sexta-feira, 31 de maio de 2013

"A Interpretação dos Sonhos" (Freud)

Algum tempo atrás o canal Discovery Civilization discorreu sobre o livro "A Interpretação dos Sonhos", de Freud, em sua série "Great Books". A intenção da série é levantar os principais aspectos de cada obra em questão. No caso deste livro de Freud os principais pontos comentados foram os seguintes.

De acordo com a série, haveria um lado obscuro onde se ocultam o medo, a luxúria, a raiva, desejos inconscientes que não repousam tranquilamente na psique humana e que, através do sonho poderiam ser acessados. O sonho seria aquele momento em que tais desejos inconscientes estariam em campo aberto e, com certa técnica psicanalítica poderiam ser desvendados em seus significados. 

O sonho é um terreno fantasioso onde as leis da lógica não se aplicam, mas o fato é que, depois de Freud, não foi mais tão fácil evitar nossa própria responsabilidade por nosso comportamento inconsciente. Não à toa a psicanálise se transformou em base de boa parte da cultura do século XX. Hitchcock, por exemplo, entre suas brilhantes obras, tentou mostrar um pouco disso em "Quando fala o coração" (Spellbound, 1945), com a lindíssima Ingrid Bergman. O trecho abaixo mostra um pouco dessa dinâmica da interpretação, em linhas muito gerais, evidentemente.


Dessa forma, os sonhos teriam forte papel na revelação de tramas ocultas no inconsciente e o procedimento técnico para essa revelação seria simples: lembrar do conteúdo manifesto do sonho e fazer associações de cada trecho com fatos conscientes, seguidas de interpretações - era a "livre associação" freudiana.

O "sonho de Irma" teria sido o sonho base de Freud que ilustrou este seu novo método, cuja formulação geral era a de que o sonho é a realização de um desejo. Foi isto que o teria inspirado a escrever "A Interpretação dos Sonhos", livro que, à época, vendeu muito pouco e deixou Freud acuado diante de boa parte dos médicos, que resistiam à nascente Psicanálise.

Sua interpretação dos sonhos, então, está totalmente baseada em sua concepção da natureza humana. Esta, para Freud, está sustentada em desejos reprimidos, procedimento necessário para a vida em sociedade, do contrário como sustentar o egoísmo total. É esta "repressão" que, incessantemente, alimenta nosso inconsciente.

Dessa forma, continua a série televisiva, Freud nos falaria, quando de sua análise do sonho, de uma parte da mente que chama de "censura". Parte essa, cuja função é a de impedir que sonhemos nossos desejos de forma literal, do contrário as angústias poderiam ser insuportáveis. Estamos no processo, então, de "elaboração" do sonho. Por isso os sonhos nos parecem tão "ilógicos" e "incompreensíveis".

Em seguida, com o recurso da "condensação", o sonho permitiria a combinação de múltiplos símbolos e imagens "aceitáveis" à censura. Ao final do processo, o ego trabalharia para dar um sentido aparente ao sonho. Desvendar esse sonho manifesto é que é fundamental para revelar o significado oculto latente. Como imaginar, a partir destas considerações que os sonhos ainda fossem mensagens divinas ou premonições? Não se trata, portanto, da mera interpretação de símbolos, mas da busca de seus significados.

Hoje, muitos já não consideram os sonhos tão importantes na psicanálise. pelo menos para aqueles que buscam respostas mais rápidas para acontecimentos mais correntes. Mas, os sonhos continuam a aparecer na clínica e, quando desvendados, auxiliam em muito os tratamentos.

O sonho, portanto, fala de nós mesmos, de nosso inconsciente. Nos fala daquilo que não tem data, mas que está presente e não nos deixa até que possamos lhe dar um significado. Conhecer a nós mesmos, portanto, passa, necessariamente, pela aventura que é buscar o seu próprio inconsciente. O sonho seria um dos caminhos mais interessantes para essa busca.

Como desconhecer o inconsciente? Só mesmo construindo uma versão de uma natureza humana completamente dominada pela razão. Muitos ainda tentam isto!