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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sobre o hedonismo e o pecado

Ainda numa daquelas tarefas insanas e improdutivas de tentar colocar ordem em papéis antigos, peguei umas anotações de uma coluna do C. Caligaris na Folha em que ele comentava a vinda do Papa Francisco ao Brasil. Segundo ele, não são poucas as religiões que combatem o hedonismo atual, ou a ideia do prazer como algo associado ao egoísmo e o consumismo. 

Difícil dizer algo contra esta associação. Mas ela não pode ser vista de forma maniqueísta. É claro que o consumismo tem no hedonismo um parceiro decisivo, mas o hedonismo se resume a isso, a tornar os homens egoístas? Por que a busca do "prazer" se torna um palavrão para muitos, assume uma conotação moral negativa? Será que é só renunciando ao prazer que adotaremos uma moral positiva? 

A questão se torna ainda mais complicada quando estamos sob o aparato cultural de uma religião fundada na ideia do necessário "sofrimento" para a salvação. Existe aí, então, um possível maniqueísmo que exige a suspensão do prazer para se conquistar uma moral elevada e evitar o pecado. Tal associação precisa ser melhor ponderada. Repito, não há dúvida que o hedonismo, hoje, alcança ares egoístas e doentios, mas eliminar a ideia do "prazer" não é a solução para a felicidade do homem.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dias de Incerteza!

Estava tentando, inutilmente, arrumar alguns por aqui papéis e encontrei uma coluna do C. Calligaris na Folha, de novembro de 2012 (clique para ler). No texto existe uma pergunta implícita: Por que a dificuldade em se assistir a documentários históricos, políticos ou tragédias e dramas familiares? 

Podemos alegar que, por vezes, não temos conhecimento histórico ou cultural necessário para isso. Mas, isso não explica quase nada. Em que pese a mediocridade do ensino de uns tempos pra cá, que já não fornece subsídios a nenhum aluno, há outra razão. 

Calligaris concorda com a tese de que somos sempre frutos de uma época e de sua cultura. Em muitos aspectos ainda somos uma herança daquele homem revolucionário do século XIX que foi levado a "apreender a ordem do mundo através de sua subjetividade, se identificando com os personagens do romance psicológico", um homem que decide no que acreditar, seguindo seu foro íntimo e suas convicções. Claro que isso não nos define a todos!

O fato é que, a partir desta herança, tivemos que aprender a conviver com a "incerteza", pois muitas tradições "seguras" foram abandonadas. Duas destas "tradições" foram o "orgulho" (aristocrático) e o "fanatismo" (religioso). Sobrava, então, ao homem comum revolucionário e sobrevivente do século XIX a "incerteza". Com estas duas tradições nos colocamos mais facilmente como invencíveis, heróis, extraordinários, eleitos, grandiosos. Com estas tradições acabamos por desenvolver fantasias e delírios megalomaníacos.

Daí, segundo Calligaris, ser difícil lidar com a incerteza, os dramas e as tragédias. É como se não quiséssemos nos identificar mais a nenhum personagem que não fosse heróico, invencível, divertido e feliz. Este é um comportamento que atende às nossas necessidades de fantasiar, de forma heróica e bem humorada, nos dias atuais. Dias de muita incerteza.

Um pequeno exemplo, mas bem representativo disto que Calligaris nos traz para pensar, se deu quando, a pouco tempo, estava fazendo algumas entrevistas em profundidade para um Diagnóstico de Clima Organizacional em uma empresa e um empregado me relatou:
parece que estou vestindo uma capa de super-homem. Seja aqui (no trabalho), seja com os amigos ou em qualquer lugar, tá todo mundo achando que eu tenho que ser perfeito em tudo, quase não tenho tempo pra ser eu mesmo. Tá ficando difícil aguentar
É isso aí. Tá complicado!

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Hipocrisia na defesa de uma maior ação do estado na sociedade

Pensando nos conceitos de "esquerda" e "direita" C. Calligaris, em sua coluna de hoje (12.12.13) na Folha, aponta para a superficialidade de tais conceitos. Na ideia de uma maior intervenção estatal na economia, por exemplo, diz que isso poderia facilmente mobilizar seu "lado" esquerdista, mas como não pensar, imediatamente, em corrupção e burocracias ineficientes? Diz pertencer a uma geração de baby boomers cujos sonhos com justiça e dignidade nunca significaram ter que confiar em Estados, governos, entidades coletivas, partidos e opiniões dominantes. Mas, reconhece que aceitamos facilmente a tutela moral de Estados e governos, como se fosse normal retribuir assim os benefícios da social-democracia. Então, ser libertário, especula, é resistir a esta tutela moral do estado. Mas, hoje, segundo Calligaris, até a direita adora tutelar o cidadão, visto como vulneráveis e incapazes. A esquerda faz o mesmo, só que com o agravante, histórico, mas hipócrita, por ser insustentável, de declarar sempre querer o bem de todos, até dos que ela persegue. Ele cita o exemplo de François Hollande, presidente da França, que visita hoje o Brasil. Hollande apresentou uma proposta de lei pela qual é preciso abolir a prostituição e, penalizar os clientes das prostitutas, com multas e prisão. Calligaris, então, sugere que Dilma poderia lembra-lo que somos menos hipócritas, pois sabemos que o verdadeiro problema que o governo francês quer resolver não é a prostituição, mas a imigração de mulheres, que tentam ser livres trabalhadoras do sexo e que, em geral, não são vítimas nem de traficantes, nem de cafetões, nem de seus clientes. Por que não deixar em paz as prostitutas? De que tutela estatal estamos realmente falando? De imediato, penso: Será que só podemos ser cidadãos se entregarmos nosso destino aos Estados e Governos? É um bom tema!