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quinta-feira, 8 de maio de 2014

A necessária "chispa" na relação entre Internet e Democracia

Pensando um pouco sobre a relação internet e política acabei relendo um artigo do ex-presidente Fernando Henrique no Estadão de, quase exato, um ano atrás. No artigo, ele fala de suas leituras de M. Castells (Redes de Indignación y Esperanza) e Moisés Naim (The End of Power), ambos tratando da relação da tecnologia e a política, discussão que se aprofunda na esteira da perda de força da democracia representativa e na expansão da política tradicional (principalmente nas disputas eleitorais) sobre estas novas tecnologias.

O assunto não é novo e recebeu grande impulso a partir da "Primavera Árabe", e talvez por isso se enxergue nesse uso da tecnologia on-line uma maior presença de homens comuns, que não seguem lideranças tradicionais e deixam claro seus desejos de forte "autonomia", pois quase sempre formam uma "massa invisível" para as instituições representativas. 

E, com base nisso, muitos se apressam em dizer que há na internet um potencial "explosivo" para a política. Mas, a relação entre a internet e a mobilização política não é automática pois, da mesma forma que na vida "real", na vida "on-line" são necessários "fatores desencadeadores" que nos tirem do isolamento. E estes, só surgem quando de um clima psicossocial propício para a "chispa de indignação".  Nesse ponto, Fernando Henrique nos diz que:
A chispa, entretanto, só ateia fogo e produz reações quando se junta profunda desconfiança das instituições políticas com deterioração das condições materiais de vida. A isso se soma frequentemente o sentimento de injustiça (com a desigualdade social, por exemplo, ou com a corrupção diante do descaso dos que mandam), que provoca um sentimento de ira, de indignação, geralmente proveniente de uma situação de medo que dá lugar a seu oposto, a ousadia. Passa-se, assim, do medo à esperança. 
É a partir deste quadro que a conjuntura atual oferece uma boa oportunidade para se testar um pouco mais dessa relação entre internet e política.

Há condições propícias para isso hoje em dia? Não há nenhuma dúvida que se vive um período de erosão de alguns ganhos obtidos em épocas anteriores, trazendo riscos para um possível descontrole da inflação, aumento do desemprego, perda de capacidade de consumo etc., além de um forte descontentamento com a vida política em geral. Em função disto, já é visível a movimentação no eleitorado no sentido de reforçar a oposição e, com a chegada da Copa do Mundo, e a muito provável intensificação de movimentos de rua, a "chispa de indignação" pode surgir ainda mais forte.

Quem vai ganhar com isso? Acho que na altura do campeonato, o "poder de fogo" do governo é pequeno. Teria que surgir algo muito "novo" e "interessante" para frear esta queda de popularidade. E, além disso, Aécio Neves e Eduardo Campos teriam que se tornar muito "antipáticos" à população. Sinceramente? Acho que esta combinação não vai ocorrer, e mesmo que o governo tenha "balas na agulha" vai encontrar, além de uma conjuntura desfavorável, uma oposição muito mais agradável e disposta a chegar ao poder.

Então, é fato que a simples potencialização e abrangência da tecnologia de contato on-line não necessariamente se transforma em algo "real". É preciso que haja um clima psicossocial propício ao surgimento de "chispas de indignação".

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Assistência Social nos Anos FHC



Cley Scholz, à época editor da Revista Veja, contribui com o balanço da Era FHC [1] traçando um rápido panorama acerca da assistência social no período. Segundo ele,
as políticas sociais no Brasil são historicamente insuficientes diante da dimensão dos problemas enfrentados pela imensa maioria da população. Mais compensatórias do que transformadoras, as ações do governo nessa área atenuam os efeitos sem atacar as raízes da miséria e sem alterar as estruturas que sustentam o atual quadro de exclusão social. Os programas oficiais sempre se caracterizaram pela fragmentação, clientelismo e baixa capacidade redistributiva (p. 599).
Scholz nos chama a atentar para a história recente. Lembra que, no início dos anos 90, o escândalo da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional (desvio de verbas do orçamento para políticas sociais), levou à investigação e à redução do orçamento de gastos sociais às vésperas do primeiro governo de Fernando Henrique.
Foi uma época de atrofia das ações sociais do governo (p. 599)
E isso exatamente no período em que foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social que responsabiliza o Estado pela coordenação e financiamento da sua política social. Mas, as funções e os órgãos sociais estavam desarticulados. Vale lembrar o escândalo da LBA (Legião Brasileira de Assistência), com Rosane Collor.

O programa Comunidade Solidária surgiu justamente com a missão de articular os programas sociais dos diversos ministérios e organismos governamentais, afinal, a grande crítica era a de que havia a centralização de investimentos numa espécie de “primeiro-damismo”. Assim,
um período tão conturbado na esfera da administração das políticas sociais, já no início da gestão, não poderia contribuir para atenuar os dramas do país na área social, por mais que o cenário econômico e político pudesse ter sido favorável – o que também não ocorreu (p. 601).
Mas, o governo Fernando Henrique inaugurou uma nova forma de se fazer política social. A luta para se conquistar a estabilidade econômica havia tornado-se central. Diante, portanto, desta ênfase do governo na área “econômica”, a área “social” vê seus recursos reduzidos. Mas, o governo, paralelamente, busca parcerias com organizações da sociedade e mais “foco” em determinados projetos. Contrário ao clientelismo,
surge nova concepção a respeito do que vem a ser política de ação social. A despolitização dos projetos sociais abriu espaço para a atuação conjunta entre o governo e a sociedade. Os projetos nessa área, lançados a partir de 1994, são marcados por um aspecto definido: Trazem medidas que, uma vez implementadas, tendem a melhorar os indicadores sociais das comunidades atingidas (p. 602).
Estudos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) já apontavam que os grandes problemas das políticas de combate à pobreza no Brasil eram: a falta de controle, acompanhamento e fiscalização dos gastos e o baixo envolvimento da sociedade civil na execução.

A nova orientação das ações sociais do governo ficaram explícitas no projeto “Brasil em Ação”, lançado em agosto de 1996 para priorizar 42 empreendimentos voltados ao desenvolvimento sustentável. A escolha era estratégica: eram projetos que tinham que induzir novos investimentos produtivos e reduzir desigualdades regionais e sociais.
A política social federal foi orientada por cinco eixos de ordenamento: descentralização, participação social, integração setorial, ações coordenadas entre níveis de governos e focalização na melhora do desempenho dos programas sociais básicos universais (p. 606).
Com base nas diretrizes e orientações das suas políticas sociais, o governo FHC procura se destacar pela preocupação em garantir a toda a população o acesso aos direitos sociais, por meio de políticas financiadas com fontes de recursos estáveis e a partir de tributação progressiva, condução essencial para que elas assumam efetivamente caráter redistribuitivo (p. 607).
Esta talvez tenha sido a maior contribuição de Fernando Henrique, no contexto especificamente social, afora os efeitos da estabilização econômica.
Fundamentais para o Brasil são programas capazes de formar cidadãos com um mínimo de dignidade. O primeiro passo é acabar com a exclusão social, o que só é possível com crescimento econômico, com programas de desenvolvimento social, com aumento de produção e do emprego. Os esforços precisam concentrar-se especialmente na educação, verdadeiro alicerce para a construção de uma sociedade justa (p. 625).
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[1] SCHOLZ, Cley. Assistência Social. In: LAMOUNIER, Bolívar e FIGUEIREDO, Rubens (organizadores). A Era FHC: Um balanço. – São Paulo: Cultura Editores Associados, 2002, p. 599-626.