Conceituar "política", como nos diz Iain Mackenzie¹, já é assumir uma determinada posição política. Apesar das dificuldades, entretanto, ele nos oferece um bom caminho para se pensar um conceito de política, claro que sem qualquer pretensão de esgotar o assunto.
A política seria uma "atividade", realizada em "conjunto", em "interação", visando a "solução" de "problemas" (divergências, conflitos, bem comum), através de "consensos" e maiorias (o que implica cooperação) que resultem em "normas" e padrões comuns a todos. Em síntese,
A política seria uma "atividade", realizada em "conjunto", em "interação", visando a "solução" de "problemas" (divergências, conflitos, bem comum), através de "consensos" e maiorias (o que implica cooperação) que resultem em "normas" e padrões comuns a todos. Em síntese,
Política tem a ver não só com discordâncias sobre se a política trata da resolução de conflitos ou da cooperação em prol de valores comuns, mas tem a ver com o que somos: será que "nós" somos agentes individuais em controle dos próprios interesses, desejos, valores, costumes, e assim por diante, ou será que "nós" somos indivíduos profundamente moldados pela maneira como essas coisas são transmitidas em termos de prática e estrutura social (p. 16).²
Me parece que existe aí uma questão acerca de nossa "RESPONSABILIDADE" sobre a política e seus resultados. De qualquer forma, em uma definição deste tipo a "política" escapa ao campo meramente institucional e ganha uma dimensão de "interação" e "cooperação". Isso faz com que tenhamos a oportunidade de pensar a ação política como resultado não somente da ação de atores institucionais (parlamentos, políticos, partidos, lideranças etc.) mas, fundamentalmente, a partir das mais simples interações no cotidiano.
O que fica de lição? Que não se pode ficar esperando que a solução de problemas ou a adoção de medidas que favoreçam o bem comum venham somente das instituições e governos. Essas agem, em grande parte, sob a pressão, que nelas se reflete, oriunda de outros atores da opinião pública (imprensa, grupos organizados e a própria opinião pública). Abdicar a esta concepção de política significa ficar refém de concepções que negam ao indivíduo sua responsabilidade sobre seu destino. Exemplos? Populismos demagógicos e autoritarismos de toda espécie, seja de "esquerda" ou de "direita" (confesso que não coloco uma unha no fogo por estes conceitos).
A política, então, só se torna "perversa" quando é abandonada pelos cidadãos e deixada aos "especialistas" e "técnicos". Não à toa, hoje em dia, quando cidadania e emancipação são, em grande parte, entendidas como "bem-estar material" (consumismo) vivemos um momento de "refluxo" do interesse pela política e, em consequência, maior possibilidade de "aventuras populistas" dentro da "democracia". Se não nos mantivermos, portanto, em permanente contato, em interação sobre os rumos de nossa política, como poderemos nos queixar quando intervierem negativamente em nossos destinos?
Se na psicanálise clínica nos utilizamos do conceito de "responsabilização" para enfatizar que somos, nós mesmos, os principais responsáveis por nossas atitudes e por nossos dramas, porque não extrapolar esse conceito para o campo da política, através da "interação social". É nesse espaço de interação que se constrói e se mantém, portanto, uma mútua responsabilidade sobre nosso destino, tanto individual, quanto coletivo, se é que é possível pensar nesta divisão.
Assim, tanto no campo de nossas ações individuais, quanto no campo das interações para a ação política, não conquistamos nossa liberdade sem o preço da responsabilidade. Desfrutar de uma liberdade sem responsabilidade seria, simplesmente, ceder a um espaço inconsciente de gozo absoluto, destrutivo, absolutamente narcísico, e incapaz de gerar laço social.
Não precisamos negar a política, mas podemos negar as formas como ela vem sendo praticada e entregue nas mãos de supostos "especialistas" e "técnicos" que, encastelados em suas "instituições" se colocam como benfeitores e "protetores" do povo. É preciso ter cuidado com isso, pois cada vez que acreditamos em um "herói" abdicamos um pouco mais de nossa própria força.
Se na psicanálise clínica nos utilizamos do conceito de "responsabilização" para enfatizar que somos, nós mesmos, os principais responsáveis por nossas atitudes e por nossos dramas, porque não extrapolar esse conceito para o campo da política, através da "interação social". É nesse espaço de interação que se constrói e se mantém, portanto, uma mútua responsabilidade sobre nosso destino, tanto individual, quanto coletivo, se é que é possível pensar nesta divisão.
Assim, tanto no campo de nossas ações individuais, quanto no campo das interações para a ação política, não conquistamos nossa liberdade sem o preço da responsabilidade. Desfrutar de uma liberdade sem responsabilidade seria, simplesmente, ceder a um espaço inconsciente de gozo absoluto, destrutivo, absolutamente narcísico, e incapaz de gerar laço social.
Não precisamos negar a política, mas podemos negar as formas como ela vem sendo praticada e entregue nas mãos de supostos "especialistas" e "técnicos" que, encastelados em suas "instituições" se colocam como benfeitores e "protetores" do povo. É preciso ter cuidado com isso, pois cada vez que acreditamos em um "herói" abdicamos um pouco mais de nossa própria força.
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¹ MACKENZIE, Iain. Política: conceitos-chave em filosofia; tradução: Nestor Luiz João Beck. - Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 9-17.
² Neste ponto, o autor nos parece falar de uma dicotomia entre um sujeito "individual e racional" versus um sujeito que "resulta do social". É um momento muito interessante pois talvez aqui precisemos recorrer à Psicologia Social para nos apegarmos a uma concepção de sujeito que, ao mesmo tempo que possui sua singularidade individual, vai formando-se e ganhando especificidade justamente na interação social. A dicotomia, portanto, pode revelar-se falsa.
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