sábado, 24 de maio de 2014

Nossa história é uma história de amor!

Nossa história, desde o primeiro momento, é uma história de amor. Nos fundimos com a mãe num prazer sem limites; amamos a nós mesmos num auto-erotismo; e depois, com a relações objetais, buscamos a todo instante o amor no mundo! E nas impossibilidades e limites que encontramos pela frente as neuroses vão ocupando seu espaço!

(José Henrique P. e Silva)

O "desconhecido" que brinca com nossos desejos de proteção!


O medo é das nossas emoções mais primitivas e irracionais. É contra ele que o mito, as religiões, a ciência e a política se voltam, numa tentativa de oferecer consolo, segurança e esperança. Talvez jamais consigamos essa paz completa! Talvez seja algo muito próprio de nossa humanidade! E é interessante notar como o "desconhecido" nos fascina, brincando com nossos medos, atiçando em nós aquela sensação bem infantil de experimentarmos um arrepio, um susto, e corrermos para buscar um colo que nos proteja.

(José Henrique P. e Silva)

A crítica de Adorno e o "medo" nos dias atuais

Em época de eleição, e tendo uma ferramenta como o facebook nas mãos é muito fácil o debate sobre a política perder a "razão". É aí que lembro de T. Adorno (teórico da Escola de Frankfurt) e sua forte crítica à "racionalidade", ou seja, àquela racionalidade que abdica da autonomia do pensamento e fica refém de chavões e clichês simplistas. Hoje, se precisamos de uma forte crítica à forma como as coisas estão organizadas não podemos, por outro lado, cair na tentação dos discursos de "ódio" e dos apelos "autoritários".

Vivemos uma época difícil em termos de racionalidade. Não debatemos mais, nem mesmo criticamos mais, simplesmente tentamos "destruir". Se estou fora do governo ou se estou no governo só me interessa a "destruição" do outro. E aí os discursos do "medo", do "preconceito" e do "autoritarismo" encontram chance de proliferar. No final das contas, usamos a "violência" para justificar tudo. Onde está nossa autonomia de pensamento? Que uso estamos fazendo da razão? Ou a democracia sai fortalecida ou não estaremos usando nossa razão para nada proveitoso. E o uso do "medo" não é próprio da esquerda ou da direita, é próprio dos anti-democratas, independente das cores que vestem.

Claro que, no calor dos debates é difícil perceber isto. Só depois é que sentimos os efeitos catastróficos do que fizemos. Não a toa, para cada vez mais pessoas, a política corre o risco de se tornar "obsoleta" e "banal", tornando-se terreno do ódio, da indiferença, do uso em proveito próprio, onde a força da democracia está somente na "retórica", pois sua "prática" está tomada pelo interesse. Pobre democracia, que "avança" na criação de instituições mas que não penetra na mente dos cidadãos.

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 20 de maio de 2014

A "obsessão do mega"!

Muito bom este texto da Ruth de Aquino. Segundo ela, cultivamos uma "obsessão do mega”, uma mania de grandeza "cafona e perniciosa", onde tudo precisa ser o "maior do mundo”. É um tema muito corrente por aqui e desde sempre temos essa postura de tentar combinar o "moderno" com o "atraso". 

Na política, cada passo progressista leva consigo o apoio de oligarquias poderosas; Na economia, somos uma "potência mundial" com uma das maiores concentrações de riqueza...estamos sempre em busca daquilo que é o "melhor", o "maior", mas enquanto meros objetos que servem mais para esconder nossa incapacidade de criarmos uma verdadeira nação. 

Há algo de um transtorno narcisista aí, como se estivéssemos sempre correndo atrás daquilo que sabemos que jamais "seremos". Por isso "precisamos" tanto daqueles "símbolos" que nos autorizam a "esquecer" nosso verdadeiro tamanho! E daí se tivermos a "Copa das Copas" como sugeriu a presidente Dilma? O que isso significará de fato, além de nos emprestar, momentaneamente, um pouco de autoestima? Ora, é em outros lugares que devemos buscar alimento para a autoestima!

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A beleza das rugas!

Está certo, vamos lá! A vaidade e a beleza sempre foram trunfos para a autoestima da mulher. Hoje, não há como negar, os homens parecem também se deixar seduzir por este caminho mas, francamente, ainda é um território predominantemente feminino. E é só olhar para os lados que enxergamos todos os esforços que a indústria da saúde e da beleza fazem para entregar às mulheres uma garantia de que serão sempre saudáveis e belas.

Ok, bem razoável e estimulante que se siga essa estrada mas, e quando percebermos que não é possível deter a marcha do tempo? O que acontece? Vamos insistir numa batalha feroz resistindo com todas as forças aos efeitos que o tempo causa em nosso corpo? 

Não ouso, em nenhum momento, emitir juízos de valor sobre essa questão mas, observo muito os efeitos que essa persistente "batalha contra o tempo" causa em algumas cabecinhas. E não são efeitos nada agradáveis, pois estão repletos de ansiedades e perda de autoestima, criando, muitas vezes, uma necessidade de se repensar toda uma identidade.

Por isso sempre me questionei: Não há beleza nas rugas em um rosto de mulher? Cito a mulher porque sou homem e é para ela que dirijo meu olhar. Não há beleza? Difícil responder a essa pergunta nos tempos atuais onde as diferenças entre o que o corpo nos mostra como "real" e a imagem que fazemos dele como "ideal" são gritantes.

Mas, ouso insistir na pergunta: Não há beleza nas rugas em um rosto de mulher? Por que decidimos estabelecer como verdade a crença de que a "beleza" está na juventude? Por que insistimos em ver na simetria algo "perfeito"? Por que o nosso medo tão intenso de uma pele mais flácida, de um andar mais leve, de formas que parecem não mais caber nos manequins das belas vitrines? Não vamos reagir a isso? Vamos ficar assistindo calados e, pior, acreditando nisso?

Não, nada disso tem a ver com beleza, com perfeição, com juventude, com força! Nada disso! Vivemos uma era de consumo exacerbado. Os produtos buscam diversificar-se para oferecer mais do mesmo, buscam novos consumidores, e cada vez mais jovens. De uma hora para outra, nossos ícones estão cada vez mais jovens. Deixamos de admirar nossos ídolos dos anos 60 e 70, por exemplo, para seguir filhos e netos na sua admiração por Justin Bieber! E quando percebemos estamos lá, nos portando iguais a eles. Ok, um bom sinal de jovialidade. Mas, é só isso mesmo? O que queremos com isso?

Volto à pergunta: Não há beleza nas rugas de um rosto de mulher? Vivemos como se fossemos passar, como num passe de mágica, da bela juventude para a morte. Puro engano, pura ilusão! Desde que nascemos, vivemos em uma longa e dura transitoriedade, estamos de passagem oras! Amadurecemos, envelhecemos, não dá pra aceitar isso? Se não der é porque precisamos acertar algumas contas conosco mesmo! E talvez a conta principal a ser acertada seja a da nossa tradicional "exigência de imortalidade". Ufa!!! Tema difícil este!

O que precisamos fazer? Trazer o conceito de beleza para seu lugar original. Aquele lugar onde nossas emoções lhe deram um significado um dia. Não quero que a indústria da beleza me diga o que é bonito. Quero que minha memória, minhas lembranças e minhas experiências me digam onde está a beleza das coisas e das pessoas. Se amei uma pessoa a 30 anos atrás e ela continua do meu lado por que não a achar linda? 

Mas, só conseguiremos fazer isso se descolarmos o conceito de beleza do corpo, daquilo que é físico. O que vamos fazer com nossas lembranças, vamos jogar no lixo? Elas não servem mais para nos dizer que a razão pela qual amamos uma pessoa está muito além da simetria de suas formas, de sua aparente juventude ou da ausência de rugas em seu rosto?

