quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ele surge do silêncio... o amor!

À cada recanto de uma letra sua… onde se esconde o amor.
Explicar o amor? Ilusão, e quem se atreve?
Instantes iniciais existem. Instantes em que o eu sonha em ser nós.
Apontar seu nascimento? Ilusão, e quem consegue?
Mas, o vazio arrefece e o eu sonha em ser nós
 
Num desses instantes, o olhar foi atraído, chamado.
Palavras, palavras… doces, gentis, amigas, mas apenas palavras.
Se antes vagava, não em busca, sem perceber foi capturado.
Como na poesia, nos permitem a fantasia. São as palavras.
 
Surpreso, o olhar protesta: “Não, não sou eu o chamado!”
Tudo o mais se movimenta. Nada mais está quieto.
Mas ele teima, deixa-se prender e todo o resto se pergunta: “É um ser amado?”
Uma busca se inicia. Tudo está inquieto.
 
Havia algo mais, ali. Um espaço, em meio, por entre as palavras… em branco?
O olhar estava capturado… não eram as palavras, nem as letras!
Havia movimento, sombras, nesse espaço. Não era só o branco.
Eram doces, gentis. Mas eram somente palavras… e letras!
 
Era o que estava em meio… em meio, por entre!
Naquele branco, limpo, curto… havia algo, em meio!
Seu contorno foi se dando… era uma mulher, que trazia o amor, em seu ventre.
Chagava, feliz, a certeza… não era um devaneio!
 
Não era mesmo?
Seria apenas… a paixão?
Tudo estava a esmo?
O que era, então?
 
Tentou apagar as palavras, e ficar somente com ela… não conseguia!
As palavras eram necessárias… em meio a elas é que se revelava.
Sem as palavras, não ficava desnuda… desaparecia.
Desistiu, permaneceu com as palavras, continuou a buscá-la.
 
Lia, se perdia… leria, relia, tudo valeria, para encontrá-la!
Ela estava ali, em meio, por entre, só insinuava.
Um sorriso sapeca, infantil, tão rápido, por trás de uma letra… como pegá-la?
Vá, pensava. Vá ler, e ia. Mas, um instante apenas… e não mais era achada!
 
Não é ele, sou eu… eu preciso das palavras, em meio a elas, e por trás, ela corre
Corre livre. Por vezes, para… se agacha, lança um olhar… prendendo-me.
Sem ninguém alcançá-la, livre, novamente ela corre
Foi nesse instante que algo percebi. Eu estava com sede, perdendo-me!
 
Cada letra, cada palavra, era sua moradia… ali ela existia
Se nenhuma letra era fria, era porque ao seu toque… aquecia
Se nenhuma palavra era morta, era porque ao seu olhar… revivia
Ela precisava das letras, e das palavras, pois com elas… seduzia
 
Foi difícil se perder… não! Não foi.
Quanto mais a procurava… me desesperava, pois ela capturava
Sempre ali, em meio, por entre as palavras e as letras, mesmo num curto “oi”
No oculto, no não dito, no inominado… No silêncio que pairava!
 
É no em meio, no por entre, que o silêncio reside.
Entre uma palavra e outra, no recanto de cada letra… ele habitava
Um silêncio que perturba, que traz o barulho, e o movimento permite.
Um salto… e no salto, o silêncio! Mas não a calma.
 
Incomoda… movimenta!
Toma a atenção… desperta!
Tira do lugar… inquieta!
Faz perder-se… oferece a saída!
 
Ela está ali, por entre… em meio!
Correndo, livre… se debatendo!
Sorrindo… gargalhando!
Vivendo, oferecendo o amor!
 
Ela surgiu do silêncio!
Trouxe o amor, e exigiu minha dissolução, nua!
E estou aqui, dissolvendo-me, em silêncio!
Em cada recanto de uma letra, sua!

Nenhum comentário:

Postar um comentário