terça-feira, 26 de novembro de 2013

Acertos de contas!

Dos 40 ele já havia passado. Estava próximo dos 50. Ok, tudo bem. Ele se sentia legal, mas incomodado. Se pegava fazendo comparações. Parecia, as vezes, ver colocado em xeque seus gostos, opiniões e atitudes. Passou até a olhar-se mais no espelho pra identificar sinais de um possível envelhecimento mais rápido. Mas eram as comparações que o perseguiam. De uma hora para outra parecia querer estar sempre "atualizado", "conectado", "antenado". Talvez "antenado" nem tanto, já que o termo parecia de uma época bem passada, e isso o intrigava. 

Fazia isso a todo instante. Parecia estar todo fragmentado e, agora, em busca de algo que lhe desse uma nova estrutura. Sentia medo de ser identificado como "velho", "fraco", e por aí vai. Queria algo que lhe permitisse continuar sentindo-se pertencente à sociedade. Sim, essa sociedade "jovem", "ousada", "corajosa", "feliz", "sorridente", "sem limites". Foi quando começou a perceber que o que fazia era buscar uma nova identidade, ou pelo menos certificar-se que ainda estava em "validade". 

Foi inevitável, então, que começasse a se comparar com os mais jovens. E aí o processo ficou complicado pois, se de um lado via "ousada" e "liberdade", quando voltava-se para si enxergava "acomodação". Não parava de pensar nisso. E só via mesmo complicação nisso tudo.

Foi quando começou a lembrar de si mesmo há um tempo atrás. Se viu jovem, numa época em que quase nenhuma importância dava ao passado ou ao futuro. Recordou que tudo parecia estar dentro de um
"eterno" presente. Isso lhe deixava certa saudade. Mas, quase de imediato, voltou novamente os olhos para o seu presente e se enxergou de outra forma. Viu não mais um jovem que parecia sem limites, mas um homem "maduro". Começou a perceber muitas diferenças entre o antes e o agora, entre aquele jovem e o homem de agora. Notou que tinha passado por mudanças, algumas bem profundas.

Sua história começava a vir à tona com mais clareza. E à medida que essa história ressurgia sua vontade de fazer comparações se atenuava. Estava impregnado de vontade em entender o que havia passado consigo mesmo, com seus desejos, com seus sonhos.

Percebera que algumas mudanças importantes haviam acontecido em sua vida e mais, sentia-se instigado a promover rupturas ainda mais significativas. Foi aí que percebeu que não havia mesmo motivo algum para fazer comparações ou buscar se ajustar ao que lhe parecia "moderno".

Tudo o que ele precisava era continuar fazendo seus "acertos de conta". Com quase 50? Parece tarde? Ele não pensava assim! Quem pode pensar assim? Só quem já desistiu! Notava que ainda tinha um futuro. Mais curto é claro. Mas, quando jovem, nem se preocupava com este futuro. Agora, pelo menos, sabia que tinha um futuro e que podia fazer tudo para que fosse o melhor possível. Foi assim que começou  a perceber importantes diferenças entre ser jovem e ser maduro.

Ainda se via na hora, portanto, de sentar e fazer balanços sim! Enxergava nisso uma manifestação de seu processo de amadurecimento. E amadurecimento também se faz com rupturas. Aliás, e como se faz! Quantas vezes não teve que repensar todos os seus sonhos e projetos de adolescência e início de fase adulta? Pois é, agora só tinha que continuar este processo. Logo ele percebeu que se existisse mesmo essa tal "crise" masculina nesse momento da vida, que fosse entendida também como abertura de "possibilidades", aliás, como todo bom conceito de "crise". Não é assim?

Não ousava mais se mirar nas fantasias da juventude, com todas as ilusões de um mundo perfeito e eterno. Enxergou nelas apenas o inicio de sua vida. Só isso! Mas, ele percebera que ainda continuava marcado implacavelmente pela necessidade da fantasia, ao mesmo tempo que se encontrava aprisionado à realidade. Mas, como abolir uma coisa ou outra? Não dava! Ele sabia que se insistisse em sonhos irrealizáveis só teria pela frente a dura castração da realidade e um monte de neuroses a desenvolver. Mas, sabia também que se ficasse prisioneiro da acomodação sua vida continuaria sem sentido, e aí nenhum futuro lhe bastaria.

Pensou mais um pouco e percebeu que é entre "viver a vida intensamente como se não houvesse amanhã" e "tornar-se um neurótico, prisioneiro das obrigações diárias" que sempre se situara, em seu cotidiano. O que tinha que fazer, então, era não mais negar o seu direito a sonhar. Olhar pra trás, fazer um bom balanço, encontrar um bom lugar para os desejos, e continuar caminhando, pois ainda existia um amanhã sim. E poderia ser vivido de uma forma melhor.


Ele não estava disposto a negar a si mesmo a possibilidade de ter alguma felicidade. Ele não a via como privativa dos jovens. Pelo contrário, com o tempo, notou que aprendera a fazer certas coisas de uma forma bem melhor, e a enxergar com mais nitidez o que poderia lhe fazer realmente feliz. Parou de comparar-se, parou de olhar no espelho, e foi viver, sem medo de rupturas, sem medo do futuro, e ansioso para ser feliz naquilo que a vida lhe proporcionava de mais simples. Não estava disposto, como homem, a abandonar-se.

2 comentários:

  1. Henrique, li este texto lá no face, encantei-me com as verdades dali, e acabei parando aqui em seu blog. Como uma blogueira iniciante, eu não sei se consegui me inscrever como sua seguidora. Não ria não, meu caminho é escrever...difícil é me colocar seguindo! Mas estou me encantando com esta visão maravilhosa destes textos, aliás, destas realidades. A Vida com certeza já vale por este caminho de ler, ler, aprender...!

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    1. Nadia, seja muito bem vinda. Aqui tento reunir algumas coisinhas que me passam pela cabeça. Isso ajuda a relaxar e colocar pra fora alguns sentimentos. Ler, escrever, aprender, são mesmo alguns dos nossos principais caminhos. Até mais!

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