Parece fácil escrever sobre isto. Sei que a sociedade é cruel, exigente, dominadora. Mas, nós é que resolvemos aceitar essas regras. Nós é que abdicamos de nossa crítica, de nossa segurança interna e nos colocamos como subservientes à este modelo cultural. Sim, é só um modelo cultural, porém devastador, inimigo da autoestima e produtor de patologias as mais diversas.

Vamos envelhecer e ver envelhecer as pessoas que amamos? Vamos perder as pessoas que amamos? Vamos! Mas, por isso vamos perder nossa capacidade de amar e de contemplar a beleza aquela beleza que é fruto de nossos sentimentos e que depositamos em quem está do nosso lado? Não! Decididamente não!

Não me interessa se um dia vou chegar aos 80 anos e vou estar com uma mulher da mesma idade ao meu lado, com todas as marcas do tempo. Aliás, torço para isto todos os dias. E o que me fará feliz neste dia? A beleza de sentar à sua frente, fixar os olhos em seu rosto e, com a ponta dos dedos, percorrer cada um daqueles leves traços nos seus olhos e nos seus lábios.

Sim, traços de uma vida repleta de lembranças a serem compartilhadas e revividas a cada momento. Afinal, há um tempo em que a pressa pelo futuro desacelera, o presente nos convida a sentar um pouco, e o passado ressurge, desfilando em meio à nossas lembranças e nos fazendo dizer um ao outro que tudo valeu a pena!

Sim, existe muita beleza nas rugas de um rosto de mulher!

(José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Psicanálise e o autoconhecimento

"Face à dor psíquica... que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar uma neurose, uma psicose, um escudo caracterial, uma perversão sexual, sonhos, obras de arte e doenças psicossomáticas. (...) E embora o sujeito encontre aí sua morada, tem muito pouca consciência de seu significado...". (Joyce McDougall - "Em defesa de uma certa anormalidade", 1° parágrafo do ensaio Psicanálise e Soma)

É em busca deste significado que a neurose, por exemplo, tem para o sujeito, que a Psicanálise o acompanha em sua jornada de autoconhecimento.

O Processo de Psicotização

Antes de qualquer coisa, a PSICOSE implica um "processo" onde, em suas linhas gerais, o indivíduo diante de uma realidade cuja dor lhe é insuportável, luta pela violenta expulsão dessa ideia e, á medida que faz isto, vai afastando-se dessa realidade insuportável para, no momento imediato, a reconstruir, de forma mais suportável, sob a forma de delírios e alucinações. É o processo de "psicotização".

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Violência e Internet

O Programa Alexandre Garcia (GloboNews) de hoje teve como tema a violência e seu incrível aumento nos últimos anos aqui no Brasil. Em certo momento a "internet" veio à tona na discussão como um espaço que multiplica esse apelo à violência. Isso é fato! 

Não se trata de dizer que a internet é "culpada" de alguma coisa. Não se trata disso! É da natureza humana que estamos falando. O que a internet possibilita é que aquilo que, em público, não fazemos por temer as regras e punições, fazemos livremente no ambiente virtual. 

Ou seja, a internet funcionaria (para alguns) como um espelho onde se projetam frustrações, raivas, ressentimentos, ódios a partir de uma suposta posição de força e grandeza. Assim, o que a internet faz é facilitar a comunicação entre pessoas que já nutrem, potencialmente, o ódio e a frustração dentro de si de uma forma pouco controlável. 

Agora, isso combinado à falta de modelos identificatórios saudáveis na vida política e um quadro de instituições falidas, é explosivo! Não é à toa que, numa lista de 132 países, somos o 11° mais violento, e nem temos uma das melhores internet do mundo!

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 13 de maio de 2014

A contra-ofensiva do PT com a volta de "fantasmas do passado"

O interessante, e desafiador, de uma campanha eleitoral é que não há linha "reta", ou seja, está permeada por ofensivas e contra-ofensivas. Aécio apareceu na TV, contou com o crescimento do temor da volta da inflação e capitalizou boa parte dos insatisfeitos que deixaram o apoio à Dilma entre março e maio. Agora vem a contra-ofensiva. Peça de campanha do PT hoje, em rede nacional, dá sequência ao pacote de bondades lançado por Dilma em 1° de maio.

Nada de novo nesta peça de propaganda. A defesa da continuidade é clara. O PT que teria "resgatado" parte da população pobre para o consumo e integrado-a na sociedade mostra para todos o "risco" de um governo do PSDB acabar com tudo isso ("volta de fantasmas do passado"). 

Uma coisa é certa, o PT sabe que há um claro movimento de reação na sociedade por "mudanças" e certo "cansaço" com o governo Dilma. E está contra-atacando com o que tem de melhor até aqui (o alcance das políticas de emprego e incremento do consumo). O tom é melodramático e inspira o "medo"! 

O alcance, porém, me parece limitado ao "reduto" mais tradicional do PT nestes últimos anos e trata-se, salvo engano, de uma tentativa de "reagrupar" o "time principal" (setores pobres que emergiram para o consumo) para, a partir daí contra-atacar em direção a outros setores sociais.

O recado do PT é claro: "ei vocês aí que conseguem trabalhar e se alimentar por nossa causa, fiquem do nosso lado e não se deixem contaminar pela onda de mudanças!"

Daqui a uns dias começam a sair novas pesquisas e já começamos a ver o que aconteceu de fato e como a oposição vai agir novamente!

Tá ficando animado!!!

(José Henrique P. e Silva)

O escândalo político e o discurso cínico!

Foi no dia 14 de maio de 2005, há exatos 9 anos, que a edição 1905 da revista Veja chegou às bancas com uma discreta chamada no cabeçalho mas com uma longa matéria revelando o que viria a se transformar no maior escândalo político-midiático da República recente: O escândalo do mensalão. Talvez a maior herança deste escândalo tenha sido a legitimação, em sua completa magnitude, do chamado "DISCURSO DO CÍNICO". O que é isto?

É exatamente o "discurso do cínico" que faz com que um escândalo seja tão pouco escandaloso e faça prevalecer a crença de que, ao final, tudo acabe em "pizza" e que só reste a equação: "eu sei que ele sabe que eu sei". 

O grande trunfo de um escândalo é a "confissão", é isso que o transforma em algo verdadeiramente devastador. Quando a Revista Veja trouxe a denúncia de corrupção nos Correios só se inaugurou o que chamamos de "pré-escândalo". Só com a entrevista de Roberto Jefferson (06 de maio) e sua "confissão" surge  a fase do "escândalo propriamente dito". Mas sempre faltou algo: Lula nunca admitiu!

Ele sabe que é a da confissão que todos precisam. O reverendo Eymerich, no "Manual dos Inquisidores" (1376), já nos dizia da importância da "confissão". Enquanto o segredo não se tornar transparente o culpado ainda não se sente devassado pelo olhar do outro que o acusa. Neste aspecto Lula foi e é mestre! Jamais admitiu e, mesmo quando vacilou numa quase admissão de culpa, logo reagiu com um discurso contrário.

O "eu não sabia", portanto, virou o grande lema e a grande incógnita do escândalo do mensalão. É aquele "buraco" que ainda não foi devidamente tapado. Por isso Lula sempre aposta em que "a história mostrará a verdade". É daí que brota o "discurso do cínico", dessa incapacidade de admissão, desse esconder-se no segredo e na não revelação, no não reconhecimento da culpa. Ter algo a esconder é próprio do cinismo.

Mas, Lula talvez seja só a expressão maior de uma época em que a "ética da malandragem" instaura e legitima, como nunca, a ordem dos "espertos" e do "jeitinho". O seu "EU NÃO SABIA" marcou época, fez escola e nos colocou, definitivamente, no interior do "discurso do cínico".

Como nos diz, de forma incisiva, o psicanalista Ricardo Goldenberg ("No Círculo Cínico", ed. Relume Dumará, 2002), o homem moral de Kant está obsoleto, é um "otário" e quase ninguém mais quer habitar sua moradia. Rejeitamos a internalização da Lei e das Regras e a substituímos pela fé cega de que há sempre um "jeito" de sermos uma "exceção". O que vivemos é uma tremenda crise do superego e nenhum modelo vinculado às leis e regras parecem ser suficientes para determinar nossa subjetividade e domar nossos desejos.

