Mostrando postagens com marcador Fantasia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fantasia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dias de Incerteza!

Estava tentando, inutilmente, arrumar alguns por aqui papéis e encontrei uma coluna do C. Calligaris na Folha, de novembro de 2012 (clique para ler). No texto existe uma pergunta implícita: Por que a dificuldade em se assistir a documentários históricos, políticos ou tragédias e dramas familiares? 

Podemos alegar que, por vezes, não temos conhecimento histórico ou cultural necessário para isso. Mas, isso não explica quase nada. Em que pese a mediocridade do ensino de uns tempos pra cá, que já não fornece subsídios a nenhum aluno, há outra razão. 

Calligaris concorda com a tese de que somos sempre frutos de uma época e de sua cultura. Em muitos aspectos ainda somos uma herança daquele homem revolucionário do século XIX que foi levado a "apreender a ordem do mundo através de sua subjetividade, se identificando com os personagens do romance psicológico", um homem que decide no que acreditar, seguindo seu foro íntimo e suas convicções. Claro que isso não nos define a todos!

O fato é que, a partir desta herança, tivemos que aprender a conviver com a "incerteza", pois muitas tradições "seguras" foram abandonadas. Duas destas "tradições" foram o "orgulho" (aristocrático) e o "fanatismo" (religioso). Sobrava, então, ao homem comum revolucionário e sobrevivente do século XIX a "incerteza". Com estas duas tradições nos colocamos mais facilmente como invencíveis, heróis, extraordinários, eleitos, grandiosos. Com estas tradições acabamos por desenvolver fantasias e delírios megalomaníacos.

Daí, segundo Calligaris, ser difícil lidar com a incerteza, os dramas e as tragédias. É como se não quiséssemos nos identificar mais a nenhum personagem que não fosse heróico, invencível, divertido e feliz. Este é um comportamento que atende às nossas necessidades de fantasiar, de forma heróica e bem humorada, nos dias atuais. Dias de muita incerteza.

Um pequeno exemplo, mas bem representativo disto que Calligaris nos traz para pensar, se deu quando, a pouco tempo, estava fazendo algumas entrevistas em profundidade para um Diagnóstico de Clima Organizacional em uma empresa e um empregado me relatou:
parece que estou vestindo uma capa de super-homem. Seja aqui (no trabalho), seja com os amigos ou em qualquer lugar, tá todo mundo achando que eu tenho que ser perfeito em tudo, quase não tenho tempo pra ser eu mesmo. Tá ficando difícil aguentar
É isso aí. Tá complicado!

(José Henrique P. e Silva)

A saudade que nos reconcilia com o sofrimento!

Em sua coluna de hoje no Estadão, o antropólogo Roberto DaMatta (clique para ler a coluna) nos fala sobre o "sofrimento" e a "saudade". Sabemos que é impossível se pensar em uma sociedade, ou uma vida, sem sofrimento. É só uma utopia nossa, um desejo irrealizável, pois até mesmo nossas memórias estão repletas de momentos de dor e, quantas vezes, encaramos a felicidade como fruto do próprio sofrimento. Não é esse o problema, afinal o sofrimento nos coloca frente a frente com coisas valorosas (honestidade, coragem, aceitação) que nos levam a tentar "reagir". Não há outra saída então, pois sendo impossível evitar o sofrimento é preciso "aceitá-lo" e reagir em prol da busca da felicidade. 


É aí que DaMatta nos lembra de Joaquim Nabuco (1909) dizer que "saudade" é a mais bela palavra de nossa língua, sempre nos levando a pensar em lembrança, luto, desejo e amor - "moedas do sofrimento". É esta palavra que nos reconcilia com o sofrimento, transformando dor, mágoa e ressentimento em... Saudade! 

Adorei esta associação entre sofrimento e saudade feita por DaMatta pois, vocês devem concordar comigo, não é à toa que sentimos muitas saudades do que "não vivemos". Como isso ocorre? Ocorre porque TENTAMOS, HEROICAMENTE, SUBLIMAR NOSSAS DORES DO PASSADO EM PURA SAUDADE DE UM TEMPO E DE UMA VIDA NÃO VIVIDA MAS QUE... DEIXOU SAUDADES.

Esta uma capacidade que temos, um RECURSO PSÍQUICO que utilizamos para lidar e aceitar o sofrimento que a realidade, sem nos pedir licença, nos impõe. A saudade, então, nos faz encontrar um pouco de paz com o passado e com a dor.


(José Henrique P. e Silva)


P.S (1) - Oi Eliana, que bom que gostou. O tema é controverso sim e dói e faz sorrir sim, dependendo do que vamos fazer com ele. Aqui, queria comentar essa "estranheza" Cláudia....a saudade, lá nas suas origens (até terminológicas mesmo) fala de algo que "partiu", que nos deixou "sozinhos", em solidão, algo que nos escapou...enfim...então a saudade é de algo que foi "vivido". Estamos falando mesmo de "perda", ainda que seja a perda de algo bom que vivemos. E a lembrança desse algo pode doer ou nos fazer sorrir. Quando nos faz sorrir sempre digo que a saudade é uma excelente companheira. Quando nos dói, geralmente usamos dois recursos psíquicos: tentamos "esquecer", não lembrando, sepultando, etc., ou tentamos "sublimar" transformando aquilo que foi vivido como dor em saudade de algo que, muitas vezes, sequer vivemos...

