Assisti à peça "A obscena senhora D" (Hilda Hilst), interpretada pela excelente Susan Damasceno. Nela, pode se ver o efeito mais trágico do desamparo diante da figura do pai, evidenciada na sua incompreensão diante das mortes do pai e do marido e, especialmente, na sua dura relação com Deus. Recolhida ao vão da escada para falar das conturbações da condição humana nada mais é que uma metáfora para sua psicotização e abandono desta realidade obscena, que é a vida. Estamos todos morrendo, e continuamos absurdos.
Nada me chama tanto a atenção em interpretações assim como a sua linguagem praticamente ilegível, completamente cifrada, sua fala praticamente hipnótica, que nos força a tentar ver um fundo que praticamente não tem fim. Aquele ponto em que a angústia humana no seu sentido mais denso só começou a revelar-se. Por isso, mesmo incompreensível, ninguém sai da mesma forma, pois em algum momento é capturado por esta fala.
Trata-se exatamente disto, de um texto absolutamente incompreensível. Palavras se sucedem numa velocidade extraordinária. Nenhuma regra é respeitada. Elas são cuspidas na nossa cara com uma força incontrolável. Quando você imagina um instante de calma, elas explodem novamente em gritos ensurdecedores. Esta é a fala psicótica. Errante. Incompreensível.
A Obscena Senhora D retrata bem o fato de que não são poucos os casos de delírios religiosos nos estados psicóticos. Nestas situações, em especial, o discurso está "sustentado" na palavra de Deus, tornando muito difícil encontrar e adentrar em suas "brechas", afinal, diante do surgimento de qualquer brecha no discurso, logo vem seu preenchimento pela palavra divina. Entretanto, apesar de ser um discurso sustentado, é uma mentira.
Um dos aspectos que me chama a atenção e que pode, muito bem, servir para manter esta imagem de uma "discurso sem brechas" é a velocidade com que o sujeito em estado psicótico, nestas situações de delírio religioso, especialmente, fala. Trata-se de uma voz rápida, que dispara palavras quase ao ritmo de uma potente metralhadora. Mas, como vejo esta questão? Este "discurso veloz", esta "velocidade" obscurece as brechas de um discurso, na realidade, mal colado, afinal de contas, à medida que ele diminui a velocidade, as brechas se tornam evidentes e, suas palavras "caem". É a reconstrução deste texto sagrado, seguida de sua quebra, que é fundamental no tratamento do estado psicótico.
Nada me chama tanto a atenção em interpretações assim como a sua linguagem praticamente ilegível, completamente cifrada, sua fala praticamente hipnótica, que nos força a tentar ver um fundo que praticamente não tem fim. Aquele ponto em que a angústia humana no seu sentido mais denso só começou a revelar-se. Por isso, mesmo incompreensível, ninguém sai da mesma forma, pois em algum momento é capturado por esta fala.
Trata-se exatamente disto, de um texto absolutamente incompreensível. Palavras se sucedem numa velocidade extraordinária. Nenhuma regra é respeitada. Elas são cuspidas na nossa cara com uma força incontrolável. Quando você imagina um instante de calma, elas explodem novamente em gritos ensurdecedores. Esta é a fala psicótica. Errante. Incompreensível.
A Obscena Senhora D retrata bem o fato de que não são poucos os casos de delírios religiosos nos estados psicóticos. Nestas situações, em especial, o discurso está "sustentado" na palavra de Deus, tornando muito difícil encontrar e adentrar em suas "brechas", afinal, diante do surgimento de qualquer brecha no discurso, logo vem seu preenchimento pela palavra divina. Entretanto, apesar de ser um discurso sustentado, é uma mentira.
Um dos aspectos que me chama a atenção e que pode, muito bem, servir para manter esta imagem de uma "discurso sem brechas" é a velocidade com que o sujeito em estado psicótico, nestas situações de delírio religioso, especialmente, fala. Trata-se de uma voz rápida, que dispara palavras quase ao ritmo de uma potente metralhadora. Mas, como vejo esta questão? Este "discurso veloz", esta "velocidade" obscurece as brechas de um discurso, na realidade, mal colado, afinal de contas, à medida que ele diminui a velocidade, as brechas se tornam evidentes e, suas palavras "caem". É a reconstrução deste texto sagrado, seguida de sua quebra, que é fundamental no tratamento do estado psicótico.
Na análise da psicose há algo de radicalmente diferente. Temos que viajar, embarcar em algo que não sabemos bem para onde ir. Mas, não tenhamos dúvida, há uma "movimentação", uma "circulação", ainda que errante. A psicose é o que nos mostra, radicalmente, o "estranho". Por isso, quanto mais nos despirmos de projeções do nosso eu sobre a clínica e o paciente, maior a chance de nos depararmos com esse estranho. É preciso se des-subjetivar ao máximo. Entretanto, não há como pensar na errância na escuta analítica, pois a errância é uma forma de "aprisionamento", ela não permite nenhuma "ancoragem", não faz "lugar" e, então, acaba por não circular. Assim, não podemos falar em "escuta errante" pois não conseguimos, enquanto analistas, nos livrar de nossas neuroses.