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sexta-feira, 31 de maio de 2013

"Cidadão Kane": Todos temos o nosso Rosebud... ou não?

Depois de muitos anos, assisti novamente a Cidadão Kane (Orson Welles, 1941). Dizer que o filme é fantástico é chover no molhado. Está sempre nas listas de "melhores filmes" já produzidos. 
Mas, porque eu o acho fantástico? Todos devem ter o seu motivo e eu também tenho o meu. Pra me explicar melhor vou reproduzir um rápido diálogo de nosso personagem principal, Chales F. Kane e o seu "guardião" financeiro, o Sr. Bernstein.

  • Charles Foster Kane – … Sabe Sr. Bernstein, se eu não tivesse sido um homem tão rico eu poderia ter sido um grande homem…
  • Sr. Bernstein - O que teria gostado de ser?
  • Charles Foster Kane - Tudo o que você odeia!
Kane veio de uma infância pobre, com pais endividados, e construiu um império, acumulou riquezas e prazeres que nenhum mortal poderia sonhar. Mas, e aí? Ele passou a vida conquistando… e perdendo tudo, como em uma montanha russa. Sua insaciável busca, entretanto, não era pelo dinheiro. Não à toa, diz ao Sr. Bernstein: 
Não é difícil ganhar muito dinheiro… quando a única coisa que se quer é ganhar muito dinheiro.
Ao morrer e pronunciar a palavra “Rosebud”, nosso personagem simplesmente mostrou que existem coisas que precisamos e que não podemos simplesmente descartar nessa busca ensandecida por dinheiro e poder. Pior, essas coisas não podem ser "compradas", como querem acreditar aqueles que se entregam facilmente à crença de que "o dinheiro pode tudo". Foster Kane tentou comprar a tudo, mas o preço que pagava era sempre muito alto: sua infelicidade, sua ruína pessoal.
A incessante busca, mostrada pelo filme, para se desvendar o mistério do significado da palavra "Rosebud", dita por Kane quando de sua morte, revela a própria incapacidade da sociedade em perceber o beco sem saída em que cada vez mais estamos entrando: o da supervalorização da imagem e do sucesso. Quanta infelicidade isso está gerando. A busca incessante pelo significado da palavra é a busca que fazemos todos os dias por reencontrar algo que "perdemos" ou "deixamos de lado" em troca de alguma coisa.
Nesse sentido, a palavra “Rosebud” definia sim nosso personagem: Kane era um homem que tinha saudades de uma época em que fora feliz, quando criança, em sua família. Isso o atormentava, fazia de sua vida uma aparente felicidade, corroída por uma destrutividade interna silenciosa. Mas, no momento de sua morte, ele foi sincero consigo mesmo e "agarrou-se" à sua melhor lembrança, o seu "Rosebud".
Todos temos o nosso pequeno trenó (“Rosebud”), que nos lembra de uma felicidade absolutamente honesta… ou não? Só precisamos saber o que fazer com isso. Vamos descartá-lo? Ou vamos lutar para mantê-lo por perto, como uma lembrança e uma certeza de que a felicidade é possível, e está sempre nas coisas mais simples ao nosso redor?