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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Um desamparo que dilacera ("The Thin Ice", Pink Floyd)


"The Thin Ice" é uma música que compõe o álbum The Wall, do Pink Floyd (1979). Se eu tivesse que dividir o álbum em "atos" como em uma peça teatral (e fiz isso em um artigo há alguns anos atrás) diria que a música integra o Ato 2, nos falando de um desamparo dilacerante do personagem que está presente em todas as músicas do álbum. 

É neste momento inicial do álbum (a música é a faixa número 2) que o personagem, sentindo-se vazio pela perda do pai e pouco afeto da mãe, sente-se sempre sobre uma FINA CAMADA DE GELO, inseguro, incerto, assustado, sozinho, aflito, com medo, frágil, onde a qualquer momento tudo pode ruir e ele mergulhar em direção ao desconhecido. É um momento de angústia muito intensa. Preso à lembranças trágicas e ao vazio da impotência, só consegue ver-se sob aquela fina camada de gelo que, quando romper sob seus pés, lhe sugará, lhe fará perder toda a consciência. Mas nem assim estará livre de seus medos, que o seguirão por toda a profundidade, arrastando consigo suas dores.

A fina "camada de gelo" é daquelas representações a que nosso inconsciente recorre costumeiramente para nos lembrar que corremos o risco de perder a luta para nossos medos. Esta fina camada de gelo (assim como outras representações semelhantes) está em nossos pensamentos e em nossos sonhos, sempre que nos sentimos desamparados. Imaginarmo-nos sendo tragados por essa profundidade gelada, cortante, escura e silenciosa nada mais é que a própria visão que a vida pode assumir se não enfrentarmos este desamparo, que vez por outra, insiste em se manifestar.

Esta é a letra da música:

Momma loves her baby
And Daddy loves he too
And the sea may look warm to you Babe
And the sky may look blue
Ooooh Babe
Ooooh Baby Blue
Ooooh Babe
If you should go skating
On the thin ice of modern life
Dragging behind you the silent reproach
Of a million tear stained eyes
Don't be surprised, when a crack in the ice
Appears under your feet
You slip out of your depth and out of your mind
With your fear flowing out behind you
As you claw the thin ice

Abaixo o vídeo de "The Thin Ice" quando do show Live in Berlin (1990), interpretada por Ute Lamper e Roger Waters. A versão está maravilhosa, mas nada como assistir ao filme The Wall com todas as cenas de guerra e dor como pano de fundo para a angústia presente nesta música.



terça-feira, 9 de julho de 2013

Time (Pink Floyd - "The Dark Side of the Moon", 1973)

Time é um clássico do rock. Dispensa apresentações. Integra o álbum The Dark Side of the Moon (1973), do Pink Floyd. Trata-se de um álbum conceitual e que, em minha opinião, é um dos dois melhores álbuns de toda a história do rock. Possui um solo de guitarra de arrepiar e, se ouvida na versão onde está toda a banda, transformasse numa experiência única.

Mas, como toda música do Pink Floyd, não é uma simples melodia. É muito mais. Há sempre muito mais nas músicas do Pink Floyd. No caso de Time há um forte apelo a dar-se algum significado à vida. Um apelo em não deixá-la passar, simplesmente. O "tempo", ou seja, a vida, deve ser preenchido, com marcas, com algo a dizer. Do contrário, quando percebermos, poderá ser muito tarde, só nos restando a angústia, aquele silencioso desespero.

Nos tempos atuais, da liquidez moderna, o tempo voa, acelerado pela descartabilidade, acelerado pela nossa incapacidade de buscar aconchego. Estamos correndo demais. Mas não é isso a que Time apela. A música nos fala de um tempo que deve ser, por nós, marcado. Só assim, teremos do que nos lembrar e aconchegar, quando chegar nossa hora.

Abaixo, deixo um link para quem quiser ouvir um pouco, e, mais abaixo, a letra e uma tradução. É um clássico. Mas, nunca ouça Pink Floyd só pela melodia. Procure investigar as mensagens. Há uma riqueza nas letras. É isso que transforma o Pink Floyd no que ele é: uma lenda. Foi com ele que descobri aquilo que Nietzsche quis dizer quando, ao ouvir a música de Wagner exclamou: The life without music would be a mistake (a vida, sem a música, seria um engano). Era o que lhe causava a sensação de "alheamento". É o que sinto com o Pink Floyd.


TIME

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an off hand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way
Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
You are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun
And you run and you run to catch up with the sun, but its sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in the relative way, but youre older
Shorter of breath and one day closer to death
Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the english way
The time is gone, the song is over, thought Id something more to say
Home, home again
I like to be here when I can
And when I come home cold and tired
Its good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells

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Passam os "tic-tacs" marcando os momentos de um dia monótono
E você descontroladamente desperdiça e gasta as horas
Perambulando pelos cantos de sua cidade natal
Esperando por alguém ou algo que indique um caminho
Cansado de se deitar ao sol, de ficar em casa vendo a chuva
Você é jovem e a vida é longa, e tem tempo pra gastar hoje
Mas então um dia você percebe que 10 anos se passaram
E ninguém te disse quando iniciar a corrida, e você perdeu a largada
Você corre pra alcançar o sol mas ele já está se pondo
Mas ele nasce de novo atrás de voce
De certa forma o sol é o mesmo, mas você está mais velho
Sem fôlego e mais próximo da morte
Cada ano está ficando curto e voce parece nunca encontrar tempo
Planos que fracassam e páginas rabiscadas pela metade
Aguardando no silencioso desespero do jeito inglês
O tempo se foi, a canção acabou, e pensei que tinha algo mais a dizer
Em casa, de volta ao lar
Eu gosto de estar aqui quando posso
Quando em chego em casa, com frio e cansado
É bom aquecer os ossos junto à lareira
À distância, longe nos campos
O badalar do sino
Chama os fiéis a ajoelharem-se
Pra ouvir suavemente as mágicas palavras.