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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Outono!

Bem vindo outono... momento em que as lembranças acordam para brincar com as folhas que caem!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A saudade que nos reconcilia com o sofrimento!

Em sua coluna de hoje no Estadão, o antropólogo Roberto DaMatta (clique para ler a coluna) nos fala sobre o "sofrimento" e a "saudade". Sabemos que é impossível se pensar em uma sociedade, ou uma vida, sem sofrimento. É só uma utopia nossa, um desejo irrealizável, pois até mesmo nossas memórias estão repletas de momentos de dor e, quantas vezes, encaramos a felicidade como fruto do próprio sofrimento. Não é esse o problema, afinal o sofrimento nos coloca frente a frente com coisas valorosas (honestidade, coragem, aceitação) que nos levam a tentar "reagir". Não há outra saída então, pois sendo impossível evitar o sofrimento é preciso "aceitá-lo" e reagir em prol da busca da felicidade. 


É aí que DaMatta nos lembra de Joaquim Nabuco (1909) dizer que "saudade" é a mais bela palavra de nossa língua, sempre nos levando a pensar em lembrança, luto, desejo e amor - "moedas do sofrimento". É esta palavra que nos reconcilia com o sofrimento, transformando dor, mágoa e ressentimento em... Saudade! 

Adorei esta associação entre sofrimento e saudade feita por DaMatta pois, vocês devem concordar comigo, não é à toa que sentimos muitas saudades do que "não vivemos". Como isso ocorre? Ocorre porque TENTAMOS, HEROICAMENTE, SUBLIMAR NOSSAS DORES DO PASSADO EM PURA SAUDADE DE UM TEMPO E DE UMA VIDA NÃO VIVIDA MAS QUE... DEIXOU SAUDADES.

Esta uma capacidade que temos, um RECURSO PSÍQUICO que utilizamos para lidar e aceitar o sofrimento que a realidade, sem nos pedir licença, nos impõe. A saudade, então, nos faz encontrar um pouco de paz com o passado e com a dor.


(José Henrique P. e Silva)


P.S (1) - Oi Eliana, que bom que gostou. O tema é controverso sim e dói e faz sorrir sim, dependendo do que vamos fazer com ele. Aqui, queria comentar essa "estranheza" Cláudia....a saudade, lá nas suas origens (até terminológicas mesmo) fala de algo que "partiu", que nos deixou "sozinhos", em solidão, algo que nos escapou...enfim...então a saudade é de algo que foi "vivido". Estamos falando mesmo de "perda", ainda que seja a perda de algo bom que vivemos. E a lembrança desse algo pode doer ou nos fazer sorrir. Quando nos faz sorrir sempre digo que a saudade é uma excelente companheira. Quando nos dói, geralmente usamos dois recursos psíquicos: tentamos "esquecer", não lembrando, sepultando, etc., ou tentamos "sublimar" transformando aquilo que foi vivido como dor em saudade de algo que, muitas vezes, sequer vivemos...

P.S (2) - Quantas vezes estamos assistindo a um filme ou lendo a um livro e nos deparamos com uma situação com a qual nos identificamos. Ficamos presos à narrativa, nos transportamos para ela, ficamos sem piscar esperando o desenrolar da trama. Muitas vezes esse desenrolar foi "melhor" que o que aconteceu na nossa vida...aí temos uma boa chance de sublimar, tentando transportar nossa dor para aquele final de trama e dando a chance de nossa dor se transformar em algo mais ameno, suportável...respiramos fundo e passamos a ter saudades daquele desenrolar, que não vivemos, mas que um pouco dele agora vai fazer parte da narrativa do nosso passado. Este tema é legal porque chama a atenção para o fato de que nossas lembranças não são formadas apenas pelo que "vivemos", mas também por "fantasias" e "desejos".

sábado, 25 de janeiro de 2014

A lembrança como companheira


Essa frase me lembrou uma rápida conversa que tive com uma amiga um tempinho atrás. Me recordo que disse a ela que quando envelhecemos nos tornamos muito felizes com nossas lembranças. E ela me respondeu: "que triste, não quero isso para mim. Não quero viver de lembranças".

