sábado, 24 de maio de 2014

Nossa história é uma história de amor!

Nossa história, desde o primeiro momento, é uma história de amor. Nos fundimos com a mãe num prazer sem limites; amamos a nós mesmos num auto-erotismo; e depois, com a relações objetais, buscamos a todo instante o amor no mundo! E nas impossibilidades e limites que encontramos pela frente as neuroses vão ocupando seu espaço!

(José Henrique P. e Silva)

O "desconhecido" que brinca com nossos desejos de proteção!


O medo é das nossas emoções mais primitivas e irracionais. É contra ele que o mito, as religiões, a ciência e a política se voltam, numa tentativa de oferecer consolo, segurança e esperança. Talvez jamais consigamos essa paz completa! Talvez seja algo muito próprio de nossa humanidade! E é interessante notar como o "desconhecido" nos fascina, brincando com nossos medos, atiçando em nós aquela sensação bem infantil de experimentarmos um arrepio, um susto, e corrermos para buscar um colo que nos proteja.

(José Henrique P. e Silva)

A crítica de Adorno e o "medo" nos dias atuais

Em época de eleição, e tendo uma ferramenta como o facebook nas mãos é muito fácil o debate sobre a política perder a "razão". É aí que lembro de T. Adorno (teórico da Escola de Frankfurt) e sua forte crítica à "racionalidade", ou seja, àquela racionalidade que abdica da autonomia do pensamento e fica refém de chavões e clichês simplistas. Hoje, se precisamos de uma forte crítica à forma como as coisas estão organizadas não podemos, por outro lado, cair na tentação dos discursos de "ódio" e dos apelos "autoritários".

Vivemos uma época difícil em termos de racionalidade. Não debatemos mais, nem mesmo criticamos mais, simplesmente tentamos "destruir". Se estou fora do governo ou se estou no governo só me interessa a "destruição" do outro. E aí os discursos do "medo", do "preconceito" e do "autoritarismo" encontram chance de proliferar. No final das contas, usamos a "violência" para justificar tudo. Onde está nossa autonomia de pensamento? Que uso estamos fazendo da razão? Ou a democracia sai fortalecida ou não estaremos usando nossa razão para nada proveitoso. E o uso do "medo" não é próprio da esquerda ou da direita, é próprio dos anti-democratas, independente das cores que vestem.

Claro que, no calor dos debates é difícil perceber isto. Só depois é que sentimos os efeitos catastróficos do que fizemos. Não a toa, para cada vez mais pessoas, a política corre o risco de se tornar "obsoleta" e "banal", tornando-se terreno do ódio, da indiferença, do uso em proveito próprio, onde a força da democracia está somente na "retórica", pois sua "prática" está tomada pelo interesse. Pobre democracia, que "avança" na criação de instituições mas que não penetra na mente dos cidadãos.

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 20 de maio de 2014

A "obsessão do mega"!

Muito bom este texto da Ruth de Aquino. Segundo ela, cultivamos uma "obsessão do mega”, uma mania de grandeza "cafona e perniciosa", onde tudo precisa ser o "maior do mundo”. É um tema muito corrente por aqui e desde sempre temos essa postura de tentar combinar o "moderno" com o "atraso". 

Na política, cada passo progressista leva consigo o apoio de oligarquias poderosas; Na economia, somos uma "potência mundial" com uma das maiores concentrações de riqueza...estamos sempre em busca daquilo que é o "melhor", o "maior", mas enquanto meros objetos que servem mais para esconder nossa incapacidade de criarmos uma verdadeira nação. 

Há algo de um transtorno narcisista aí, como se estivéssemos sempre correndo atrás daquilo que sabemos que jamais "seremos". Por isso "precisamos" tanto daqueles "símbolos" que nos autorizam a "esquecer" nosso verdadeiro tamanho! E daí se tivermos a "Copa das Copas" como sugeriu a presidente Dilma? O que isso significará de fato, além de nos emprestar, momentaneamente, um pouco de autoestima? Ora, é em outros lugares que devemos buscar alimento para a autoestima!

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A beleza das rugas!

Está certo, vamos lá! A vaidade e a beleza sempre foram trunfos para a autoestima da mulher. Hoje, não há como negar, os homens parecem também se deixar seduzir por este caminho mas, francamente, ainda é um território predominantemente feminino. E é só olhar para os lados que enxergamos todos os esforços que a indústria da saúde e da beleza fazem para entregar às mulheres uma garantia de que serão sempre saudáveis e belas.

Ok, bem razoável e estimulante que se siga essa estrada mas, e quando percebermos que não é possível deter a marcha do tempo? O que acontece? Vamos insistir numa batalha feroz resistindo com todas as forças aos efeitos que o tempo causa em nosso corpo? 

Não ouso, em nenhum momento, emitir juízos de valor sobre essa questão mas, observo muito os efeitos que essa persistente "batalha contra o tempo" causa em algumas cabecinhas. E não são efeitos nada agradáveis, pois estão repletos de ansiedades e perda de autoestima, criando, muitas vezes, uma necessidade de se repensar toda uma identidade.

