quinta-feira, 8 de maio de 2014

A genialidade do pensamento alemão

Se na música e no cinema tenho uma forte "queda" pelos ingleses, confesso um profundo respeito e admiração pelo "gênio alemão" e sua intelectualidade. Não quero fomentar discussões com isso, apenas acredito que exista uma cultura na Alemanha que se reproduz fazendo com que uma geração sempre assuma, com grandiosidade, os desafios do pensamento levados a cabo pela geração anterior, mantendo o gosto pelas "grandes questões" e sua discussão em profundidade e abrangência, um pouco diferente do pragmatismo inglês e do proselitismo francês. Mas, isso é só uma impressão.

Pensei sobre isso a partir de uma resenha no Estadão da autoria de Brian Ladd, jornalista e sociólogo sobre o livro The German Genius, de Peter Watson. O livro é uma compilação de contribuições essenciais feitas pelos alemães nos campos da filosofia, teologia, matemática, ciências naturais e sociais e arte, desde 1750. O que parecia estar claro na virada do século XIX para o XX era que havia algo de especial na cultura alemã, a ponto de alguns a colocarem como única herdeira das civilizações clássicas de Grécia e Roma.

De acordo com Watson, devemos a eles nosso conceito de História. O seu romantismo e erudição instalaram a verdade e a criatividade na mente humana. Nomes como Kant, Hegel, Goethe, Marx, Nietzsche e Freud, buscaram sentido para um mundo em total movimento. Inventaram a universidade moderna, que combinou ensino e pesquisa. Desenvolveram uma burocracia especializada, como uma espécie de rival da autoridade. E, o mais decisivo, para muitos, voltaram-se para o interior com o objetivo de encontrar verdades que não estivessem ancoradas na razão nem na revelação divina. Esta é a marca do "individualismo subjetivo moderno".

Freud, então, é fruto deste ambiente, desta ousadia metafísica, deste não contentar-se com a razão, nem com a religião. Da mesma forma que foi fundo na mente humana, foi abrangente ao olhar para a sociedade. Profundidade e abrangência, é esta combinação, para mim, que produz genialidades. Mas, veio o nazismo, o holocausto, e como definir esta "genialidade"? É possível deixá-los de lado ao se observar a cultura alemã? O que significam no conjunto da cultura alemã? Hitler foi o ponto culminante dessa genialidade? Não acredito! São questões delicadas e que exigem reflexão. Só não podem é obscurecer que existe uma vontade de potência naquele pensamento, que também revela seu lado trágico, e que marcou a sociedade alemã em todo o século XX.

(José Henrique P. e Silva)

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