Eu fiquei calado, meio que atônito, sem palavras. Mas, depois, percebi que ela sendo ainda muito nova e podendo ter toda a mobilidade e disposição necessária para caminhar e experimentar sensações e encontros os mais diversos, não percebeu que, com o tempo, a "lembrança" de tudo isto pode ser mesmo uma de nossas melhores companheiras.

É nesse ponto que recordo sempre do meu pai sempre dizendo: "Eu vivo muito bem com minhas lembranças, e as de menino são as melhores", e sempre com um sorriso. Não tenho dúvida que chegará o momento em que as lembranças também terão um lugar ainda mais especial ao meu lado. Será o momento em que talvez eu já não tenha mais tanta disposição de ir ao encontro dos outros. Nesse momento, aí sim, tendo as lembranças bem ao meu lado, poderei me encontrar novamente com tudo o que me fez feliz... e simplesmente sorrir!!! 


E por que não? Lembrar também é uma forma de encontrar novamente!!! Não é?

sábado, 21 de dezembro de 2013

Presente

Outro dia me vi diante de uma situação bem interessante. Tinha que comprar um presente para um amigo que há muito não o via. Agora, passados muitos e muitos anos ele era um cara de sucesso e isso podia ser bem medido pelos bens que possuía. Situação complicada! De onde vou tirar uma grana para comprar um baita presente para ele, afinal, o que deve lhe faltar? Depois de ficar me perturbando por um bom tempo tive uma ideia. Eu tinha que ter alguma boa ideia, pois não ia ter a grana mesmo, rsrs. Lembrei que ele, nos tempos de adolescência, quando ainda era um "duro" como eu adorava meus gibis do "Tex" (uma Ranger do oeste americano, mais precisamente do Texas). Ele não comprava e ficava me importunando para emprestar os meus. Mas eu sabia que ele gostava e acabava emprestando. O chato é que me devolvia amassado e as vezes até rasgado. Mas ele lia e gostava muito. Pois é, resolvi procurar bastante e comprei alguns exemplares. Devo ter gasto uns R$ 60,00 em 5 exemplares. No final das contas, para um cara que tem tudo hoje em dia, e pode perder qualquer coisa que não vai lhe fazer falta, achei que o que ele não podia perder mesmo era uma boa lembrança do passado. Deu tudo certo: ele ficou bem feliz e eu economizei bastante.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A "identidade" entre a reflexão e a história

