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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre o discurso da oposição em 2014

Hoje, no seu Twitter, o Gaudêncio Torquato disse não acreditar tanto que o PT comece a acusar a oposição de querer "vender" a Petrobrás. Segundo ele, é um "truque manjado". E é verdade, afinal, foi assim que ocorreu nas duas últimas eleições com o PT insistindo em "colar" no PSDB o carimbo de "privatista". Mas, hoje, a forma como o PT está tentando "reelaborar" a crise da Petrobrás colocando a oposição como interessada na derrocada da empresa sinaliza bem que, na eleição, esse discurso de "salvação" do patrimônio público pode voltar sim, embora seja "manjado". 

A questão é que agora, com 12 anos de administração petista já é bem possível mostrar o tamanho da "INEFICIÊNCIA" da gestão pública (obras inacabadas, gastos excessivos, aparelhamento, crescimento econômico pífio, dificuldades no mercado internacional). Esse discurso pode ser mais forte até que o da "corrupção" (importante por consolidar os votos de classe média). Não acredito em um discurso novo do PT nesta eleição. Virá, como sempre, sustentado no Bolsa Família, crescimento da classe C e, para isso, irá explorar ao máximo (de novo) o "conflito de classes" (ricos x pobres), a "comparação com FHC", e colocar-se como "salvação". Muito difícil a Dilma sustentar-se da ideia de ser uma boa "gerente" ou "mãezona" (estão fragilizados estes discursos)

Então, insisto que o que está fazendo o governo da Dilma "patinar" na popularidade, não é tanto a corrupção quanto a INEFICIÊNCIA, principalmente em não conseguir sustentar a ECONOMIA do país. Isso é que coloca uma grande INTERROGAÇÃO na cabeça do eleitor: o que virá pela frente com mais 4 anos de Dilma? Por que não mudar? O eleitor está começando a "duvidar". Ou seja, O FIEL DA ELEIÇÃO SERÁ AQUELE ELEITOR DE CLASSE C QUE COMEÇA A DUVIDAR DE UM FUTURO TÃO "CERTINHO" COM A DILMA E O PT, E COMEÇA A MOSTRAR-SE DISPOSTO A "ARRISCAR" (mudar).

Acho que se o Aécio e o Campos "puxarem" o debate para o terreno da "eficiência e competência administrativa" e não caírem na cilada do "conflito de classes" as chances da oposição ficam muito fortes. O problema é que as oposições em 2006 e 2010 ficaram sem "discurso". Naqueles momentos, praticamente nada podia bater de frente com o discurso do bolsa família e do crescimento econômico...mas e agora? A conjuntura é bem outra!!! Existe discurso sim!!!

Além do mais, se o Campos tiver uma boa atuação no Nordeste e se o Aécio tiver um vice de São Paulo, a coisa fica imensamente complicada para o PT.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A conversa dialógica e o "fetichismo da informação" no mundo da política

Estava pensando um pouco sobre o que é mais importante numa conversa, se fazer afirmações ou escutar? Quem já não se questionou sobre isso? Basta lembrar situações em que estamos, por exemplo, numa mesa de bar com amigos onde todos falam ao mesmo tempo e buscam impor seus argumentos, ou quando estamos ouvindo a quem admiramos e parecemos não questionar nem um pouco o que a pessoa diz. 


Nos dois casos há o domínio do que se chama de "fetiche da informação", ou seja, aquela ilusão de que só o que falamos e afirmamos é que tem importância e os demais devem simplesmente ouvir e ficar quietos. Nesses casos não há conversa alguma, só imposição de argumentos, de um lado ou de outro.

Na conversa "dialógica" não temos, necessariamente que chegar a "acordo" algum que signifique a eliminação do "outro", não temos que nos "confrontar" para eliminar um argumento, nela temos que exercitar a capacidade de "escutar" principalmente. Diria que esta é a conversa democrática por excelência, pois o mais importante não é "vencer" um debate, mas "escutar", trocar, se conscientizar mais do próprio ponto de vista e ampliar a compreensão entre todos que conversam. Bem, pode até ser a conversa de tipo mais "democrático", mas não me perguntem se, de fato, é este tipo de conversa que ocorre numa democracia, ou mais especificamente no mundo político.