Vivemos em uma época em que o cinismo se transformou na caricatura da moral Iluminista evidenciando sua possível falência, pois estamos sempre invocando normas universais e, ao mesmo tempo, promovendo sua transgressão. Como nos diz Goldenberg "o cinismo consiste no conjunto de operações que preservam oculto o hiato entre os princípios e a prática que os contradiz"

Os canalhas se deleitam em nossa época! Todos, imersos em culpa, não a reconhecem e levantam os punhos afrontando a justiça e a todos. Quanto a isso, temos muito o que agradecer ao ex-presidente Lula!

(José Henrique P. e Silva)

O medo inconsciente do voto facultativo

Artigo, no Observatório da Imprensa, a respeito da pesquisa Datafolha que aponta alta rejeição ao voto obrigatório entre os brasileiros.

O medo inconsciente do voto facultativo (José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Copa do mundo: legados e jeitinhos!

Texto do Jamil Chade mostra os alertas que a Fifa faz aos torcedores estrangeiros sobre as dificuldades de infra-estrutura para a Copa. Deixando ufanismos de lado, é claro que os alertas fazem sentido pois o Brasil é mesmo um país complicado em termos de locomoção, estadia e segurança. Nada que não se resolva, desde que não seja com o "jeitinho" é claro! 

Ele diz, por exemplo, que veio de Lula a "sugestão" para se ter não 8 mas 12 sedes, e que a seleção brasileira deveria jogar em vários locais (forçando mais e mais deslocamentos de todos os times). Qual o objetivo disto? Precisava mesmo? O pior é que muita gente já alertava sobre isto, mas o governo insistia que iria haver o tal "legado" da Copa em cada cidade. Enfim, depois a gente vê o que vai sobrar mesmo em termos de "legado"!

O fato é que, para a Fifa, a Copa no Brasil vai servir para uma mudança de paradigma. Ou seja, vão começar a exigir maiores compromissos por parte dos países que se candidatam a sediar o evento. Agora, o cômico é a Fifa acreditar que estas "garantias" viriam do Poder Legislativo. Eles não imaginam o quanto o Legislativo, por aqui, só anda a reboque do Poder Executivo!

E não adianta dizer que a Fifa é "isso ou aquilo"...ela é mesmo. Mas, o fato é que o país assumiu um compromisso internacional e não tá dando conta do recado...mas no final, o "jeitinho" prevalece e os turistas vão tomar uma caipirinha numa roda de samba...pior pra quem mora aqui e vai pagar a conta da brincadeira!!!

(José Henrique P. e Silva)

Dilma não está associada às mudanças necessárias!

A pesquisa do Datafolha, feita ontem, foi a primeira após a "reação" da presidente (anúncio do aumento do Bolsa Família, diminuição do "volta Lula" etc.). Diria o seguinte:

Se a eleição fosse hoje o 2° turno seria "inevitável" (Dilma tem menos votos que a soma dos demais candidatos). Dilma perdeu poucos votos agora pela sua "reação" mas, já é a candidata com maior "rejeição" (35%) e está menos associada à possíveis "mudanças" (Aécio já aparece como o nome mais preparado). 

A continuar neste ritmo, mesmo que atenue sua queda (continua em oscilação negativa) a presidente será vista com cada vez menos "bons olhos". Se a conjuntura econômica não mudar rapidamente, será necessário que o "volta Lula" (Lula ainda é visto mesmo como um "bom reserva") ou aconteça mesmo ou tenha capacidade de transferir apoio pra presidente, do contrário, é esperar que a inauguração de obras e o tempo de TV faça milagre durante a campanha. 

O complicado pra Dilma é que os nomes de Aécio e Campos, que ainda têm muito espaço para aumentar seu "conhecimento" junto ao eleitorado, já estão capitalizando essa "insatisfação" com o governo federal e surgindo com "bons olhos". Parece que dessa vez o PT vai enfrentar uma eleição com uma conjuntura econômica desfavorável, com muitos flancos abertos (corrupção, ineficiência administrativa etc.) e, pior, com candidatos de oposição que "agradam" e são capazes mesmo de capitalizar a insatisfação e o anseio por mudanças.

Enfim, a próxima alteração de conjuntura, ainda antes do início das campanhas, me parece, será com a entrada em cena da Copa do Mundo e as possíveis manifestações. Vamos esperar pra ver como a população se comporta.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A necessária "chispa" na relação entre Internet e Democracia

Pensando um pouco sobre a relação internet e política acabei relendo um artigo do ex-presidente Fernando Henrique no Estadão de, quase exato, um ano atrás. No artigo, ele fala de suas leituras de M. Castells (Redes de Indignación y Esperanza) e Moisés Naim (The End of Power), ambos tratando da relação da tecnologia e a política, discussão que se aprofunda na esteira da perda de força da democracia representativa e na expansão da política tradicional (principalmente nas disputas eleitorais) sobre estas novas tecnologias.

O assunto não é novo e recebeu grande impulso a partir da "Primavera Árabe", e talvez por isso se enxergue nesse uso da tecnologia on-line uma maior presença de homens comuns, que não seguem lideranças tradicionais e deixam claro seus desejos de forte "autonomia", pois quase sempre formam uma "massa invisível" para as instituições representativas. 

E, com base nisso, muitos se apressam em dizer que há na internet um potencial "explosivo" para a política. Mas, a relação entre a internet e a mobilização política não é automática pois, da mesma forma que na vida "real", na vida "on-line" são necessários "fatores desencadeadores" que nos tirem do isolamento. E estes, só surgem quando de um clima psicossocial propício para a "chispa de indignação".  Nesse ponto, Fernando Henrique nos diz que:
A chispa, entretanto, só ateia fogo e produz reações quando se junta profunda desconfiança das instituições políticas com deterioração das condições materiais de vida. A isso se soma frequentemente o sentimento de injustiça (com a desigualdade social, por exemplo, ou com a corrupção diante do descaso dos que mandam), que provoca um sentimento de ira, de indignação, geralmente proveniente de uma situação de medo que dá lugar a seu oposto, a ousadia. Passa-se, assim, do medo à esperança. 
É a partir deste quadro que a conjuntura atual oferece uma boa oportunidade para se testar um pouco mais dessa relação entre internet e política.

Há condições propícias para isso hoje em dia? Não há nenhuma dúvida que se vive um período de erosão de alguns ganhos obtidos em épocas anteriores, trazendo riscos para um possível descontrole da inflação, aumento do desemprego, perda de capacidade de consumo etc., além de um forte descontentamento com a vida política em geral. Em função disto, já é visível a movimentação no eleitorado no sentido de reforçar a oposição e, com a chegada da Copa do Mundo, e a muito provável intensificação de movimentos de rua, a "chispa de indignação" pode surgir ainda mais forte.

Quem vai ganhar com isso? Acho que na altura do campeonato, o "poder de fogo" do governo é pequeno. Teria que surgir algo muito "novo" e "interessante" para frear esta queda de popularidade. E, além disso, Aécio Neves e Eduardo Campos teriam que se tornar muito "antipáticos" à população. Sinceramente? Acho que esta combinação não vai ocorrer, e mesmo que o governo tenha "balas na agulha" vai encontrar, além de uma conjuntura desfavorável, uma oposição muito mais agradável e disposta a chegar ao poder.

Então, é fato que a simples potencialização e abrangência da tecnologia de contato on-line não necessariamente se transforma em algo "real". É preciso que haja um clima psicossocial propício ao surgimento de "chispas de indignação".