A Revista Piauí, em sua edição n. 55, trouxe um texto de Pérsio Arida que, em minha opinião, merece ser lido por todos. O texto é um relato de sua atuação na luta contra a ditadura e de seu relacionamento com o pai. Há muita sensibilidade e inúmeras lições com as quais podemos encontrar identificações. O texto não merece nenhum tipo de reparo, somente uma leitura muito atenta e respeitosa, por isso, limito-me apenas a transcrever alguns trechos que gostaria que fossem mais e mais compartilhados.
  • "O passado nunca está definitivamente concluído, age sem que o saibamos, ambíguo, esfinge. Há momentos em que desaparece, como se só importasse o cotidiano atribulado. Mas logo reaparece. Como uma sombra que se projeta sobre o presente. E nós o interpretamos continuamente, temos que decifrá-lo repetidas vezes para restituir coerência e identidade à nossa história";
  • "As memórias são lábeis, cada visita ao passado altera a frágil composição do terreno em que estão baseadas. E quando os sentimentos surgem, por milagre, no vigor original, não passam de afrescos preservados debaixo da terra, cujas cores vívidas se esmaecem no ar do presente. Daí minha escolha por um mosaico de fragmentos, flagrantes de emoção justapostos, longe da costura coerente que, tantas vezes, dá vida à ilusão de um processo ordenado";
  • "O tempo trouxe também o amadurecimento e a reflexão, muitas vezes quase tão penosas quanto as memórias do sofrimento. Passado o trauma, sobreveio o desencanto. Eu não me reconhecia mais nas ideias de juventude. Ficava arrepiado ao me lembrar quão naturalmente aceitara esfarrapados argumentos em prol da economia planejada e da propriedade coletiva dos meios de produção, ou da inevitabilidade da implosão do capitalismo. Meu muro de Berlim desmoronara muito antes do de concreto e arame farpado. E, mesmo colocando entre parênteses minha formação de economista, o que pensar do Lênin que lia com tanta avidez em castelhano? Os totalitarismos são todos assemelhados. Aquele rapaz de 17 ou 18 anos que considerava a democracia uma ideologia de dominação burguesa, percebi pouco depois, era de uma ignorância abissal, além de pretensioso";
  • "Eram pensamentos que embrulhavam o estômago. Demoliam sem piedade meus anos de militância comunista. Tinham o efeito de uma traição, tiravam o chão dos meus pés. Mas não havia como evitá-los, não havia canto no qual pudesse armazená-los – eles se impunham por si mesmos, clarividentes. Não se tratava mais da operação insidiosa daquele estranho sentimento de vergonha e constrangimento que tivera ao voltar para casa, aquele sentimento que faz recair sobre a vítima a responsabilidade do mal que lhe foi feito. Tratava-se agora da razão, cristalina e insofismável, mostrando o equívoco daquele esforço revolucionário nutrido de tão boas intenções. A militância contribuiu, por vias tortas, para a volta da democracia – mas nisso se esgotara todo o seu sentido. O mundo de ideais ao qual eu dedicara o melhor de mim perdeu qualquer encanto"
  • "Pois a verdade era uma só: tinha sido levado de roldão pelo movimento coletivo, abdicado da minha própria capacidade de me situar no mundo, arrastado feito uma Maria vai com as outras. E nada havia que pudesse fazer a respeito, a não ser curar as feridas com o tempo e aprender com a experiência. Aprender a prezar a independência de pensamento; a não se iludir com o conforto e amparo que os movimentos coletivos infundem a quem deles participa; e a desconfiar daqueles que invocam a História, o Social, o Interesse Público, o Interesse Nacional ou a pureza e suas boas intenções para violar as liberdades e os direitos individuais".
  • "Mais de quarenta anos se passaram desde os meses de prisão. Mas, ao longo desse tempo, senti pulsar a mesma identidade a cada encontro com os que compartilharam comigo aquelas aventuras de juventude. Éramos todos muito jovens e a vida levou-nos por caminhos distantes... Mas basta revê-los para que no seu olhar eu mesmo me reconheça... Há aqui também uma identidade secreta – habitamos a mesma casa, nossa alma foi construída da mesma maneira. É difícil expressá-la. Talvez se possa dizer de uma atitude de vida que desconfia do individualismo, do sentimento nocivo de que cada um cuida de si (e os outros que se danem), que tão frequentemente apequena as pessoas e tolhe sua humanidade. Ter ousado resistir à ditadura em nome de um mundo melhor não é necessariamente a única maneira de incrustar dentro de si essa desconfiança, mas tê-lo feito torna-a marca de alma indelével. Esta é a herança daqueles anos sombrios, aquilo que nos une, uma identidade secreta que faculta o reconhecimento e o autorreconhecimento. Não é mais nem um ideário nem uma plataforma política – mas quem ousaria dizer que é pouco nestes tempos tomados pelo egoísmo?"
O relato de Arida, evidentemente, trás muito mais que isto. Os trechos onde fala do pai são dignos de muito respeito e admiração. Mas, me atenho a um só comentário acerca dos trechos reproduzidos acima. A vida real, quase sempre, contrasta com as fantasias e ilusões proporcionadas pelas "críticas"; a vida real, quase sempre, vai de encontro à crença da "falsa consciência"; a vida real, quase sempre, resiste a qualquer chamamento para o "levante". Por que, então, imaginar que as pessoas são simplesmente vítimas (ou adeptas) do "pão e circo"? Talvez o despropósito da vida real, quase sempre, desarme qualquer espírito crítico. O desafio, portanto, não está na construção de um belo discurso, mas no desvendar dos movimentos dessa vida real. Só assim poderemos encontrar essa "identidade secreta" que nos une, mas nunca é tao aparente.

(José Henrique P. e Silva)