Seja no interior dos parlamentos, seja na relação com a mídia, a política praticamente desconhece a conversa dialógica. Em momentos de disputa eleitoral, nem pensar. A questão é o confronto direto e tudo cede lugar ao marketing. Ok, essas são as regras! O discurso político está mesmo reduzido ao "mínimo possível", ou seja, quanto menos palavras maior a chance de ser internalizado. Vivemos uma era de informações rápidas, multiplicadas, mas com pouquíssima substância e nenhuma disponibilidade para o debate. É de se pensar onde, e em que espaços a conversa "dialógica" está sobrevivendo! Na mídia? Nas Universidades? Não sei! Cada vez tenho menos ideia disso!

O fato é que, no mundo da política, mesmo de deixarmos de lado os momentos de confronto (como as disputas eleitorais) vemos que a conversa dialógica está cada vez mais ausente, mesmo naquelas pequenas reuniões partidárias onde todos teriam que ter a chance de falar e de, principalmente, saber escutar. Aí complica tudo! Como dar legitimidade às decisões "coletivas"? Essa é uma boa pergunta para a democracia responder!

(José Henrique P. e Silva)

sábado, 22 de junho de 2013

13 equívocos no discurso de Dilma, em 21/06/2013

O Brasil vive um momento muito especial em termo de politização e de discussão pública de temas tradicionalmente circunscritos a especialistas, mídia e atores políticos. O processo começou "não oficialmente" com a retomada da inflação desde o início deste ano e foi adensado por um ritmo de crescimento econômico tão baixo que, no máximo, só consegue manter os níveis de emprego do jeito que estão. 

Havia, portanto, um clima de insatisfação no ar. Lula antecipou o debate eleitoral, ainda em fevereiro, e a oposição mostrou que estava disposta a levar muito a sério a disputa de 2014. Eduardo Campos começou a ocupar espaço na mídia, Marina Silva iniciou a reorganização de seu partido e Aécio Neves conseguiu a união do PSDB em torno de seu nome.

De um lado, um quadro econômico pouco promissor e insatisfação ascendente. De outro, uma oposição animada e ansiosa por 2014. Não deu em outra. A aprovação do Governo Dilma caiu 8 pontos percentuais, com sérias desconfianças sobre sua capacidade de corrigir os problemas econômicos.

Lutando contra a aceleração da inflação, Dilma havia solicitado que as prefeituras e governos não elevassem as tarifas de transporte público no início do ano, e tudo ficou para junho. E assim foi. Subiram as tarifas em junho. Com um histórico de conflitos já acontecidos em algumas capitais brasileiras motivados pela alta das tarifas, surge em São Paulo um movimento de resistência. 

Vem às ruas a luta pela redução da tarifa. Começa a revolta dos R$ 0,20, liderada pelo Movimento Passe Livre, uma pequena organização de extrema-esquerda apoiada politicamente pelo PSOL e PSTU, mas que se define como apartidária. Até aí tudo bem, sua causa é horizontal, enquanto seu posicionamento ideológico é de extrema-esquerda.

De imediato a "causa" dos R$ 0,20 foi amplamente superada por uma lista de causas mais difusas que acabaram por se concentrar na questão do mau uso do dinheiro público e da corrupção. Mas, isso só se deu porque as manifestações deixaram de ser "puxadas" pelo Movimento Passe Livre e a sociedade como um todo ocupou as ruas.

Perdendo o controle de uma situação que visava, politicamente, sitiar o governador de São Paulo, e vendo que a causa das manifestações dirigiam-se, na totalidade, ao Palácio do Planalto e, além disso, saíram de São Paulo e explodiam pelo Brasil afora, o PT, motivado por Lula e seu presidente Rui Falcão, enviam às ruas os militantes do PT. O clima é de disputa de "espaço". Controlando as manifestações o PT diluiria as críticas ao governo federal. 

Não foi o que se deu. Foram mal aceitos nas manifestações e nasceu, daí, o discurso de que a "direita" estava controlando as manifestações, além de todo um "chororô" afirmando que os manifestantes estavam sendo "antidemocráticos" por não aceitar a presença de bandeiras partidárias. Ora, vamos falar sério, o PT tenta desqualificar as manifestações e depois vem querer ocupar um espaço para direcionar as manifestações. O povo não é tão ingênuo Deputado Rui Falcão.

