Recentemente presenciamos aquela polêmica causada pelos dados de uma pesquisa divulgados erroneamente pelo IPEA sobre a violência contra a mulher. Independente da competência ou não do instituto e da veracidade das informações publicadas, o tema é relevante, principalmente aquele que foi maior objeto de polêmica: "a tolerância com o estupro".
O que se percebeu foi que o(a) brasileiro(a) tende a ser mais rigoroso(a) e critico(a) quando se trata de "violência doméstica". Nesse caso, é o próprio sujeito (que responde à pesquisa) que se coloca naquela posição e parece estar se autoavaliando, então ele não admite uma postura violenta. Mas, no caso do "estupro" fica evidente certa agressividade latente e a intolerância quando se encontra na "roupa curta" da mulher aquela tradicional justificativa necessária para transformá-la em algo "sem valor" e que merece punição. Nesse caso, ao contrário da "violência doméstica", quem responde (ele ou ela) não se sente julgado na pergunta e projeta para um suposto "outro" (agressor, estuprador, violento) sua própria raiva, agressividade, machismo e intolerância.
Lembrei muito de uma pesquisa feita pela Folha de S. Paulo há muitos anos atrás sobre o racismo, e o procedimento é similar, ou seja, o brasileiro não se "declara" racista (não assume), mas se "revela" racista através da ação do "outro", ou seja, afirmando que o "outro" é que "é" racista. O brasileiro continua o mesmo: "cordial" quanto ao outro, ou seja, nega ser racista e machista, mas o é através da ação dos outros.
Então, esse sujeito que, de forma cínica, admite que a mulher que usa roupa curta merece ser violentada, é o mesmo que é capaz sim de estuprar e violentar. Ele apenas delegou, através de uma projeção, esta função para o criminoso. Se na pesquisa da Folha ele projeta o seu racismo sobre o outro, nesta pesquisa sobre violência ele projeta sua agressividade e sexismo sobre o outro, também.
Fazemos isto com o racismo, com a violência contra a mulher, com relação às leis, com relação aos políticos... ou não? Precisamos pensar sobre o nosso caráter e projetar menos sobre os outros nossos desejos e culpas e passar a termos mais indignação com a criminalidade, a discriminação, a corrupção, o "jeitinho", etc.!!! Ainda estamos engatinhando em termos de cidadania e respeito ao outro!!!
(José Henrique P. e Silva)
(José Henrique P. e Silva)
Nenhum comentário:
Postar um comentário