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sexta-feira, 16 de maio de 2014

O Processo de Psicotização

Antes de qualquer coisa, a PSICOSE implica um "processo" onde, em suas linhas gerais, o indivíduo diante de uma realidade cuja dor lhe é insuportável, luta pela violenta expulsão dessa ideia e, á medida que faz isto, vai afastando-se dessa realidade insuportável para, no momento imediato, a reconstruir, de forma mais suportável, sob a forma de delírios e alucinações. É o processo de "psicotização".

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dias de Incerteza!

Estava tentando, inutilmente, arrumar alguns por aqui papéis e encontrei uma coluna do C. Calligaris na Folha, de novembro de 2012 (clique para ler). No texto existe uma pergunta implícita: Por que a dificuldade em se assistir a documentários históricos, políticos ou tragédias e dramas familiares? 

Podemos alegar que, por vezes, não temos conhecimento histórico ou cultural necessário para isso. Mas, isso não explica quase nada. Em que pese a mediocridade do ensino de uns tempos pra cá, que já não fornece subsídios a nenhum aluno, há outra razão. 

Calligaris concorda com a tese de que somos sempre frutos de uma época e de sua cultura. Em muitos aspectos ainda somos uma herança daquele homem revolucionário do século XIX que foi levado a "apreender a ordem do mundo através de sua subjetividade, se identificando com os personagens do romance psicológico", um homem que decide no que acreditar, seguindo seu foro íntimo e suas convicções. Claro que isso não nos define a todos!

O fato é que, a partir desta herança, tivemos que aprender a conviver com a "incerteza", pois muitas tradições "seguras" foram abandonadas. Duas destas "tradições" foram o "orgulho" (aristocrático) e o "fanatismo" (religioso). Sobrava, então, ao homem comum revolucionário e sobrevivente do século XIX a "incerteza". Com estas duas tradições nos colocamos mais facilmente como invencíveis, heróis, extraordinários, eleitos, grandiosos. Com estas tradições acabamos por desenvolver fantasias e delírios megalomaníacos.

Daí, segundo Calligaris, ser difícil lidar com a incerteza, os dramas e as tragédias. É como se não quiséssemos nos identificar mais a nenhum personagem que não fosse heróico, invencível, divertido e feliz. Este é um comportamento que atende às nossas necessidades de fantasiar, de forma heróica e bem humorada, nos dias atuais. Dias de muita incerteza.

Um pequeno exemplo, mas bem representativo disto que Calligaris nos traz para pensar, se deu quando, a pouco tempo, estava fazendo algumas entrevistas em profundidade para um Diagnóstico de Clima Organizacional em uma empresa e um empregado me relatou:
parece que estou vestindo uma capa de super-homem. Seja aqui (no trabalho), seja com os amigos ou em qualquer lugar, tá todo mundo achando que eu tenho que ser perfeito em tudo, quase não tenho tempo pra ser eu mesmo. Tá ficando difícil aguentar
É isso aí. Tá complicado!

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Uma rápida leitura: Paranóia (Laplanche e Pontalis)

 
Psicose crônica caracterizada por um delírio mais ou menos bem sistematizado, pelo predomínio da interpretação e pela ausência de enfraquecimento intelectual, e que geralmente não evolui para a deterioração (p. 334).
Esta é a definição de "Paranóia" encontrada no "Vocabulário da Psicanálise", dos autores citados no título deste post. Trata-se, então, em primeiro lugar, de uma patologia que se insere no grupo mais amplo das "psicoses", marcada, portanto, por delírios crônicos. Mas, dizer só isto não basta pois precisamos especificá-la melhor no interior desse amplo conjunto de patologias que é a "psicose". Em grego, a palavra paranóia significa "loucura" ou "desregramento do espírito" e Freud, naquilo que denominou paranóia, agrupou inúmeros delírios crônicos como os de "perseguição", os ligados à "erotomania", os de "ciúme" e os de "grandeza". A paranóia, portanto, é algo mais que simplesmente "mania de perseguição", como comumente se conhece.
 
Nesse sentido, Freud concordou com Kraepelin que já havia distinguido a paranóia das chamadas "demências precoces" (catatonia). Ambas, paranóia e demência precoce, compartilham delírios, mas jamais no mesmo nível de deterioração, pois, no caso da paranóia, se tratam de delírios mais sistematizados e eficazes. Esta é uma primeira grande distinção.
 
Mas, a paranóia também precisa ser bem definida no interior do campo das psicoses, até para não ser, como de fato é, frequentemente confundida com a "esquizofrenia", por exemplo. Ora, não é porque o delírio paranóico também produz uma "dissociação" com a realidade que ela pode ser confundida com a esquizofrenia, embora os sintomas possam combinar-se de diversas formas e proporções.
 
Mais precisamente, a paranóia se define, nas suas diversas modalidades delirantes, pelo seu caráter de defesa contra a homossexualidade. E temos que entender "homossexualidade" para além de sua conotação meramente sexual, ou seja, como "fantasia feminina", de "impotência".
 
É no estudo e desconstrução de seu delírio específico, portanto, que entenderemos melhor o funcionamento desta modalidade de psicose que é a paranóia.
 
A definição proposta pelos autores nos fornece um bom ponto de partida: trata-se de um delírio, bem sistematizado (pois é coerente), com forte caráter interpretativo (explica com veracidade a realidade) e ausência de enfraquecimento intelectual (gera convicções e certezas difíceis de serem abaladas). Por isso, a base do tratamento de um delírio paranóico é, justamente, sua desconstrução e revelação enquanto dissonante (incoerente) em relação á realidade. Tarefa difícil, mas não impossível.