Depois que a população deu seu recado principal e o próprio PT perceber que não tinha muito como "sair dessa", e tendo que enfrentar séria rejeição entre os manifestantes, e, ainda, apostando que as manifestações se desmoralizariam com a violência, a presidente vai às TVs para dar a sua opinião sobre tudo.

Sobre este discurso, aponto 13 grandes equívocos na fala da presidente Dilma, a partir de uma rápida análise de seus sentidos implícitos (1):

1) Discurso esteticamente feio e vazio - A presidente passa muito pouca segurança. Seu discurso não é contínuo, é sempre recortado, como na eterna busca eterna por um sorriso, por uma simpatia, uma expressão mais leve. Suas frases são mal "arrumadas", parecendo não trabalhar bem a pontuação e as necessárias ênfases e tons. Sua expressão está sempre carregada de um nervosismo, que tenta esconder sob uma fala mais "dura", do tipo "gerente". Não é um discurso atabalhoado, mas é um discurso fraco do ponto de vista da comunicação, soando quase sempre como "vazio" por não permitir que fiquem guardados seus pontos principais;

2) Desqualificação das manifestações, vistas como de "jovens" - A presidente fala que as manifestações mostram o desejo da juventude em avançar. Não! Não se trata de um movimento da juventude. Seria se tivesse ficado sob controle do Movimento Passe Livre e se sua pauta se restringisse aos R$ 0,20. Foram as famílias que foram às ruas, foram os adultos que somaram-se a todos os jovens, foram crianças que sentaram no asfalto para pintarem seus cartazes, num imenso aprendizado de cidadania. E mais, associar as manifestações aos "jovens" pé querer, de alguma forma, circunscrevê-la a uma suposta inclinação "natural" do jovem para a rebeldia, primeiro passo para sua desqualificação;

3) Não reconhecimento das manifestações, associadas à baderna - A presidente oscila, permanentemente, entre um reconhecimento das manifestações como legítimas e um "alerta" com relação à violência. A presidente não percebe que uma coisa é a "manifestação" e outra coisa é a ação isolada de "vândalos". Seu não entendimento causa uma confusão conceitual que muito facilmente leva a opinião pública a associar manifestação com violência (nisso, evidentemente, o discurso da presidente é reforçado pela cobertura jornalística). Não à toa, seu curto discurso está repleto de "ameaças": "correndo o risco de colocar muita coisa a perder"; "ouvir dentro dos primados da lei e da ordem"; "fazer isso de forma ordeira e pacífica"; "violência que envergonha o Brasil"; "vamos manter a ordem";

4) Desqualificação das lutas presentes, quando comparadas às lutas passadas - Ao afirmar que "o Brasil lutou muito para se tornar um país democrático" e que "não foi fácil chegar onde chegamos" há uma sobrevalorização das lutas contra a ditadura, sem perceber que a democracia não se conquista simplesmente com a luta contra uma ditadura, mas com sua construção no cotidiano da população. Nesse sentidos, manifestações cidadãs como as atuais são tão os mais importantes que as lutas contra um ditadura. Do contrário, o que terá sobrevivido será sempre uma democracia fisiologista e péssima em termos de representação política. Uma espécie de Democracia sem República. Alguém lembra quando um dos defensores de José Dirceu disse que ele deveria ser absolvido "por tudo que já fez pelo país". Ora, se isto for verdade, na melhor das hipóteses ele é um traidor de suas causas e do próprio país, pois teria lutado em causa própria;

5) Institucionaliza o debate público acerca da política - Todos sabemos que o PT construiu sua história em grande parte nas ruas, com fortes mobilizações, com recusas em assinar a Constituição de 1988, com recusa em aceitar o Plano Real, com fortes ataques aos governantes deste país etc. Ótimo, sem problemas, justamente porque isso mostra que política se faz nas ruas sim. Então, porque a presidente dar mais destaque aos minoritários atos de violência que ao pacifismo das manifestações? Ela simplesmente está adotando a ótica do "poder", ou seja, de quem está no comando e, para quem, a ordem é fundamental. Entretanto, é na desordem que se avança também, e de forma legítima. Como o próprio PT fez em toda a sua história e que, agora, parece perplexo diante de movimentos de massa contra si mesmo;