(José Henrique P. e Silva)

A genialidade do pensamento alemão

Se na música e no cinema tenho uma forte "queda" pelos ingleses, confesso um profundo respeito e admiração pelo "gênio alemão" e sua intelectualidade. Não quero fomentar discussões com isso, apenas acredito que exista uma cultura na Alemanha que se reproduz fazendo com que uma geração sempre assuma, com grandiosidade, os desafios do pensamento levados a cabo pela geração anterior, mantendo o gosto pelas "grandes questões" e sua discussão em profundidade e abrangência, um pouco diferente do pragmatismo inglês e do proselitismo francês. Mas, isso é só uma impressão.

Pensei sobre isso a partir de uma resenha no Estadão da autoria de Brian Ladd, jornalista e sociólogo sobre o livro The German Genius, de Peter Watson. O livro é uma compilação de contribuições essenciais feitas pelos alemães nos campos da filosofia, teologia, matemática, ciências naturais e sociais e arte, desde 1750. O que parecia estar claro na virada do século XIX para o XX era que havia algo de especial na cultura alemã, a ponto de alguns a colocarem como única herdeira das civilizações clássicas de Grécia e Roma.

De acordo com Watson, devemos a eles nosso conceito de História. O seu romantismo e erudição instalaram a verdade e a criatividade na mente humana. Nomes como Kant, Hegel, Goethe, Marx, Nietzsche e Freud, buscaram sentido para um mundo em total movimento. Inventaram a universidade moderna, que combinou ensino e pesquisa. Desenvolveram uma burocracia especializada, como uma espécie de rival da autoridade. E, o mais decisivo, para muitos, voltaram-se para o interior com o objetivo de encontrar verdades que não estivessem ancoradas na razão nem na revelação divina. Esta é a marca do "individualismo subjetivo moderno".

Freud, então, é fruto deste ambiente, desta ousadia metafísica, deste não contentar-se com a razão, nem com a religião. Da mesma forma que foi fundo na mente humana, foi abrangente ao olhar para a sociedade. Profundidade e abrangência, é esta combinação, para mim, que produz genialidades. Mas, veio o nazismo, o holocausto, e como definir esta "genialidade"? É possível deixá-los de lado ao se observar a cultura alemã? O que significam no conjunto da cultura alemã? Hitler foi o ponto culminante dessa genialidade? Não acredito! São questões delicadas e que exigem reflexão. Só não podem é obscurecer que existe uma vontade de potência naquele pensamento, que também revela seu lado trágico, e que marcou a sociedade alemã em todo o século XX.

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre o discurso da oposição em 2014

Hoje, no seu Twitter, o Gaudêncio Torquato disse não acreditar tanto que o PT comece a acusar a oposição de querer "vender" a Petrobrás. Segundo ele, é um "truque manjado". E é verdade, afinal, foi assim que ocorreu nas duas últimas eleições com o PT insistindo em "colar" no PSDB o carimbo de "privatista". Mas, hoje, a forma como o PT está tentando "reelaborar" a crise da Petrobrás colocando a oposição como interessada na derrocada da empresa sinaliza bem que, na eleição, esse discurso de "salvação" do patrimônio público pode voltar sim, embora seja "manjado". 

A questão é que agora, com 12 anos de administração petista já é bem possível mostrar o tamanho da "INEFICIÊNCIA" da gestão pública (obras inacabadas, gastos excessivos, aparelhamento, crescimento econômico pífio, dificuldades no mercado internacional). Esse discurso pode ser mais forte até que o da "corrupção" (importante por consolidar os votos de classe média). Não acredito em um discurso novo do PT nesta eleição. Virá, como sempre, sustentado no Bolsa Família, crescimento da classe C e, para isso, irá explorar ao máximo (de novo) o "conflito de classes" (ricos x pobres), a "comparação com FHC", e colocar-se como "salvação". Muito difícil a Dilma sustentar-se da ideia de ser uma boa "gerente" ou "mãezona" (estão fragilizados estes discursos)

Então, insisto que o que está fazendo o governo da Dilma "patinar" na popularidade, não é tanto a corrupção quanto a INEFICIÊNCIA, principalmente em não conseguir sustentar a ECONOMIA do país. Isso é que coloca uma grande INTERROGAÇÃO na cabeça do eleitor: o que virá pela frente com mais 4 anos de Dilma? Por que não mudar? O eleitor está começando a "duvidar". Ou seja, O FIEL DA ELEIÇÃO SERÁ AQUELE ELEITOR DE CLASSE C QUE COMEÇA A DUVIDAR DE UM FUTURO TÃO "CERTINHO" COM A DILMA E O PT, E COMEÇA A MOSTRAR-SE DISPOSTO A "ARRISCAR" (mudar).

Acho que se o Aécio e o Campos "puxarem" o debate para o terreno da "eficiência e competência administrativa" e não caírem na cilada do "conflito de classes" as chances da oposição ficam muito fortes. O problema é que as oposições em 2006 e 2010 ficaram sem "discurso". Naqueles momentos, praticamente nada podia bater de frente com o discurso do bolsa família e do crescimento econômico...mas e agora? A conjuntura é bem outra!!! Existe discurso sim!!!

Além do mais, se o Campos tiver uma boa atuação no Nordeste e se o Aécio tiver um vice de São Paulo, a coisa fica imensamente complicada para o PT.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Não quero ser somente ... "eu"!

As vezes pensamos tanto em buscar a nossa própria felicidade, as vezes nos concentramos tanto em sentir as nossas próprias dores que esquecemos que somos responsáveis por algo além de nós mesmos. Talvez isto não seja egoísmo, mas somente aquele desejo de ser feliz e ter alguma paz, e aí nos colocamos sempre em "primeiro lugar". 

Mas, e aquelas pessoas que dependem de nós? Existem momentos, então, que não podemos nos colocar em "primeiro lugar", afinal, quem sabe para sermos felizes não dependemos mesmo de lutar por fazermos os que estão mesmo do nosso lado felizes e retribuir um pouco do que já foi feito por nós? 

A felicidade e o fim de nossas dores, me parece, nunca é um processo "individual", uma conquista que alcanço "sozinho"! Eu preciso sempre de algo a mais, que seja mais do que simplesmente... "eu"! Não confundir isso com o fato de sermos "responsáveis" pela felicidade dos outros, embora sejamos, em parte, sim! Afinal os outros não são, também, responsáveis, um pouco, pela minha felicidade? Insistimos em ser felizes sozinhos, mas...

Isso parece ir um pouco de encontro aos pensamentos narcísicos, dominantes em nossa época. Mas quem disse que temos sempre que remar a favor da maré? As vezes é preciso coragem pra pensar e agir de forma diferente. 

(José Henrique P. e Silva)

domingo, 27 de abril de 2014

Ser pai

A "cultura" por vezes é cruel com o "pai", reservando à mãe a doçura, o afeto, a emoção e o sentimento. Sobra-nos, por vezes, o cálculo, a segurança, a proteção, a força, enfim. Mas, muito disso já vem mudando, e podemos, sem medo, demonstrar o que sentimos e deixar descansar essa capa de super-homem que insistem em nos fazer usar. Alguns até gostam, é verdade, mas outros não! Ser "pai" e ser "mãe" não depende do sexo, são "funções" (paterna e materna) que podem muito bem ser cada vez mais compartilhadas por ambos, sem maiores distinções.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Outono!

Bem vindo outono... momento em que as lembranças acordam para brincar com as folhas que caem!

(José Henrique P. e Silva)

O Ego e sua função de buscar algum equilíbrio

Gosto de pensar no nosso "ego" como um urso bem pesado e grandão tentando se equilibrar num monociclo. Isso porque, como Freud destacou, o ego assume a função de um "administrador" de relações com o inconsciente, com o superego e com a realidade externa. Claro, é sempre um equilíbrio dinâmico, nunca estático, nem "zen". Ou seja, coitados mesmo de nós. Haja equilíbrio nesta vida!!!

(José Henrique P. e Silva)

Machismo e Sexismo: Projetamos nossas culpas sobre o outro

Recentemente presenciamos aquela polêmica causada pelos dados de uma pesquisa divulgados erroneamente pelo IPEA sobre a violência contra a mulher. Independente da competência ou não do instituto e da veracidade das informações publicadas, o tema é relevante, principalmente aquele que foi maior objeto de polêmica: "a tolerância com o estupro".

