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domingo, 7 de julho de 2013

A "transição" entre classes (Marcelo Neri)

Marcelo Neri é um economista da FGV que tem se dedicado a acompanhar a evolução social e econômica da "nova classe média" nos últimos anos aqui no Brasil¹. Segundo ele, uma das principais lições deixadas por análises como estas que faz da evolução das classes econômicas, é a de que uma pessoa não "é" de determinada classe, mas "está" em determinada classe. Há sempre uma transição de estados, com situações de regressão e progressãoComo ilustração, Marcelo Neri se utiliza de dois exemplos: o da ascensão da Classe "E" e o da queda da classe "AB".

Levando em conta os anos de 2010 e 2011 identificou que a possibilidade de uma pessoa que está na classe E manter-se nesta classe era de 54,24%. Assim, como não há como regredir (para uma suposta classe "F"), os outros 45,76% subiram durante o período. Segundo o autor, seria o melhor percentual alcançado em muitos anos.

Em 2006, por exemplo, a taxa de permanência era de 64,1%, declinando a partir daí. Trata-se de um momento que, em minha opinião, está fortemente relacionado à conjuntura política, ou seja, à maior rapidez na expansão de determinados programas governamentais de ajuda social, especialmente o Bolsa-Família, como uma reação à crise política do Mensalão, em 2005.

No caso da classe "AB", o fundamental não é a ascensão, mas a permanência. percebe-se, então, que seu melhor período foi em 2010, quando 82,34% permaneciam nessa posição. Em 2011, o percentual cairia para 79,55%, indicando uma movimentação de pessoas em direção à classe "C".

O autor também nos chama a atenção para a importância da variável "nível de educação" pois, segundo ele,
Os resultados mostram que os mais educados possuem mais chances de permanência na classe ABC. A chance é pelo menos duas vezes maior para o grupo mais educado, com oito anos ou mais de estudos em relação a seu complemento menos escolarizado (p. 166).
O mesmo o autor já observara para a classe "E".

Conclusão: Nos últimos anos é inegável que ocorreu um largo processo de "transição" entre classes econômicas. O fenômeno foi motivado, originalmente, por uma decisão política de recuperação de popularidade (contexto do Mensalão, em 2005) e, em seguida, mantido por uma política econômica baseada, principalmente, na expansão do consumo e do trabalho de baixa renda. 

Como o autor considera a "educação" como um forte fator de "retenção" do indivíduo na classe, pode-se visualizar o quanto é arriscada a posição atual de forte contigente social que ascendeu economicamente. Se a economia não manter-se em crescimento mínimo e, enquanto não ocorrerem fortes decisões em prol de uma política  de formação e capacitação educacional, o paraíso ainda não é uma garantia para muitos setores sociais.

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¹ NERI, Marcelo. A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide. - São Paulo: Saraiva, 2011, p. 163-166.