6) Forte contradição quanto ao uso da força militar - No início das manifestações em São Paulo o Ministro da Justiça veio a público, de forma quase irônica, oferecer ajuda ao governador para "conter" a violência de forma "adequada". Aquele foi o momento de auge do PT pois a questão parecia se canalizar para a "incompetência do governador de SP em lidar com a segurança pública", tema que o PT vai adotar de forma central nas eleições do próximo ano aqui em São Paulo. mas, quando a coisa saiu do controle ressurge o "discurso de ordem" e de intolerância". O que o Governo Dilma pensa, de fato, sobre a segurança pública? Isso é uma incógnita;

7) Pega carona nas manifestações, sem nenhuma auto-crítica - Ao querer aproveitar o "vigor" das manifestações diz que sua pauta ganhou prioridade nacional. Mas, como? Vai haver um combate à PEC 37? O que vai ser feito contra a corrupção? Nada disso foi dito. trata-se de uma "apropriação" meramente ideológica, vazia de conteúdo e sem qualquer possibilidade de resposta futura em termos de atendimento às causas levantadas. Pior, em nenhum momento a sua fala reconhece algum problema, algum erro. Diz que "não abre mão" do combate à corrupção e desvio de recursos públicos, mas o que faz, de fato, contra isso? Era esse o ponto central do seu discurso e só ocupou duas linhas ou poucos segundos;

8) De novo, a promessa de melhorias - O PT se elegeu à Presidência, em 2002, com um fortíssimo discurso de "esperança", assentado, fundamentalmente, nas questões da educação, segurança e da saúde. O que foi feito, de fato? O que mudou, qualitativamente falando? O que mudou em termos de gestão? Conversar com governadores e parlamentares em busca de um "pacto"? O que é isso, de fato? 11 anos de governo petista e nada significativo na área de saúde e educação? Inacreditável!

9) Transferência do problema para "terceiros" - Colocou a responsabilidade sobre a aprovação dos 100% de recursos do petróleo nas mãos do Congresso. É um ultimato, novamente? Disse que vai trazer "milhares de médicos do exterior". Que oportunismo! Por que não discutiu essa questão ao longo dos 11 anos em que o PT está no poder?

10) Demagogia - A presidente diz que vai receber os líderes das manifestações. Que líderes? estes, que diante da pressão petista, recuaram e disseram não mais convocar nenhuma manifestação? Vai transferir mais recursos públicos para eles? E a reforma política, vai ter mesmo prosseguimento? Ou trata-se de um discurso que, mais uma vez, só é muito bom para ser usado nos momentos em que os políticos estão sob fogo cerrado? O que a presidente vai, de fato, propor em termos de reforma política para garantir maior cidadania? Ela já sabe das dezenas de propostas que existem no Congresso Nacional? Já ouviu falar sobre o "Voto Distrital"?

11) Cinismo I ? - Dizer que a transparência é o melhor combate à corrupção e "fechar" o acesso aos gastos com viagens da comitiva presidencial não é bem o que se entende por uma fala coerente. Ou é má-fé ou uso indevido da paciência dos outros;

12) Cinismo II ? - Dizer que o dinheiro público (e não do "Governo Federal") gasto com os estádios é fruto de financiamento e que vai ser devolvido pelas empresas é brincar com a racionalidade dos que conhecem a história dos "perdões" de recursos públicos em nome do "interesse nacional". É preciso, sobre isso, um discurso mais claro, duro e transparente acerca dos reais benefícios que a Copa vai deixar para o país, de como esses recursos serão devolvidos e das razões para tanto atraso nas obras e liberação de recursos sem licitação;