O que se percebeu foi que o(a) brasileiro(a) tende a ser mais rigoroso(a) e critico(a) quando se trata de "violência doméstica". Nesse caso, é o próprio sujeito (que responde à pesquisa) que se coloca naquela posição e parece estar se autoavaliando, então ele não admite uma postura violenta. Mas, no caso do "estupro" fica evidente certa agressividade latente e a intolerância quando se encontra na "roupa curta" da mulher aquela tradicional justificativa necessária para transformá-la em algo "sem valor" e que merece punição. Nesse caso, ao contrário da "violência doméstica", quem responde (ele ou ela) não se sente julgado na pergunta e projeta para um suposto "outro" (agressor, estuprador, violento) sua própria raiva, agressividade, machismo e intolerância.

Lembrei muito de uma pesquisa feita pela Folha de S. Paulo há muitos anos atrás sobre o racismo, e o procedimento é similar, ou seja, o brasileiro não se "declara" racista (não assume), mas se "revela" racista através da ação do "outro", ou seja, afirmando que o "outro" é que "é" racista. O brasileiro continua o mesmo: "cordial" quanto ao outro, ou seja, nega ser racista e machista, mas o é através da ação dos outros. 

Então, esse sujeito que, de forma cínica, admite que a mulher que usa roupa curta merece ser violentada, é o mesmo que é capaz sim de estuprar e violentar. Ele apenas delegou, através de uma projeção, esta função para o criminoso. Se na pesquisa da Folha ele projeta o seu racismo sobre o outro, nesta pesquisa sobre violência ele projeta sua agressividade e sexismo sobre o outro, também.

Fazemos isto com o racismo, com a violência contra a mulher, com relação às leis, com relação aos políticos... ou não? Precisamos pensar sobre o nosso caráter e projetar menos sobre os outros nossos desejos e culpas e passar a termos mais indignação com a criminalidade, a discriminação, a corrupção, o "jeitinho", etc.!!! Ainda estamos engatinhando em termos de cidadania e respeito ao outro!!!

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A conversa dialógica e o "fetichismo da informação" no mundo da política

Estava pensando um pouco sobre o que é mais importante numa conversa, se fazer afirmações ou escutar? Quem já não se questionou sobre isso? Basta lembrar situações em que estamos, por exemplo, numa mesa de bar com amigos onde todos falam ao mesmo tempo e buscam impor seus argumentos, ou quando estamos ouvindo a quem admiramos e parecemos não questionar nem um pouco o que a pessoa diz. 


Nos dois casos há o domínio do que se chama de "fetiche da informação", ou seja, aquela ilusão de que só o que falamos e afirmamos é que tem importância e os demais devem simplesmente ouvir e ficar quietos. Nesses casos não há conversa alguma, só imposição de argumentos, de um lado ou de outro.

Na conversa "dialógica" não temos, necessariamente que chegar a "acordo" algum que signifique a eliminação do "outro", não temos que nos "confrontar" para eliminar um argumento, nela temos que exercitar a capacidade de "escutar" principalmente. Diria que esta é a conversa democrática por excelência, pois o mais importante não é "vencer" um debate, mas "escutar", trocar, se conscientizar mais do próprio ponto de vista e ampliar a compreensão entre todos que conversam. Bem, pode até ser a conversa de tipo mais "democrático", mas não me perguntem se, de fato, é este tipo de conversa que ocorre numa democracia, ou mais especificamente no mundo político.

Seja no interior dos parlamentos, seja na relação com a mídia, a política praticamente desconhece a conversa dialógica. Em momentos de disputa eleitoral, nem pensar. A questão é o confronto direto e tudo cede lugar ao marketing. Ok, essas são as regras! O discurso político está mesmo reduzido ao "mínimo possível", ou seja, quanto menos palavras maior a chance de ser internalizado. Vivemos uma era de informações rápidas, multiplicadas, mas com pouquíssima substância e nenhuma disponibilidade para o debate. É de se pensar onde, e em que espaços a conversa "dialógica" está sobrevivendo! Na mídia? Nas Universidades? Não sei! Cada vez tenho menos ideia disso!

O fato é que, no mundo da política, mesmo de deixarmos de lado os momentos de confronto (como as disputas eleitorais) vemos que a conversa dialógica está cada vez mais ausente, mesmo naquelas pequenas reuniões partidárias onde todos teriam que ter a chance de falar e de, principalmente, saber escutar. Aí complica tudo! Como dar legitimidade às decisões "coletivas"? Essa é uma boa pergunta para a democracia responder!

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre as "salvacionices" paranóicas no mundo da Política

Em sua sempre interessante coluna no Estadão Roberto Damatta¹ transcreve uma carta que teria recebido do professor e amigo Richard Moneygrand. Trata-se de um intelectual aposentado, norte-americano e "brasilianista" (aliás, como já nos tinha chamado a atenção o prof. Moniz Bandeira², o termo só se aplica aos norte-americanos que pensam o Brasil. Na Europa são chamados de "africanistas"). Moneygrand é um personagem inventado por Roberto Damatta para pensar o Brasil e, desta vez, nos falou sobre um aspecto interessante que está em questão nesta conjuntura político-eleitoral que vivemos: as "resoluções messiânicas" para os nossos problemas.

De acordo com Moneygrand, atuar sobre uma conjuntura de disputa eleitoral deste porte não é nada simples e fácil pois exige atitudes nem sempre confortáveis de um lado ou de outro. Ações, valores e princípios são questionados e a crítica é promovida em alta escala. 

No caso brasileiro, o que estaria sob avaliação seria "uma história transcendental que iria libertar os oprimidos e os miseráveis e os diretores dessa fase tidos como politicamente invencíveis. Para Moneygrand, será inevitável entender-se melhor ("desmascarar") os chamados "salvadores do Brasil" e contrastá-los com a proliferação de escândalos de corrupção, a avidez pelo enriquecimento pessoal e uso de privilégios, e o aparelhamento do Estado para fins de interesse pessoal. 

Ainda segundo Moneygrand, esta seria uma sina brasileira, ou seja, a "crença numa resolução messiânica para todos os seus problemas; daí a atração pelo conceito de "revolução" em toda a latinidade americana". O tema é dos mais interessantes e gostaria de trazer algo da Psicanálise para ajudar no debate sobre o entendimento do poder e seus arredores. 

Se estamos falando de "crença messiânica" estamos nos referindo a algo que, em maior ou menor proporção, está muito próximo dos conceitos de "líder carismático" e de "populismo". Vejamos. Um esclarecimento inicial: A sucessão é para o governo da presidente Dilma, mas não nos enganemos, se há um projeto "messiânico" em questão, como nos sugeriu Moneygrand, ele foi construído pelo ex-presidente Lula, que é, para quem, o nosso olhar deve se voltar. Claro que seria um grande equívoco metodológico tentar trazer o ex-presidente para o divã, mas podemos olhar com atenção os "estilos de atuação na política" e nos arriscarmos a algumas considerações. 

Para isso, Eugène Enriquez (“As Figuras do Poder”), é um exemplo de autor que fornece subsídios teóricos interessantes para entender o campo da política sob o olhar da psicanálise. Segundo ele, o poder tem sempre uma "face" encarnada em um indivíduo ou grupo, e desvelar essa "face" é fundamental para se entender alguns dos motivos das ações e palavras dos agentes políticos. Se olhássemos, então, com atenção, para o estilo de atuação do ex-presidente Lula não seria tão arriscado defini-lo como predominantemente carismático/paranóico. 

Trata-se de um estilo de atuação que está assentado sobre algumas "fantasias". Quais? E de que liderança, então, estamos falando?

