais amplo, onde três atores se manifestam: políticos, jornalistas e opinião pública.
Encontramo-nos, assim, em um jogo em que todos mudam sob a influência dos outros: a opinião sob a influência das mídias, as mídias sob a influência da política e da opinião, o político sob influência das mídias e da opinião (p. 25).
Não à toa existe uma confusão entre os espaços dos atores.
Tudo isso faz com que as fronteiras entre os diferentes setores de atividade, entre os espaços de decisão, de persuasão e de discussão, e entre espaço público e privado tornem-se mais e mais flúidas (...) O conceito de espaço público seria pouco operatório? O certo é que o espaço público não é homogêneo. Ele é fragmentado em diferentes espaços que se entrecruzam e não respondem às mesmas finalidades. O discurso político circula nesses meandros metamorfoseando-se ao sabor das influências que sofre de cada um deles (p. 31).
É neste espaço confuso que se dão os conflitos entre a política, a mídia e a opinião pública, e é nele que deve ser buscada a luta discursiva (simbólica) por legitimação e poder.

_______________
¹ CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. - São Paulo: Contexto, 2006 © 2005.