13) O momento de "jogar com a platéia" - É próprio do discurso político apelar a "brincadeirinhas" para aliviar a pressão do momento. Lula foi o maior entre todos nesta "arte". Agora, apelar à nossa "alma" e nosso "jeito de ser" futebolístico ao dizer que participamos de todas as copas, ganhamos cinco delas e sempre fomos bem recebidos em todo lugar, é demais! Acho que 95% dos intelectuais petistas sempre foram radicalmente contrários ao uso ideológico do futebol na política. Por que isso agora? É a "Pátria de Chuteiras" de volta? O PT não consegue ser mais inteligente que isso? Para fechar, nada mais ideológico que dizer "... o Brasil fará uma grande copa...";

OK, presidente, podemos até tirar a camiseta branca das manifestações e vestir a amarela da seleção brasileira. Mas, coloque-se no lugar da população e veja se este seu pedido tem o mínimo de coerência, dada a urgência de resposta do Governo Federal às necessidades sociais e efetivo combate à corrupção. Ah, e por favor, peça a seus assessores e intelectuais para pararem de classificar de "udenismo moralista" a luta dos que são contra a corrupção, afinal, o dinheiro que lhe paga, e aos seus assessores, é nosso, do povo brasileiro.

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Todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.

Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a perder.

Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.

O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os poderes da República.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

O governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.

Brasileiras e brasileiros,

As manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças, mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.
A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros.

Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.
Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão.

Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar.
Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.

O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS.

Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.

Brasileiras e brasileiros,

Precisamos oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.

Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes.

Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos os poderes da República e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. Aliás, a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.

Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.

Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso Nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação.

Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria, é assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacífica entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.

Minhas amigas e meus amigos,

Eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça.

Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.

Boa noite!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O discurso político: lugar de um "jogo de máscaras" que tem sua eficácia

Um dos autores que mais gosto, quando se trata de entender o discurso político, é Patrick Charaudeau¹. Ele nos diz, pra início de conversa, que o discurso é um "jogo de máscaras" e que a "máscara" é um símbolo de "dissimulação" que tenta nos oferecer uma determinada "imagem". Não mais que isso. Por isso, não adianta buscar "por baixo" da máscara uma suposta "realidade oculta", uma suposta "verdade". Estamos falando de "imagem" e não de "verdade". É preciso saber diferenciar.

É justamente esta "imagem" que permite a identificação entre a máscara e a pessoa, fazendo surgir uma "personagem". Talvez seja isto mesmo o máximo que possamos saber de alguém. Claro que isso é frustrante para quem busca a verdade e a "verdadeira" personalidade das pessoas. Mas, se formos sensatos e lembrarmos que é a partir de percepções que construímos nossos conceitos sobre as pessoas, aceitaremos este ponto de vista. Não se trata, então, de uma "falsa" pessoa, mas de uma "personagem".

MÁSCARA (Dissimulação, "imagem") 
PESSOA (Personagem, "ser presente")

Por exemplo, num encontro (momento de troca) onde um enuncia e o outro interpreta e, em seguida, responde, ambos agem em função do que imaginam do outro (imagens). Assim,
... cada um é para o outro apenas uma imagem. Não absolutamente uma imagem falsa, uma aparência enganosa, mas uma imagem que é o próprio ser em sua verdade da troca. Nesse momento, a máscara seria nosso ser presente (...) O discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras. Toda palavra pronunciada no campo político deve ser tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e não diz. Jamais deve ser tomada ao pé da letra, numa transparência ingênua, mas como resultado de uma estratégia cujo enunciador nem sempre é soberano (p. 8 - prólogo).
Por isso, a principal tarefa quando se trata de estudar o discurso político é, justamente, identificar como se instaura esse jogo de máscaras. E isso vai exigir, identificar o cenário da prática social em que se move o discurso; Identificar o quadro de trocas e, identificar os meios discursivos utilizados para persuasão e sedução.

É partindo deste ponto de vista, do discurso político enquanto um "jogo de máscaras", que Charaudeau nos provoca, perguntando:
... há verdadeiramente, como sustentam alguns, degenerescência do discurso político ou deve-se pensar em uma nova ética do conceito político? (p. 9 - prólogo).
Esta "provocação" é excelente e oportuna pois nos permite, de imediato, escapar ao "moralismo" que tanto contamina as análises sobre a política e, especialmente, a "fala" política. Nos permite escapar da ideia de buscar um suposto discurso político "sincero", "verdadeiro" e "transparente", ou, de outra forma, não cair na vala comum dos que desacreditam em qualqeur discurso político. Talvez o mais sensato seja mesmo pensar em "modalidades" de discurso.