·   A fantasia de que a “fala” organiza o mundo – Para este líder, tudo depende, essencialmente, do "discurso". Qualquer dado da realidade parece sem valor diante da "fala" do líder, que a tudo avaliza. Se o discurso é peça fundamental no campo da política, com este líder ele ganha uma relevância exagerada. Ele quer ser ouvido, pois com sua fala, organiza e explica o mundo de acordo com os seus interesses. O viés carismático vem de uma habilidade de ensaiar metáforas populares a todo instante, como, por exemplo, no recorrente uso do futebol pra explicar diversos fatos;

·    A fantasia de que existem “explicações definitivas” – É um líder que não abre mão de suas certezas absolutas. Suas convicções são o espelho de sua "grandeza", e sua mensagem é de "salvação" para a sociedade. É um "messias" que anuncia uma "nova origem" a partir de sua chegada ao poder, como se tudo se explicasse a partir de um "... nunca antes na história desse país...";

·   A fantasia de que há inimigos por toda parte – Neste líder, há uma idealização da imagem de “conspiradores” (a “elite golpista”, a “mídia de direita”, a “classe média egoísta”, os “brancos de olhos azuis”, os “inimigos do povo” etc.). Assim, só existem dois tipos de indivíduos para este líder: aqueles que ele reduz a objetos de sua dádiva e aqueles que precisam ser “destruídos”. Muito comum que esses “inimigos” sejam fabricados pelo próprio discurso deste líder. Um exemplo está na recorrente e obsessiva comparação estatística com tudo o que antecedeu ao governo Lula, especialmente o governo Fernando Henrique Cardoso. Manter esta obsessão pela comparação é fundamental para a existência de sua “liderança” e demarcação de um "território", pois lhe garante uma "identidade" e um “lugar” na política e na vida;

·    A fantasia de ser uma figura “central” no mundo – Coloca-se, então, na posição de “centro” do mundo. Com ele que surge uma nova "lei" (o desprezo ao STF e incapacidade de assumir erros nos falam um pouco dessa quase impossibilidade de sujeitar-se às regras), é uma espécie de "herói criador", um "pai único e verdadeiro", que se pretende "onipotente", sem limites, e livre de qualquer ameaça. Não acredita na história, pois é ele quem a "começa" a partir de sua chegada ao poder;

·  A fantasia de que é necessário “transformar” o mundo – Sua fala traz sempre a "verdade", quase de inspiração divina. O ex-presidente Lula dizia: "...não existe ninguém mais ético do que eu...", e, por vir das classes populares, trazia consigo a "verdade". É com essa "origem" que ele se transforma no “eleito", no "campeão", enfim, no “cara”, como um dia disse Obama;

·     A fantasia de que “tudo é possível” - Para este líder, finalmente, é fundamental criar uma "nova sociedade", afinal "tudo começa" com ele e acredita que, para isso, "tudo é possível" e justificável. É aqui que os delírios encontram espaço para florescer, inclusive aqueles que classificam corruptos como simplesmente “presos políticos”;

Todos nós, individualmente, possuímos traços que nos realçam a persecutoriedade. Alguns um pouco mais. E líderes políticos não escapam, obviamente, a estes traços. Alguns um pouco mais, evidentemente. O ex-presidente Lula, me parece, usou e abusou desse estilo. Não o condeno, afinal, é o seu estilo de atuação na política. Nem diria que foi sempre assim. Um olhar mais detido sobre a evolução de sua postura e discurso políticos mostra que ele transformou-se com o tempo. Mudança significativa, porém, aconteceria no auge da conjuntura crítica do escândalo do mensalão, quando passaria a adotar, de forma frequente, as linhas deste estilo carismático/paranóico. Mas, isso é assunto pra outra conversa.

O interessante é que para manter estas fantasias o líder carismático/paranóico precisa tensionar a sociedade, num permanente conflito entre “nós x eles”. Ele "movimenta" as relações sociais a um ponto tal de conflito que, se não ameaça, por vezes desqualifica e deslegitima, as instituições democráticas. É nesse estímulo ao "conflito permanente" que o líder carismático/paranóico tenta apropriar-se do conceito de "povo" (o único conceito legítimo para ele). Ele se infiltra, profundamente, então, no imaginário popular.

Não se trata, portanto, de um estilo de atuação "essencialmente" democrático. Aliás há muito o que se conversar sobre essa tal "essência" da Democracia. Mas, é decisivo, então, sustentar-se a capacidade crítica, oferecer uma nova possibilidade de recontar a história do país, manter as instituições o máximo livres e independentes. Ou atribuímos à democracia um valor universal, onde o "povo" é transformado em "cidadão" (e não estou dizendo meramente "consumidor"), ou continuaremos nos apegando a “messias” e “salvacionices”, mantendo a nossa sina, como bem assinalada por Moneygrand. 

Olhar, então, para o estilo de atuação dos governantes, e seus pormenores discursivos, pode dar ao campo da política um especial interesse. Neste caso, o que se percebe é um conjunto de fantasias que povoam o líder carismático/paranóico. Moneygrand conclui sua análise lembrando que há uma chance de dispensarmos estes "Messias" mas, desde que comecemos mesmo a "desconfiar que nada neste mundo de Deus pode ser resolvido paulatinamente, a não ser por todos e cada um".
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¹ "Onde Estamos", O Estado de São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2014. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-estamos,1157387,0.htm 
² "Divagações de um brasilianista". Observatório da Imprensa, 04/09/2012, edição 710. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed710_divagacoes_de_um_brasilianista

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Perversão: a parte obscura de nós mesmos


Este é um livro da Roudinesco que gosto muito. Trata da "Perversão", aquela estrutura clínica nem tanto "valorizada" quanto as neuroses ou psicoses, e em boa parte "glamourizada" pelas "fantasias sexuais" que parecem adquirir um grau de legitimidade bem elevado atualmente. Mas prefiro falar daquela "outra" Perversão, aquela parte considerada "maldita" em nós mesmos, e por isso quase sempre bem "escondida", que parece sempre nos lembrar de nossa potencial bestialidade, algo que parece contrastar com a própria "humanidade". 

Essa perversão que dá margem a comportamentos e vidas infames, paralelas, minúsculas, bestiais, criminosas, monstruosas e miseráveis, que se disseminam pela sociedade e ao nosso redor. Estou falando de criminosos sexuais de uma forma geral (abusadores, pedófilos, estupradores etc.) que deveriam sim, e essa é uma opinião que tenho muito arraigada, serem permanentemente monitorados pelas instituições responsáveis, pois sabe-se que sua possibilidade de "cura" é ínfima, quase nula. Podem manter-se sob algum tipo de controle, mas parecem não escapar desta "parte obscura" que tomou conta de si mesmos. Há muito o que se falar sobre a Perversão.

O livro da Roudinesco nos traz alguns exemplos de "notórios perversos", como Gilles de Rais, neto de João de Craon, um riquíssimo senhor feudal libertino. Desde seus 11 anos foi iniciado no crime por este seu avô. Dilapidou sua fortuna em bebedeiras e toda sorte de excessos. 

O gosto pelo sangue e o desprezo às leis era indiscutível. Apegado às armas, Gilles acabou por servir ao lado de Joana D'Arc e chegou a ser condecorado, mas não escapava às pilhagens e roubos. Depois passou a cometer outro tipo de crime: o seqüestro de crianças, seguido de todo tipo de sevícias. 

Retalhava corpos, arrancava órgãos, e tudo isso associado ao abuso sexual dos corpos. No auge da loucura chegava a invocar o demônio em extrema excitação – acabava transformando-se num dejeto, sujo de sangue, esperma e restos de comida. Todas as fronteiras com a Lei já estavam abolidas e nada o refreava. Fala-se em cerca de 300 crianças mortas, o que deu origem à lenda do Barba Azul. Em 1440 Gilles foi levado a julgamento e confessou todos seus crimes dizendo que foram por iniciativa própria. Não atribuiu culpa ao demônio nem a instintos bestiais. Ele simplesmente lembrou a educação que recebera do odiado avô que fizera dele uma criatura abjeta, imersa no vício. 

