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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sobre a noção de "trauma"

Estava lendo o livro organizado pela Ana Maria Rudge ("Traumas"), que foi resultado do I Congresso Internacional de psicopatologia Fundamental que ocorreu na PUC-RJ em 2004. De cara, alguns comentários seus sobre a própria noção de "trauma" me trouxeram a vontade de compartilhar algo aqui.
 
É fato que  o trauma é um forte tema de interesse na atualidade, até mesmo entre os psicanalistas. Mas, por que? Talvez porque não exista muito como escapar à proliferação da angústia e do sofrimento de desamparo que emergem da intensa exposição midiática da violência e da catástrofe. Mas, o que é o trauma?
 
São inúmeras as acepções do termo mas, inegavelmente, a versão mais conhecida é a do "trauma infantil de ordem sexual". Mas, não é disso, exatamente, que os analistas hoje mais se ocupam. A sexualidade nem mesmo mais ocupa um lugar tão central, como no caso do sofrimento histérico. Há outras modalidades de sofrimento de origem traumática.
 
A noção de "trauma", portanto, com toda sua potencial abordagem múltipla e transdisciplinar, é daquelas que nos faz enxergar toda a capacidade da psicanálise em enfrentar não somente as novas situações clínicas, mas abordar os diversos aspectos socioculturais da atualidade. Assim, o trauma "é daqueles acontecimentos que rompem radicalmente com um certo estado de coisas, provocando desarranjo de nossas foras habituais de funcionar e impondo o árduo trabalho da construção de uma nova ordenação do mundo..." (p. 9).
 
O trauma, portanto, se deu "lá trás", mas é revivido periodicamente. E é aqui que gostaria de chamar a atenção. Não se "sepulta" um trauma, não se "enterra", não se "esquece" tão facilmente. É preciso recuperar aquele sentido mais forte do conceito de trauma. Ou seja, o de que uma situação traumática pode colocar por terra toda a forma pela qual estamos estruturados, interferindo, a partir daí, diretamente em nosso dia a dia, e nos fazendo "funcionar" de uma outra forma, quase sempre de forma fragmentada, quase despedaçada.

Ora, uma das grandes características do "trauma" é que ele é revivido periodicamente nos tornando reféns de uma angústia que, por vezes, nem mesmo sabemos de onde vem, tal o nosso esforço por "esquecer" tudo aquilo que nos machucou. Não tem outra solução. É preciso conversar sobre isto, e encontrar um lugar para tudo o que aconteceu!