Mostrando postagens com marcador Psicose. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Psicose. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O Processo de Psicotização

Antes de qualquer coisa, a PSICOSE implica um "processo" onde, em suas linhas gerais, o indivíduo diante de uma realidade cuja dor lhe é insuportável, luta pela violenta expulsão dessa ideia e, á medida que faz isto, vai afastando-se dessa realidade insuportável para, no momento imediato, a reconstruir, de forma mais suportável, sob a forma de delírios e alucinações. É o processo de "psicotização".

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 17 de março de 2014

"Instinto": O papel da ilusão na ideia de "controle" e de "liberdade"

"Instinto" (1998) trata da história de um antropólogo (A. Hopkins) que, após ser dado como desaparecido, foi encontrado vivendo junto a gorilas e que, por matar e agredir guardas florestais, foi preso e colocado sob tratamento psiquiátrico. A avaliação inicial de sua agressividade é a de que sua convivência com animais o teria tornado um deles. O desafio, então, para levá-lo a julgamento, será obter uma avaliação mais completa de seu estado já que se recusa a falar com qualquer um.
 
Na instituição psiquiátrica (para pacientes psicóticos) em que se encontra preso é forte a sua identificação com os mais "fracos" e, apesar de estar fortemente medicado com Haldol (neuroléptico) seus médicos insistem que "ele não fala mesmo", reafirmando a visão dominante de que ele é um "selvagem" e seu silêncio é só uma demonstração dessa "violência contida". Mas, que silêncio é esse? Será que não quer dizer algo que acredita que não entenderão? O que gostaria de dizer? Mais tarde, uma das exigências para a continuidade de sua avaliação é a de que a medicação seja reduzida (decisão vital para o trabalho do terapeuta).
 
É somente ele (e não os médicos) que vai dizer que o momento de falar chegou, e para isso precisa sentir-se em algum "vínculo" (fundamental para o trabalho junto a psicóticos). As vezes um simples olhar já pode significar um forte "contato" e sua resposta, como o gesto de pegar algo ou dar atenção a algo que reconhece, já é uma demonstração de "contato". Assim, mostrar-lhe objetos, fotos etc, sempre com o intuito de estabelecer algum contato entre ele sua realidade passada, e entender que tipo de relação tinha com essa realidade, é sempre uma boa tática. Um dos fascínios que vai estar por trás dessa motivação do terapeuta é justamente a de poder estar muito próximo da condição mais "primitiva" (animalesca) de um homem e sua estratégia será a de "trazê-lo" de volta para o contato com a nossa "realidade". 
 
"...Descreva o que vê!" Pede o terapeuta diante de uma foto mostrada ao paciente. É uma boa forma de começar a entrar no delírio de um psicótico. O cuidado, entretanto, será sempre o de não permitir ser conduzido por ele nessa jornada. Nesse diálogo, então, deve-se ficar muito atento aos gestos do paciente pois é como se ele estivesse hipnotizado, vivendo outra situação que não expressará somente por palavras. Então, se ele para o olhar talvez seja porque esteja "vendo" algo de seu interesse ou realidade. Tudo bem que, apesar de ser tratado no filme como um psicótico, o que ocorre muito mais é um "mutismo voluntário" que surgiu em função de uma mudança de perspectiva vivida pelo sujeito que experimentou um afastamento muito intenso de nossa realidade. Mudança essa que significou uma recusa de determinados valores em troca de outros.
"fiquei feliz com minha lenta jornada ao encontro deles. Senti-me privilegiado. Senti-me como se estivesse voltando para algo que eu perdera há muito tempo e que só agora me lembrara. De repente aconteceu. Eu não estava mais fora do grupo. Pela primeira vez eu estava entre eles..." (A. Hopkins, descrevendo sua aproximação e aceitação na "família" dos macacos).
Com essa aceitação, ele passaria a experimentar uma afinidade, paz, segurança, que jamais conheceria em uma cidade, cercado por pessoas e violências. Trata-se da experimentação de uma verdadeira recusa do nosso "mal-estar", onde a loucura e a violência não encontram paralelo, e são assustadoras. Mas, o que estaria, de fato, por trás do "mutismo" do personagem?
"...Só temos que desistir de uma coisa. Nosso domínio. Não somos donos do mundo. Aqui não há reis nem deuses. Podemos desistir disso? Esse controle é tão precioso? Ser Deus é tanta tentação? ..." (A. Hopkins).
Então, segundo nosso personagem do que mais temos medo em perder? Nosso "controle"? Não! Nossa "liberdade"? Não! Nossas ILUSÕES! Afinal, o "controle" é somente uma ilusão, pois o que realmente controlamos? Da mesma forma, a "liberdade" é somente uma ilusão, pois somos mesmo livres? Nosso maior medo é mesmo o de perder nossas ilusões. Nesse sentido, a grande questão que intriga os avaliadores (é dos gorilas que vem a violência desse homem?) é uma falsa pergunta. Querem entender porque ele se tornou um assassino sem questionar as etapas desse processo de mudança e que o levou ao assassinato.
 
