Emily Dickinson viveu em meados do século XIX, nos Estados Unidos. Ao longo da vida foi impondo-se um isolamento que está plenamente manifestado em sua obra, divulgada, em grande parte, somente após sua morte. As questões da condição humana são as que mais estão presentes em seus poemas. Em seu isolamento, conseguia colocar em poemas o que realmente sentia. Principalmente toda sorte de dúvidas e impressões sobre a vida. Abaixo um dos meus preferidos poemas.
Para as assombrações, desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa –
A mente tem corredores que superam
Os espaços materiais.
Mais seguro é encontrar à meia-noite Um fantasma, Que enfrentar, internamente, Aquele hóspede mais pálido.
Mais seguro é galopar cruzando um cemitério Por pedras tumulares ameaçado. Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo Em desolado espaço.
O “eu”, por trás de nós oculto, É muito mais assustador, E um assassino escondido em nosso quarto, Dentre os horrores é o menor.
O homem prudente leva consigo uma arma E cerra os ferrolhos da porta, Sem perceber outro espectro, Mais intimo e maior. (Emily Dickinson, Poemas Escolhidos)[i]
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Mais seguro é encontrar à meia-noite Um fantasma, Que enfrentar, internamente, Aquele hóspede mais pálido.
Mais seguro é galopar cruzando um cemitério Por pedras tumulares ameaçado. Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo Em desolado espaço.
O “eu”, por trás de nós oculto, É muito mais assustador, E um assassino escondido em nosso quarto, Dentre os horrores é o menor.
O homem prudente leva consigo uma arma E cerra os ferrolhos da porta, Sem perceber outro espectro, Mais intimo e maior. (Emily Dickinson, Poemas Escolhidos)[i]
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Que fantástico! Nos corredores da mente habita um hóspede do qual estamos sempre evitando o encontro. Trata-se de um "eu", oculto, e que não desejamos que se revele. Prefirimos enfrentar qualquer outro pavor, mas não este que é tão íntimo e poderoso. Mas, dele não podemos escapar. Emily parece falar de algo que nos assombra, mas algo que, ao mesmo tempo, é "nosso". Nossos medos? Provavelmente. Que de pior pode haver que nos depararmos, sozinhos, com nossos medos? É um grande momento, uma grande oportunidade, mas é um embate... um duro embate. Mas, melhor enfrentá-lo que fugir.
[i] In: BENDER, Ivo. (2007) Emily Dickinson: poemas escolhidos. (seleção, tradução e introdução). Edição bilíngüe. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2007, p. 57, 128 p. Série L&PM Pocket, Plus, vol. 436. © da tradução 2005.
O texto em sua versão original é este: "One need not be a chamber – to be Haunted - / One need not be a house - / The brain bas corridors – surpassing / Material place - / Far safer, through an abbey gallop, / The stones a’chase - / Than unarmed, one’s a self encounter / In lonesome place - / ourself behind ourself, conceled - / should startle most - / Assassin hid in our apartment / Be horror’s least / The body – borrows a revolver - / he bolts the door, / O’erlooking a superior spectre - / Or more –".
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