No final, implorou perdão e pediu orações. Foi enforcado e queimado. Diante da pergunta do porque teria cometido tais crimes, ele responde: "para que atormentar, a vós e a mim?" - Esta é uma característica do perverso, o TORMENTO do qual não consegue livrar-se a não ser com a própria MORTE.

Outro "notório perverso" trazido pelo livro da Roudinesco é o bastante famoso Marquês de Sade. Com ele isso, inaugurava-se a noção moderna de perversão, onde não havia nada de "diabólico" e sim "humano". Foi na regência de Philippe d’Orléans, após a morte de Luis XIV, que a "libertinagem" (fenômeno que surgiu como reação às guerras religiosas) encontrou sua forma política mais consumada. 

Orgias, blasfêmias, especulação econômica, gosto pela prostituição, pelo luxo, pelo desperdício e escândalos: todas essas praticas concorriam para um vasto questionamento dos valores da tradição religiosa. A aristocracia entregava-se e fascinava-se pelos prazeres mais excessivos. Foi nesse cenário que cresceu o Marquês de Sade que, com sua escrita, levaria aos limites a "inversão da Lei". 

Seus personagens, entretanto, não reivindicam uma filosofia do prazer e da liberdade individual, e sim uma vontade de destruir o outro e se autodestruir num TRANSBORDAMENTO DE SENTIDOS (gozo absoluto). O ser humano transforma-se em OBJETO (coisa) e ABJETO (desprezível). Sade não foi um criminoso do tipo Gilles de Rais, foi mais um "perverso moral". Não matou, mas destruía a identidade. 

Tinha os germes da depravação, mas não da loucura. Assim, é compreensível que Sade tenha sido visto como um precursor da sexologia. Encarnação de todas as figuras possíveis da perversão, ele nunca cessará, após ter desafiado e insultado reis, Deus e invertido a Lei, de ameaçar a todos em sua vã pretensão de querer domesticar o gozo do mal. Esse é o típico "notório perverso" mais alinhado àquela perversão "glamourizada" dos dias atuais, onde se enaltecem as fantasias, quase sempre no limite entre o prazer e o crime.

Que olhar, então, dirigir ao perverso? Sabemos que existe aquela perversão que ninguém se intromete, porque é da ordem da vontade do indivíduo, casal ou grupo, em sua intimidade. Essa perversão fala algo da liberdade e da própria natureza humana. E não consigo estabelecer nenhum juízo moral sobre a questão, pois a psicanálise não busca nenhum tipo de "ordem moral" ou algo que diga o que é o "sexo bom" ou "mau" para cada um. 

Mas, existe a perversão que é alvo da Lei e que sobre ela deve-se dirigir um olhar bastante severo. São os chamados "parafílicos sociais" (estupradores, pedófilos, assassinos maníacos, criminosos sexuais etc). Para esses o olhar não deve ser somente o de reprovação, mas de forte atuação no sentido do confinamento e monitoramento constante, pois o mal que causam ao outro é, muitas vezes, irreparável. 

O que me assusta, por vezes, é uma certa condescendência com esse tipo de crime, tentando-se atribuir certa "naturalidade", mostrar que é "cultural", ou até mesmo que não é crime e sim uma "doença". Embora esse tipo de perversão tenha sim componentes destes três tipos de explicação quando inserida em nosso contexto social ela se torna crime sim, e merece punição rigorosa, ou vamos mesmo conseguir conviver com a ideia de um pai estuprar a própria filha criança ou adolescente?

(José Henrique P. e Silva)

Limites e agressão!

O UOL trouxe uma matéria ontem sobre a questão dos "limites" na relação entre as pessoas, com contribuições da Terezinha Baptista, do Sedes Sapientiae. Há sempre méritos em discutir a questão da agressividade como modelo de educação e é desnecessário enfatizar que a agressividade é uma de nossas reações mais primitivas, e que exige alguma "domesticação" na própria infância.


E uma das formas mais utilizadas pela agressividade é a violência psicológica (não física), aquela que envergonha, humilha, diminui, destrói a identidade da pessoa. É claro que a irritabilidade, em situações ocasionais, é algo absolutamente normal e nos protege de internalizar ofensas, mas o problema está quando a irritabilidade e a agressividade se tornam modelo de conduta, tomam conta da personalidade. 

Gritar, berrar, agredir, se impor pela força, só demonstram a fraqueza e a incapacidade psíquica de lidar com o controle, o argumento, a reflexão e o respeito ao outro. Mostram forte egocentrismo, talvez como defesa para uma evidente identidade muito fragilizada e insegura. Sem dúvida, impor limites sem o uso da violência é uma habilidade que pode ser melhorada com o tempo. 

Mas, só treino de habilidades não resolve tudo. Trata-se de um indivíduo que precisa ter seu NARCISISMO observado com mais atenção, pois algo pode ter falhado e ele está tentando se manter forte e agressivo para simplesmente não "desabar".

Quando falei que a agressividade precisa ser "domesticada" é porque fica evidente em nossa evolução emocional, ainda na infância, que se não reconhecermos limites isso irá gerar seríssimos problemas mais tarde. E esses limites vem do modelo dos pais, principalmente. Não há como esperar por escolas ou pela sociedade. Essas estão, cada vez mais, falhando em seus papeis de mostrar limites e, principalmente, mostrar limites a partir da EDUCAÇÃO e não da força física ou psicológica.

(José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sobre o hedonismo e o pecado

Ainda numa daquelas tarefas insanas e improdutivas de tentar colocar ordem em papéis antigos, peguei umas anotações de uma coluna do C. Caligaris na Folha em que ele comentava a vinda do Papa Francisco ao Brasil. Segundo ele, não são poucas as religiões que combatem o hedonismo atual, ou a ideia do prazer como algo associado ao egoísmo e o consumismo. 

Difícil dizer algo contra esta associação. Mas ela não pode ser vista de forma maniqueísta. É claro que o consumismo tem no hedonismo um parceiro decisivo, mas o hedonismo se resume a isso, a tornar os homens egoístas? Por que a busca do "prazer" se torna um palavrão para muitos, assume uma conotação moral negativa? Será que é só renunciando ao prazer que adotaremos uma moral positiva? 

A questão se torna ainda mais complicada quando estamos sob o aparato cultural de uma religião fundada na ideia do necessário "sofrimento" para a salvação. Existe aí, então, um possível maniqueísmo que exige a suspensão do prazer para se conquistar uma moral elevada e evitar o pecado. Tal associação precisa ser melhor ponderada. Repito, não há dúvida que o hedonismo, hoje, alcança ares egoístas e doentios, mas eliminar a ideia do "prazer" não é a solução para a felicidade do homem.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pesquisa Vox Populi e suas "artimanhas"

A divulgação da pesquisa do VOX POPULI anteontem sobre a disputa presidencial me chama a atenção para algo que, vez por outra, ocorre em época de eleição. Na rápida tabela que montei abaixo se percebe que o VOX POPULI fez a pesquisa nos dias 6 e 8 mas só divulgou em 16.04. O DATAFOLHA havia feito uma pesquisa semelhante nos dias 2 e 3 e divulgado no dia 5 de abril. Pode-se dizer que os resultados estão dentro da margem de erro (38% para Dilma no DATAFOLHA e 40% no VOX). 

O problema está justamente na DATA DE DIVULGAÇÃO dos resultados. Divulgar um resultado com 8 ou 9 dias de diferença, como fez o Vox Populi, não é recomendável pois estamos tratando de CONJUNTURAS DISTINTAS (embora os dados possam estar corretos). Percebe a questão? Além disso, a pesquisa do VOX apontou uma oscilação positiva da Dilma (de 38% do Datafolha, para 40%). Me chamou a atenção porque isso parece ser muito comum no VOX POPULI. Em 2010 para a disputa do Senado o mesmo já acontecera em Pernambuco, quando o VOX também demorou pra divulgar os resultados e o fez com uma intenção de voto bem superior à divulgada pelo Datafolha. 

