Quem se atreve dizer que o amor não é um encontro. Ele exige mais de um. Como amar sozinho? Pode-se sentir o amor sem lançá-lo sobre outra pessoa? Não! Ele precisa de um encontro. E ele e ela se encontraram, em algum momento, marcado por um enorme acaso. Encontraram-se, através de sensações. Sensações que levam ao toque, ao abraço, ao beijo. Ora, amor precisa de dois. Dois singulares, dois específicos, duas individualidades. Por isso o encontro. O encontro não se dá entre iguais, se dá entre diferentes. Os iguais não existem. E se existissem jamais se encontrariam, pois estariam em busca do diferente. O que é, então, este encontro senão o reconhecimento de algo que sempre faltou. O reconhecimento de algo que se transforma em desejo, inevitável, imprescindível agora mesmo, nesse instante. É aí que se dá o encontro, em meio ao reconhecimento. Os dois, ele e ela, reconhecem, os dois experimentam a possibilidade de superar a falta, de tapar os buracos, de finalmente explodir em gozo. E é esta possibilidade, fornecida pelo encontro que leva a uma busca desenfreada, insana, sem sentido, sem razão, sem ponderação alguma, pela fusão. Ele a quer para si, ela o quer para si. Não só desejam-se, querem-se. Querem que faça parte, que complete, que preencha. É um momento tenso, pura intensidade, mergulho profundo, um caminho quase sem volta, sem fôlego, falta ar. Mas não se importam, o desejo é pela dissolução, ele nela, ela nele. O desejo é por devorar, por ter dentro de si, a cada instante, sem o risco de perder. A sensação é de não se viver sem. Vontade é de se morrer assim, colados, como uma só peça, destrutível, mas impossível de gerar as singularidades de antes. É o momento do pleno êxtase. Ele e ela imaginam-se um só. Mas, a dor e o sofrimento povoam este momento. O que era uma possibilidade logo se revela uma impossibilidade. Como, de dois, gerar um só? A dissolução é só desejo, a colagem não é tão segura. Surgem os medos, as inseguranças, as dúvidas. Como sustentar aquele êxtase permanentemente? Tudo conspira contra a fusão. A realidade se impõe produzindo fissuras, reforçando os traços de individualidade, separando desejos, demarcando vontades. A dor se instala. Veio para ficar. A completude vai ficando distante e o êxtase vai se acalmando. Ele e ela se entristecem, se calam. Volta a individualidade. Retorna vitoriosa, mais forte. Não destrói o encontro, mas diz que a fusão é impossível. Aplaca a dor e o sofrimento, mas faz o êxtase arrefecer. Mas ainda resta o amor. Ele sobrevive a toda esta tormenta, a todas estas possibilidades e impossibilidades. Ele volta mais maduro, sem uma promessa de fusão, mas com a certeza de um encontro muito duradouro. Voltam a ser dois, sabem que ser um só é uma impossibilidade. Mas, não desistem, e, como dois, ele e ela irão viver esse encontro que é o amor. Afinal, se não fossem dois, não haveria encontro entre ele e ela.
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