Ainda numa daquelas tarefas insanas e improdutivas de tentar colocar ordem em papéis antigos, peguei umas anotações de uma coluna do C. Caligaris na Folha em que ele comentava a vinda do Papa Francisco ao Brasil. Segundo ele, não são poucas as religiões que combatem o hedonismo atual, ou a ideia do prazer como algo associado ao egoísmo e o consumismo.
Difícil dizer algo contra esta associação. Mas ela não pode ser vista de forma maniqueísta. É claro que o consumismo tem no hedonismo um parceiro decisivo, mas o hedonismo se resume a isso, a tornar os homens egoístas? Por que a busca do "prazer" se torna um palavrão para muitos, assume uma conotação moral negativa? Será que é só renunciando ao prazer que adotaremos uma moral positiva?
A questão se torna ainda mais complicada quando estamos sob o aparato cultural de uma religião fundada na ideia do necessário "sofrimento" para a salvação. Existe aí, então, um possível maniqueísmo que exige a suspensão do prazer para se conquistar uma moral elevada e evitar o pecado. Tal associação precisa ser melhor ponderada. Repito, não há dúvida que o hedonismo, hoje, alcança ares egoístas e doentios, mas eliminar a ideia do "prazer" não é a solução para a felicidade do homem.
(José Henrique P. e Silva)