Um aspecto interessante no filme é que  descoberta de "verdades" dá ao nosso personagem certa arrogância para considerar qualquer um como um "idiota" da civilização. Onde estaria o problema? Na falta de confiança em relação a todos? Na sua ilusão de possuir a "verdade"? Ou na ilusão de acreditar em uma "verdade"? É assim que, nossa ilusão em sermos "superiores" nos impede de entender que fazemos parte, compartilhamos esse mundo. Essa "superioridade" (ilusão) nos impele ao "controle" (ilusão) e, para garantir a "liberdade" (ilusão), nos usamos da "violência" (real) como recurso necessário, justamente para manter as ilusões.
 
Onde entra, então, nosso tão forte desejo de "felicidade"? Para que ele surge? Porque dele temos necessidade? Ele vem para aplacar nossa angústia, sempre revelada quando diante da perda de nossas ilusões? Talvez só tenhamos que aprender a sentir e a viver, já que parece tão difícil escapar do jogo das ilusões. Talvez a felicidade seja vista como algo tão difícil porque sempre a colocamos do lado de fora das grades que nós mesmos construímos para uma suposta "proteção".

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Disturbio Paranóide

Certamente, um forte traço paranóide não é algo que o terapeuta goste de encontrar no paciente afinal, pensado como uma "história de amor", o tratamento analítico floresce numa atmosfera de abertura, sinceridade e confiança, e o comportamento paranóide é um veneno a essa confiança. É algo que a destrói e leva ao esgotamento as pessoas que estão ao redor. E tudo começa com um "medo", fazendo surgir um leque de distúrbios¹. Entre os mais leves destes distúrbios está o "pensamento relacional", que é aquele segundo o qual determinado acontecimento, que aparentemente em nada nos diz respeito, na verdade tem uma relação oculta conosco².
 
Exemplos são as superstições e crenças que carregamos, ainda que de forma pouco utilizada no dia a dia. A indústria de amuletos e o horóscopo são outros exemplos desse pensar de modo relacional. Tido isso pode parecer estranho à razão, mas existem outros pensamentos que ultrapassam a fronteira e chegam ao "anormal" quando imagino, por exemplo, que um locutor de rádio está falando diretamente para mim. Mais grave ainda é o que acontece cm os que sofrem com a psicose paranóide. Para estes, os pensamentos tomam a forma de delírios, de fundo religioso por exemplo.
 
Mas, para que um pensamento relacional se transforme em pensamento paranóide é preciso que eu acredite que aquilo que escutei do locutor de rádio, por exemplo, tenha uma má intenção para comigo. Ou seja, Pensamento paranóide é aquele que vê intenções maléficas ocultas em acontecimentos comuns ou aos quais é possível dar significados diferentes, geralmente não ameaçadores³.