Então, estamos falando de um discurso que possui uma imagem que representa uma personagem. Mas, esse discurso tem eficácia? E se tem, como avaliá-la?

Quando falamos do Discurso Político estamos falando da "Palavra Política", uma palavra que está  inscrita em uma prática social, ou seja, que circula em um espaço público de trocas e que tem sempre algo a ver com as relações de poder, e que exige a observação de três princípios que dizem respeito ao "outro": Princípio da Alteridade (o "outro" deve ser reconhecido); Princípio da Influência (o "outro" é trazido para o raio de influência); Princípio da Regulação (o "outro" não é passivo, ele fala e age, então existe uma "relação" que precisa ser gerenciada).

É fundamental, então, que o "outro" se reconheça no discurso, se convença em seu pensamento e se sinta sujeito da fala do político. É neste contexto, em que o outro reconhece-se e é reconhecido, que a troca ocorre com maior eficácia, pois há a criação e reforço do "vínculo".

Tudo isto implica que o estudo da "palavra" não é, necessariamente, o estudo da "ação" , das "instâncias" (partes interessadas na ação) ou dos "valores" (em nome dos quais as ações são realizadas), embora a palavra permeie todos estes setores, conforme abaixo:
  • É a ação política que organiza e determina a vida social. Mas, para que as decisões e ações sejam coletivas é preciso haver "entendimento" quanto ao projeto e quanto ao objetivo comum. Isso exige transparência e comunicação em espaços de discussão (públicos, por exemplo);
  • A instância "cidadã" leva ao poder a instância "política" para que este realize o "desejável", mas esta só consegue realizar o "possível", daí a dificuldade do exercício político;
 ... isso faz com que ao espaço de discussão que determina os valores responda um espaço de persuasão no qual a instância política, jogando com argumentos da razão e da paixão, tenta fazer a instância cidadã aderir à sua ação (p. 18).
  • Os valores são as ideias defendidas no espaço de discussão e funcionam como um "terceiro" em torno do qual as pessoas (e o político) se agrupam - é o ideal compartilhado, mas isso não implica a subtração de outras opiniões pois a sociedade é fragmentada. A necessidade de "gerenciar" os conflitos oriundos é de vital importância;
Pode-se concluir, então, que é pela existência dos espaços de discussão e persuasão, lugares de elaboração dos valores dos quais depende a ação, que o campo político surge, antes de mais nada, como o "governo da palavra" (M. Augé, "Pour une anthropologie des mondes contemporains", 1994).  Essa concepção nos leva a perceber o debate de ideias, no espaço público, como uma luta discursiva para a conquista da legitimidade

É nessa relação que se dá o "jogo de máscaras" que é o discurso político em sua troca com a sociedade. E são dois os espaços em que se dá: o espaço "político" (núcleo duro) e o espaço "público", mais amplo, onde três atores se manifestam: políticos, jornalistas e opinião pública.
Encontramo-nos, assim, em um jogo em que todos mudam sob a influência dos outros: a opinião sob a influência das mídias, as mídias sob a influência da política e da opinião, o político sob influência das mídias e da opinião (p. 25).
Não à toa existe uma confusão entre os espaços dos atores.
Tudo isso faz com que as fronteiras entre os diferentes setores de atividade, entre os espaços de decisão, de persuasão e de discussão, e entre espaço público e privado tornem-se mais e mais flúidas (...) O conceito de espaço público seria pouco operatório? O certo é que o espaço público não é homogêneo. Ele é fragmentado em diferentes espaços que se entrecruzam e não respondem às mesmas finalidades. O discurso político circula nesses meandros metamorfoseando-se ao sabor das influências que sofre de cada um deles (p. 31).
É neste espaço confuso que se dão os conflitos entre a política, a mídia e a opinião pública, e é nele que deve ser buscada a luta discursiva (simbólica) por legitimação e poder.

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¹ CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. - São Paulo: Contexto, 2006 © 2005.