Certamente, um forte traço paranóide não é algo que o terapeuta goste de encontrar no paciente afinal, pensado como uma "história de amor", o tratamento analítico floresce numa atmosfera de abertura, sinceridade e confiança, e o comportamento paranóide é um veneno a essa confiança. É algo que a destrói e leva ao esgotamento as pessoas que estão ao redor. E tudo começa com um "medo", fazendo surgir um leque de distúrbios¹. Entre os mais leves destes distúrbios está o "pensamento relacional", que é aquele segundo o qual determinado acontecimento, que aparentemente em nada nos diz respeito, na verdade tem uma relação oculta conosco².
Exemplos são as superstições e crenças que carregamos, ainda que de forma pouco utilizada no dia a dia. A indústria de amuletos e o horóscopo são outros exemplos desse pensar de modo relacional. Tido isso pode parecer estranho à razão, mas existem outros pensamentos que ultrapassam a fronteira e chegam ao "anormal" quando imagino, por exemplo, que um locutor de rádio está falando diretamente para mim. Mais grave ainda é o que acontece cm os que sofrem com a psicose paranóide. Para estes, os pensamentos tomam a forma de delírios, de fundo religioso por exemplo.
Mas, para que um pensamento relacional se transforme em pensamento paranóide é preciso que eu acredite que aquilo que escutei do locutor de rádio, por exemplo, tenha uma má intenção para comigo. Ou seja, Pensamento paranóide é aquele que vê intenções maléficas ocultas em acontecimentos comuns ou aos quais é possível dar significados diferentes, geralmente não ameaçadores³.
Ora, más intenções todos nós admitimos que existem mas, no mundo do paranóide só existem más intenções. Enxergar, num fato simples, um perigo potencial, em si não é um distúrbio paranóico, pode mesmo ser um "alerta". O risco, então, é quando isso ocupa um espaço muito grande na vida da pessoa.
Não é à toa que, por vezes, o paciente paranóico lance dúvidas sobre a própria atuação de seu analista. Nesse caso, a contratransferência através da raiva do analista tem que ser evitada, pois será interpretada pelo paciente como uma "confirmação" de que existe uma tramóia e que sua desconfiança, portanto, estava correta.
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¹ O texto foi escrito como uma sinopse do capítulo 13 ("A Sombra de uma Suspeita") de O inimigo no meu quarto, e outras histórias da psicanálise, de Yoram Yovell. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 331-340 (trechos exclusivos sobre a paranóia).
² Pág. 332.
³ Pág. 333.
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