Ora, más intenções todos nós admitimos que existem mas, no mundo do paranóide só existem más intenções. Enxergar, num fato simples, um perigo potencial, em si não é um distúrbio paranóico, pode mesmo ser um "alerta". O risco, então, é quando isso ocupa um espaço muito grande na vida da pessoa.
 
Não é à toa que, por vezes, o paciente paranóico lance dúvidas sobre a própria atuação de seu analista. Nesse caso, a contratransferência através da raiva do analista tem que ser evitada, pois será interpretada pelo paciente como uma "confirmação" de que existe uma tramóia e que sua desconfiança, portanto, estava correta.
 
_________
 
¹ O texto foi escrito como uma sinopse do capítulo 13 ("A Sombra de uma Suspeita") de O inimigo no meu quarto, e outras histórias da psicanálise, de Yoram Yovell. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 331-340 (trechos exclusivos sobre a paranóia).
² Pág. 332.
³ Pág. 333.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A "errância psicótica"

Durante algum tempo lidei muito de perto com diversas situações psicóticas (álcool e drogas) e um dos pontos em comum mais evidentes era a chamada "errância psicótica". Sempre vi este comportamento como o de alguém que está "trancado pelo lado de fora", ou seja, apesar de estar do lado de fora e possuir a liberdade ele não tem nenhuma "direção". Seu caminhar seria como um daqueles jogos de "liga pontos" que, entretanto, não forma imagem alguma. Não se trata de uma experimentação da liberdade (como aquela vontade de simplesmente sair por aí sem rumo), pois não há liberdade a ser experimentada por mais que ele tenha o mundo inteiro para andar. Ele está na situação de vítima de um delírio que não lhe permite ancorar em porto algum. Um razoável exemplo desta situação está no filme "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild), cuja busca do personagem por chegar ao Alasca, e alcançar sua maior integração com a natureza, era só um motivo para não chegar a lugar algum. É um belo filme, e a trilha sonora de Eddie Vedder é um show a parte.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Uma rápida leitura: Paranóia (Laplanche e Pontalis)

 
Psicose crônica caracterizada por um delírio mais ou menos bem sistematizado, pelo predomínio da interpretação e pela ausência de enfraquecimento intelectual, e que geralmente não evolui para a deterioração (p. 334).
Esta é a definição de "Paranóia" encontrada no "Vocabulário da Psicanálise", dos autores citados no título deste post. Trata-se, então, em primeiro lugar, de uma patologia que se insere no grupo mais amplo das "psicoses", marcada, portanto, por delírios crônicos. Mas, dizer só isto não basta pois precisamos especificá-la melhor no interior desse amplo conjunto de patologias que é a "psicose". Em grego, a palavra paranóia significa "loucura" ou "desregramento do espírito" e Freud, naquilo que denominou paranóia, agrupou inúmeros delírios crônicos como os de "perseguição", os ligados à "erotomania", os de "ciúme" e os de "grandeza". A paranóia, portanto, é algo mais que simplesmente "mania de perseguição", como comumente se conhece.
 
Nesse sentido, Freud concordou com Kraepelin que já havia distinguido a paranóia das chamadas "demências precoces" (catatonia). Ambas, paranóia e demência precoce, compartilham delírios, mas jamais no mesmo nível de deterioração, pois, no caso da paranóia, se tratam de delírios mais sistematizados e eficazes. Esta é uma primeira grande distinção.
 
Mas, a paranóia também precisa ser bem definida no interior do campo das psicoses, até para não ser, como de fato é, frequentemente confundida com a "esquizofrenia", por exemplo. Ora, não é porque o delírio paranóico também produz uma "dissociação" com a realidade que ela pode ser confundida com a esquizofrenia, embora os sintomas possam combinar-se de diversas formas e proporções.
 
Mais precisamente, a paranóia se define, nas suas diversas modalidades delirantes, pelo seu caráter de defesa contra a homossexualidade. E temos que entender "homossexualidade" para além de sua conotação meramente sexual, ou seja, como "fantasia feminina", de "impotência".
 
É no estudo e desconstrução de seu delírio específico, portanto, que entenderemos melhor o funcionamento desta modalidade de psicose que é a paranóia.
 