Onde está o problema então? Ora, divulgar dados com uma boa defasagem de tempo significa que você está tentando "FREAR UMA OSCILAÇÃO" (no caso, a oscilação negativa da Dilma, confirmada pela pesquisa do IBOPE com 37%) e também criar um clima de "otimismo" tentando "ABAFAR UMA CONJUNTURA DESFAVORÁVEL" (escândalo da Petrobrás). É simples! Não é tão difícil perceber isso!!! Estamos falando de conjunturas distintas que a pesquisa do Vox Populi tentou "negar".

Agora, outra questão: quem acolheu esta pesquisa do VOX POPULI com tanto tempo de atraso? A Revista CARTA CAPITAL. Olha, nada contra a revista, mas isso é só um exemplo de que temos que acabar com essa besteira de que tudo o que sai na VEJA é "falso" e tudo o que sai na CARTA CAPITAL é "verdadeiro", como se a esquerda estivesse com a "verdade" ao seu lado. Não estamos falando de ideologia (ideologia hoje só serve mesmo pra quem não gosta de pensar muito), estamos falando de disputa eleitoral, interesses, poder... e nisso o PT e seus aliados (como o VOX POPULI e a CARTA CAPITAL) são tão eficientes quanto os demais. Só não vale, entretanto, é ficar posando de "santinho" e "dono da verdade", e usar esse tipo de artimanha antiética e imoral onde se usa um instrumento técnico como a pesquisa eleitoral pra MANIPULAR UMA CONJUNTURA. Infelizmente esse tipo de debate não chega à grande população. Infelizmente.

O que é isso que acontece com o VOX POPULI? Incompetência técnica e falta de agilidade? Deliberada "proteção" a seus candidatos? É nesta hora que o TSE deveria exigir respostas por parte dos institutos de pesquisa e a mídia deveria ser mais responsável com a divulgação de dados. Bem, mas não estamos falando de situações ideais e sim de uma disputa de interesses que é sempre ferrenha.

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dias de Incerteza!

Estava tentando, inutilmente, arrumar alguns por aqui papéis e encontrei uma coluna do C. Calligaris na Folha, de novembro de 2012 (clique para ler). No texto existe uma pergunta implícita: Por que a dificuldade em se assistir a documentários históricos, políticos ou tragédias e dramas familiares? 

Podemos alegar que, por vezes, não temos conhecimento histórico ou cultural necessário para isso. Mas, isso não explica quase nada. Em que pese a mediocridade do ensino de uns tempos pra cá, que já não fornece subsídios a nenhum aluno, há outra razão. 

Calligaris concorda com a tese de que somos sempre frutos de uma época e de sua cultura. Em muitos aspectos ainda somos uma herança daquele homem revolucionário do século XIX que foi levado a "apreender a ordem do mundo através de sua subjetividade, se identificando com os personagens do romance psicológico", um homem que decide no que acreditar, seguindo seu foro íntimo e suas convicções. Claro que isso não nos define a todos!

O fato é que, a partir desta herança, tivemos que aprender a conviver com a "incerteza", pois muitas tradições "seguras" foram abandonadas. Duas destas "tradições" foram o "orgulho" (aristocrático) e o "fanatismo" (religioso). Sobrava, então, ao homem comum revolucionário e sobrevivente do século XIX a "incerteza". Com estas duas tradições nos colocamos mais facilmente como invencíveis, heróis, extraordinários, eleitos, grandiosos. Com estas tradições acabamos por desenvolver fantasias e delírios megalomaníacos.

Daí, segundo Calligaris, ser difícil lidar com a incerteza, os dramas e as tragédias. É como se não quiséssemos nos identificar mais a nenhum personagem que não fosse heróico, invencível, divertido e feliz. Este é um comportamento que atende às nossas necessidades de fantasiar, de forma heróica e bem humorada, nos dias atuais. Dias de muita incerteza.

Um pequeno exemplo, mas bem representativo disto que Calligaris nos traz para pensar, se deu quando, a pouco tempo, estava fazendo algumas entrevistas em profundidade para um Diagnóstico de Clima Organizacional em uma empresa e um empregado me relatou:
parece que estou vestindo uma capa de super-homem. Seja aqui (no trabalho), seja com os amigos ou em qualquer lugar, tá todo mundo achando que eu tenho que ser perfeito em tudo, quase não tenho tempo pra ser eu mesmo. Tá ficando difícil aguentar
É isso aí. Tá complicado!

(José Henrique P. e Silva)

A saudade que nos reconcilia com o sofrimento!

Em sua coluna de hoje no Estadão, o antropólogo Roberto DaMatta (clique para ler a coluna) nos fala sobre o "sofrimento" e a "saudade". Sabemos que é impossível se pensar em uma sociedade, ou uma vida, sem sofrimento. É só uma utopia nossa, um desejo irrealizável, pois até mesmo nossas memórias estão repletas de momentos de dor e, quantas vezes, encaramos a felicidade como fruto do próprio sofrimento. Não é esse o problema, afinal o sofrimento nos coloca frente a frente com coisas valorosas (honestidade, coragem, aceitação) que nos levam a tentar "reagir". Não há outra saída então, pois sendo impossível evitar o sofrimento é preciso "aceitá-lo" e reagir em prol da busca da felicidade. 


É aí que DaMatta nos lembra de Joaquim Nabuco (1909) dizer que "saudade" é a mais bela palavra de nossa língua, sempre nos levando a pensar em lembrança, luto, desejo e amor - "moedas do sofrimento". É esta palavra que nos reconcilia com o sofrimento, transformando dor, mágoa e ressentimento em... Saudade! 

Adorei esta associação entre sofrimento e saudade feita por DaMatta pois, vocês devem concordar comigo, não é à toa que sentimos muitas saudades do que "não vivemos". Como isso ocorre? Ocorre porque TENTAMOS, HEROICAMENTE, SUBLIMAR NOSSAS DORES DO PASSADO EM PURA SAUDADE DE UM TEMPO E DE UMA VIDA NÃO VIVIDA MAS QUE... DEIXOU SAUDADES.

Esta uma capacidade que temos, um RECURSO PSÍQUICO que utilizamos para lidar e aceitar o sofrimento que a realidade, sem nos pedir licença, nos impõe. A saudade, então, nos faz encontrar um pouco de paz com o passado e com a dor.


(José Henrique P. e Silva)


P.S (1) - Oi Eliana, que bom que gostou. O tema é controverso sim e dói e faz sorrir sim, dependendo do que vamos fazer com ele. Aqui, queria comentar essa "estranheza" Cláudia....a saudade, lá nas suas origens (até terminológicas mesmo) fala de algo que "partiu", que nos deixou "sozinhos", em solidão, algo que nos escapou...enfim...então a saudade é de algo que foi "vivido". Estamos falando mesmo de "perda", ainda que seja a perda de algo bom que vivemos. E a lembrança desse algo pode doer ou nos fazer sorrir. Quando nos faz sorrir sempre digo que a saudade é uma excelente companheira. Quando nos dói, geralmente usamos dois recursos psíquicos: tentamos "esquecer", não lembrando, sepultando, etc., ou tentamos "sublimar" transformando aquilo que foi vivido como dor em saudade de algo que, muitas vezes, sequer vivemos...

P.S (2) - Quantas vezes estamos assistindo a um filme ou lendo a um livro e nos deparamos com uma situação com a qual nos identificamos. Ficamos presos à narrativa, nos transportamos para ela, ficamos sem piscar esperando o desenrolar da trama. Muitas vezes esse desenrolar foi "melhor" que o que aconteceu na nossa vida...aí temos uma boa chance de sublimar, tentando transportar nossa dor para aquele final de trama e dando a chance de nossa dor se transformar em algo mais ameno, suportável...respiramos fundo e passamos a ter saudades daquele desenrolar, que não vivemos, mas que um pouco dele agora vai fazer parte da narrativa do nosso passado. Este tema é legal porque chama a atenção para o fato de que nossas lembranças não são formadas apenas pelo que "vivemos", mas também por "fantasias" e "desejos".