Há algum tempo assisti no Teatro Eva Herz (Liv. Cultura) a peça Édipo, com direção de Elias Andreato. É a terceira ou quarta versão que tenho a oportunidade de ver no teatro. Como toda "tragédia" nos revela, acima de tudo, a "insegurança" como traço marcante de nossa condição humana.
Mas, se pensarmos que na atualidade se "vende" a felicidade e o sucesso como algo muito simples de ser conquistado, se torna muito difícil pensarmos em nossas inseguranças. Mas, quanto maior a crença de que "podemos tudo", mais frágil o solo que se estende sob nossos pés. Nosso mundo atual parece mais luminoso, mais colorido, mais diverso, mais repleto de oportunidades e prazeres.
Muita aparência, entretanto. Tanta luminosidade só pode mesmo causar tanta cegueira. Imaginamos que é aí que reside nossa segurança e esquecemos de olhar com atenção para nossas limitações. Édipo, por exemplo, buscou a verdade, incessantemente, ainda que para seu próprio sofrimento ao final. Guiado por um código moral, ele busca a resolução de um crime, sem saber que foi o próprio autor. E, à medida que os indícios vão se tornando mais intrigantes e aproximando-se dele, ele mais insiste na busca da verdade. Seu desejo em conhecer a verdade, então, é libertador.
Sim, sabemos de seu atentado contra a própria visão, sabemos de seu exílio, sabemos de seu martírio. Mas, por que ele teria caminhado em direção a esse desfecho de forma tão intensa e voluntária? Pela busca da verdade. Quando ao final temos a revelação de que aqueles que são felizes são os que conheceram a dor e o sofrimento podemos entender um pouco melhor.
Para Édipo, a busca da verdade, por pior que seja, e por mais sacrifícios que imponha, é muito mais reconfortante que a insegurança que experimentou diante de tantas dúvidas. Ao final, a revelação da verdade, por mais trágica que fosse, lhe trouxe algum conforto. Perdeu o poder, perdeu tudo o que tinha. Mas teve a chance de encontrar-se consigo mesmo. Nosso mundo atual é de aparências, repleto de mentiras, nos perdemos em seu colorido e em sua luminosidade. Preferimos isso, a lidar com nossos limites.
Resta saber se podemos, de fato, encontrar a felicidade ocultando nossa insegurança. Não precisamos chegar ao destino de Édipo, mas não podemos virar os olhos à nossos limites e inseguranças.
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