A definição proposta pelos autores nos fornece um bom ponto de partida: trata-se de um delírio, bem sistematizado (pois é coerente), com forte caráter interpretativo (explica com veracidade a realidade) e ausência de enfraquecimento intelectual (gera convicções e certezas difíceis de serem abaladas). Por isso, a base do tratamento de um delírio paranóico é, justamente, sua desconstrução e revelação enquanto dissonante (incoerente) em relação á realidade. Tarefa difícil, mas não impossível.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A questão da fala psicótica: uma errância sem ancoragem

Assisti à peça "A obscena senhora D" (Hilda Hilst), interpretada pela excelente Susan Damasceno. Nela, pode se ver o efeito mais trágico do desamparo diante da figura do pai, evidenciada na sua incompreensão diante das mortes do pai e do marido e, especialmente, na sua dura relação com Deus. Recolhida ao vão da escada para falar das conturbações da condição humana nada mais é que uma metáfora para sua psicotização e abandono desta realidade obscena, que é a vida. Estamos todos morrendo, e continuamos absurdos.

Nada me chama tanto a atenção em interpretações assim como a sua linguagem praticamente ilegível, completamente cifrada, sua fala praticamente hipnótica, que nos força a tentar ver um fundo que praticamente não tem fim. Aquele ponto em que a angústia humana no seu sentido mais denso só começou a revelar-se. Por isso, mesmo incompreensível, ninguém sai da mesma forma, pois em algum momento é capturado por esta fala.

Trata-se exatamente disto, de um texto absolutamente incompreensível. Palavras se sucedem numa velocidade extraordinária. Nenhuma regra é respeitada. Elas são cuspidas na nossa cara com uma força incontrolável. Quando você imagina um instante de calma, elas explodem novamente em gritos ensurdecedores. Esta é a fala psicótica. Errante. Incompreensível.

A Obscena Senhora D retrata bem o fato de que não são poucos os casos de delírios religiosos nos estados psicóticos. Nestas situações, em especial, o discurso está "sustentado" na palavra de Deus, tornando muito difícil encontrar e adentrar em suas "brechas", afinal, diante do surgimento de qualquer brecha no discurso, logo vem seu preenchimento pela palavra divina. Entretanto, apesar de ser um discurso sustentado, é uma mentira.

Um dos aspectos que me chama a atenção e que pode, muito bem, servir para manter esta imagem de uma "discurso sem brechas" é a velocidade com que o sujeito em estado psicótico, nestas situações de delírio religioso, especialmente, fala. Trata-se de uma voz rápida, que dispara palavras quase ao ritmo de uma potente metralhadora. Mas, como vejo esta questão? Este "discurso veloz", esta "velocidade" obscurece as brechas de um discurso, na realidade, mal colado, afinal de contas, à medida que ele diminui a velocidade, as brechas se tornam evidentes e, suas palavras "caem". É a reconstrução deste texto sagrado, seguida de sua quebra, que é fundamental no tratamento do estado psicótico.

Na análise da psicose há algo de radicalmente diferente. Temos que viajar, embarcar em algo que não sabemos bem para onde ir. Mas, não tenhamos dúvida, há uma "movimentação", uma "circulação", ainda que errante. A psicose é o que nos mostra, radicalmente, o "estranho". Por isso, quanto mais nos despirmos de projeções do nosso eu sobre a clínica e o paciente, maior a chance de nos depararmos com esse estranho. É preciso se des-subjetivar ao máximo. Entretanto, não há como pensar na errância na escuta analítica, pois a errância é uma forma de "aprisionamento", ela não permite nenhuma "ancoragem", não faz "lugar" e, então, acaba por não circular. Assim, não podemos falar em "escuta errante" pois não conseguimos, enquanto analistas, nos livrar de nossas neuroses.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Observações Psicanalíticas sobre as Psicoses

O objetivo deste rápido texto de Liliane Zolty é oferecer um esboço do que chama de "teoria psicanalítica do processo psicótico". O termo parece levar à crença de que a psicose é uma patologia homogênea, um processo único, mas não é. Todos sabemos que os estados psicóticos se contrastam aos neuróticos e perversos, mas um olhar mais cuidadoso para o seu interior nos vai revelar as diversas formas clínicas que a psicose assume (paranóia, loucura homicida, autismo, psicose maníaco-depressiva, esquizofrenia etc.). É justamente por isso que se prefere dizer que não existe "a" psicose, mas "as" psicoses, unidas, evidentemente, por traços comuns.
 
