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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Neutralidade na profissão de analista?

Um dos mecanismos psíquicos que colocamos em prática quando adquirimos algum conhecimento (diploma, curso, formação, profissão, experiência etc.) é o de nos colocarmos, teimosamente, e de modo bastante infantil, numa posição de "suposto saber" e, pior quando a ele logo colamos algo de "poder". Isso fascina a qualquer um, e muitas vezes é disfarçado através do "orgulho" e da "vaidade". 

É evidente que na atuação do psicanalista isso também ocorre (tanto por parte dele que se coloca com este saber-poder, quanto por parte do paciente que delega ao analista essa posição). No meio disso sobra a crença de uma suposta "neutralidade", como se ali, no consultório, existisse um "sujeito" (analista) e um "objeto" (paciente). Ora, isso não é tão simples assim, o que existe é um "par", um "vínculo", uma "relação" que é a principal responsável por todo o tratamento. Talvez este seja um dos grandes trunfos da ética psicanalítica (o que não significa que todos os profissionais a sigam).

Escrevi isso motivado por uma frase que ouvi ontem, mas que se repete sempre: "você não vai ficar lá só me ouvindo, fazendo hum rum e com um bloquinho nas mãos né?". Ora, isso nos fala de um estereótipo criado em torna da atuação do analista, mas que foi e é reforçado por muitos profissionais. E, por outro lado, fala de um forte pedido de "ajuda" por parte do paciente que quer e espera por intervenções de seu analista em prol de sua saúde. 

O fato é que, fazer análise, não é receber "conselhos" de alguém mais experiente ou que conhece mais, mas implicar-se com muita responsabilidade em um processo de transformação pessoal que se dá "na" e a partir "da" relação com o analista. E, nesse processo, é claro que o analista torce, e muito, pelo sucesso do paciente. Este é um vínculo afetivo que nenhuma suposta "neutralidade" terá capacidade de quebrar, sob o risco de perdermos boa parte de nossa capacidade de acolhimento e empatia.

Enquanto profissionais não podemos olhar no espelho e vermos algo diferente do que somos. Aliás, alguém deveria fazer isso? Talvez não... sob o risco de perder-se nas armadilhas do narcisismo!

(José Henrique P. e Silva)