P.S (2) - Quantas vezes estamos assistindo a um filme ou lendo a um livro e nos deparamos com uma situação com a qual nos identificamos. Ficamos presos à narrativa, nos transportamos para ela, ficamos sem piscar esperando o desenrolar da trama. Muitas vezes esse desenrolar foi "melhor" que o que aconteceu na nossa vida...aí temos uma boa chance de sublimar, tentando transportar nossa dor para aquele final de trama e dando a chance de nossa dor se transformar em algo mais ameno, suportável...respiramos fundo e passamos a ter saudades daquele desenrolar, que não vivemos, mas que um pouco dele agora vai fazer parte da narrativa do nosso passado. Este tema é legal porque chama a atenção para o fato de que nossas lembranças não são formadas apenas pelo que "vivemos", mas também por "fantasias" e "desejos".

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Opiniões e fantasias conspiratórias (Paranóia)

Querer que as opiniões tenham bons fundamentos em uma época como a nossa é complicado. Hoje as pessoas estão tomadas por comportamentos e pensamentos fundamentalistas (radicais) apegando-se à superficialidade, à imagem, à frases curtas e absolutamente "rasas". A tecnologia de comunicação não facilitou em nada os debates, pelo contrário, gerou a multiplicação de pensamentos simplistas e criticas absolutamente destrutivas. 

É só observar: emita uma opinião polêmica e crítica e, ao invés de você receber um comentário que aprofunde e discuta a questão, você recebe uma crítica cuja única intenção é dizer que tudo sempre foi assim e que todos agem assim. Nesse ponto já não existe debate, mas uma tentativa de fugir à resposta acusando o outro da mesma coisa. 

Isso cansa! É um comportamento paranóico baseado em uma ideia de conspiração. E, como todo comportamento paranóico, revela sempre um forte sentimento de culpa que ao invés de vir à tona para ser discutido, se revela na "acusação" ao outro. É o fim dos debates na nossa era paranóica. Boa sorte Armandinho!!!

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A fantasia na relação com o Outro


Em um época onde o individualismo é tão enaltecido e muitos apostam que podemos ser "inteiros" e "únicos" é bom recordar a frase de John Donne. Acredito muito nisso, pois não me vejo como "um", ou muito menos "inteiro". 

Por mais que esteja me sentindo sozinho, isolado, afastado de todos e do mundo, ou mesmo, por mais que esteja me sentindo forte e autossuficiente, na pior das hipóteses, estou sempre repleto de FANTASIAS em relação ao "mundo" e aos "outros". Mesmo trancafiado em minha vida sempre trago o mundo e os outros para perto de mim mesmo em minhas fantasias. Jamais estamos sozinhos! 

De alguma forma, ainda que em nossas fantasias, estamos ligados ao mundo. Mesmo o psicótico, em seus delírios mais fortes e complexos, mantém suas fantasias a respeito dos outros e do mundo. O que isso significa? Que somos parte de algo maior, que a humanidade nos diz respeito, que o que acontece ao nosso redor nos atinge!

(José Henrique P. e Silva)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Exibicionismo e inveja!

Outro dia, ainda esta semana, assisti uma curta reportagem em um telejornal matutino sobre a inveja que a superexposição de momentos felizes nas redes sociais causa em algumas pessoas. Foi uma matéria curta e superficial, mas valeu pelo tema. É uma questão que pode ser vista voltando-se o olhar para quem busca essa superexposição exibicionista de momentos prazerosos, ou voltando-se o olhar para aqueles que não conseguem suportar estar diante de imagens de felicidade. Importante é perceber que são duas situações "extremas", compulsivas, e que se não tratadas nos adoecem.

Ora, existem pessoas que adoram ser "monitoradas" em sua vida (e por isso se "expõem"), e outras que adoram "monitorar" (e por isso "vigiam"). São personalidades que lidam com a PERFEIÇÃO FANTASIADA, ou seja, parecem só conseguir funcionar no quadro de uma situação em que sentem-se ou buscam ser "perfeitas". Por isso, uns projetam esta aparência de perfeição através do exibicionismo e outros através da inveja, por acreditarem que não são capazes de serem "perfeitas".

O problema é que todos nós temos muito mais problemas do que admitimos ter, então por que sempre achar que a vida do outro é melhor que a nossa? Uma família "perfeita", uma vida "perfeita", acabam sendo somente projeções de fantasias infantis que expressam nossos desejos e angústias (medos, inseguranças, falta de afeto) experimentados naqueles momentos iniciais e prolongados pela vida.

Olhar demais para a grama verde do jardim do vizinho pode só significar que ainda não tivemos a condição para plantar a nossa própria grama, ou que devemos olhar para a nossa grama e percebermos que somos felizes com ela daquela maneira. Da mesma forma, por outro lado, precisar que o outro olhe para a minha grama verdinha é um sintoma do quanto me sinto inseguro com o que sou e com o que tenho.

No fundo, só precisamos apreciar melhor e com muito respeito o que temos e o que somos, e também admirar com respeito o que os outros conseguiram conquistar para si. Em parte, minha vida adquire sentido pelo reconhecimento que o outro me dá... mas só em parte!!! Pois EU preciso também reconhecer o que sou e o que tenho, encontrar a felicidade nisto, e deixar que o outro seja feliz à sua maneira.

Somos interessantes porque somos diferentes! Embora eu goste de ler, posso ser feliz com alguém que adora passar horas no shopping. Embora eu goste de caminhar lentamente pelas calçadas contemplando os pequenos detalhes, posso ser feliz feliz com que adora estar em um carro simplesmente andando por lugares badalados. Embora em goste do silêncio, posso ser feliz com quem adora uma agitação desenfreada. Ou seja, EU SOU FELIZ PELO QUE GOSTO E TENHO, E PELO QUE O OUTRO GOSTA E TEM!!!