As principais manifestações psicóticas são as alucinações e os delírios, sempre derivados de uma luta travada pelo EU, que isola-se da realidade, para se livrar de uma dor insuportável que ameaça sua integridade. Freud já a considerava uma "doença de defesa", defesa do EU, para se preservar diante desta dor insuportável (uma "representação" que não consegue assimilar)¹. Mas, como funciona esta "defesa"? Há três momentos muito importantes:
 
1) O superinvestimento de uma ideia ou representação psíquica pelo Eu - Esse superinvestimento, cuja significação se torna transbordante, intolerável, inassimilável pelo Eu, é o que deixa a representação incompatível com as demais representações presentes no Eu;
 
2) Uma violenta rejeição da representação inassimilável pelo Eu - Nesse segundo momento, o Eu expulsa a ideia (acerca da realidade externa) ou representação intolerável. O Eu consegue se desprender da ideia, mas ela continua ligada a um fragmento da realidade, e é justamente por isso que o Eu acaba, ao expulsar a ideia, desligando-se, também, da realidade. Com isto, o Eu faz com que a ideia ou representação fique sem significado, mas o custo é amputar uma parte de si. A expulsão, portanto, é uma metáfora para a brutal retirada de significação da ideia inassimilável. É o que Lacan chama de "Nome do Pai" e Nasio, de "Foraclusão Localizada".
O eu é vazado em sua substância, e a esse furo no eu corresponde um furo na realidade (p. 36).
3) A percepção, pelo Eu, desse pedaço rejeitado - Aqui, a percepção se dá sob a forma de alucinação ou de delírio que, por sua vez, substituem a realidade perdida;
 
A autora descreve sinteticamente o processo dessa forma:
Superinvestimento excessivo de uma representação, retirada violenta de todo o investimento feito nela, constituição de um ponto cego no eu, renegação completa da realidade correspondente e, por último, substituição da realidade perdida por outra realidade, ao mesmo tempo interna e externa, chamada delírio ou alucinação (p. 37). 
O eu fica, assim, dividido: uma parte rejeitada e expulsa, e outra parte alucinada, como nova realidade. Assim, a "voz" escutada é sempre um pedaço errante do eu, que, para o psicótico, ela vem de "fora" (afinal, ela foi expulsa). Na realidade, é um pedaço seu, portanto, é a "voz do inconsciente". Lacan situava o psicótico como uma "testemunha" do inconsciente e de sua força devastadora. O neurótico também ouve esta voz do inconsciente, mas a vivencia de forma distinta.
Enquanto o neurótico, surpreso, admite que seu inconsciente fala através dele e que ele é seu agente involuntário, o psicótico, por sua vez, repleto de certeza, tem a convicção dolorosa e inabalável de ser vítima de uma voz tirânica que o aliena (p. 39). 
________

ZOLTY, Liliane. Observações Psicanalíticas sobre as Psicoses. In: Nasio, J.-D. Nasio (dir.). Os Grandes Casos de Psicose. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, (c) 2000, p. 33-39.
¹ Foi com o estudo do Narcisismo que Freud mais se aproximou da compreensão da psicose, em suas formas esquizofrênica e paranóica. No narcisismo ocorreria uma concentração da libido no Eu, o que vai levar ao isolamento do psicótico em relação ao mundo. É essa energia que superinveste o Eu que deixa de produzir uma fantasia (como no neurótico) e passa a desencadear um delírio, por exemplo, no psicótico.