Por isso sempre me questionei: Não há beleza nas rugas em um rosto de mulher? Cito a mulher porque sou homem e é para ela que dirijo meu olhar. Não há beleza? Difícil responder a essa pergunta nos tempos atuais onde as diferenças entre o que o corpo nos mostra como "real" e a imagem que fazemos dele como "ideal" são gritantes.

Mas, ouso insistir na pergunta: Não há beleza nas rugas em um rosto de mulher? Por que decidimos estabelecer como verdade a crença de que a "beleza" está na juventude? Por que insistimos em ver na simetria algo "perfeito"? Por que o nosso medo tão intenso de uma pele mais flácida, de um andar mais leve, de formas que parecem não mais caber nos manequins das belas vitrines? Não vamos reagir a isso? Vamos ficar assistindo calados e, pior, acreditando nisso?

Não, nada disso tem a ver com beleza, com perfeição, com juventude, com força! Nada disso! Vivemos uma era de consumo exacerbado. Os produtos buscam diversificar-se para oferecer mais do mesmo, buscam novos consumidores, e cada vez mais jovens. De uma hora para outra, nossos ícones estão cada vez mais jovens. Deixamos de admirar nossos ídolos dos anos 60 e 70, por exemplo, para seguir filhos e netos na sua admiração por Justin Bieber! E quando percebemos estamos lá, nos portando iguais a eles. Ok, um bom sinal de jovialidade. Mas, é só isso mesmo? O que queremos com isso?

Volto à pergunta: Não há beleza nas rugas de um rosto de mulher? Vivemos como se fossemos passar, como num passe de mágica, da bela juventude para a morte. Puro engano, pura ilusão! Desde que nascemos, vivemos em uma longa e dura transitoriedade, estamos de passagem oras! Amadurecemos, envelhecemos, não dá pra aceitar isso? Se não der é porque precisamos acertar algumas contas conosco mesmo! E talvez a conta principal a ser acertada seja a da nossa tradicional "exigência de imortalidade". Ufa!!! Tema difícil este!

O que precisamos fazer? Trazer o conceito de beleza para seu lugar original. Aquele lugar onde nossas emoções lhe deram um significado um dia. Não quero que a indústria da beleza me diga o que é bonito. Quero que minha memória, minhas lembranças e minhas experiências me digam onde está a beleza das coisas e das pessoas. Se amei uma pessoa a 30 anos atrás e ela continua do meu lado por que não a achar linda? 

Mas, só conseguiremos fazer isso se descolarmos o conceito de beleza do corpo, daquilo que é físico. O que vamos fazer com nossas lembranças, vamos jogar no lixo? Elas não servem mais para nos dizer que a razão pela qual amamos uma pessoa está muito além da simetria de suas formas, de sua aparente juventude ou da ausência de rugas em seu rosto?

Parece fácil escrever sobre isto. Sei que a sociedade é cruel, exigente, dominadora. Mas, nós é que resolvemos aceitar essas regras. Nós é que abdicamos de nossa crítica, de nossa segurança interna e nos colocamos como subservientes à este modelo cultural. Sim, é só um modelo cultural, porém devastador, inimigo da autoestima e produtor de patologias as mais diversas.

Vamos envelhecer e ver envelhecer as pessoas que amamos? Vamos perder as pessoas que amamos? Vamos! Mas, por isso vamos perder nossa capacidade de amar e de contemplar a beleza aquela beleza que é fruto de nossos sentimentos e que depositamos em quem está do nosso lado? Não! Decididamente não!

Não me interessa se um dia vou chegar aos 80 anos e vou estar com uma mulher da mesma idade ao meu lado, com todas as marcas do tempo. Aliás, torço para isto todos os dias. E o que me fará feliz neste dia? A beleza de sentar à sua frente, fixar os olhos em seu rosto e, com a ponta dos dedos, percorrer cada um daqueles leves traços nos seus olhos e nos seus lábios.

Sim, traços de uma vida repleta de lembranças a serem compartilhadas e revividas a cada momento. Afinal, há um tempo em que a pressa pelo futuro desacelera, o presente nos convida a sentar um pouco, e o passado ressurge, desfilando em meio à nossas lembranças e nos fazendo dizer um ao outro que tudo valeu a pena!

Sim, existe muita beleza nas rugas de um rosto de mulher!

(José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Psicanálise e o autoconhecimento

"Face à dor psíquica... que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar uma neurose, uma psicose, um escudo caracterial, uma perversão sexual, sonhos, obras de arte e doenças psicossomáticas. (...) E embora o sujeito encontre aí sua morada, tem muito pouca consciência de seu significado...". (Joyce McDougall - "Em defesa de uma certa anormalidade", 1° parágrafo do ensaio Psicanálise e Soma)

É em busca deste significado que a neurose, por exemplo, tem para o sujeito, que a Psicanálise o acompanha em sua jornada de autoconhecimento.

O Processo de Psicotização

Antes de qualquer coisa, a PSICOSE implica um "processo" onde, em suas linhas gerais, o indivíduo diante de uma realidade cuja dor lhe é insuportável, luta pela violenta expulsão dessa ideia e, á medida que faz isto, vai afastando-se dessa realidade insuportável para, no momento imediato, a reconstruir, de forma mais suportável, sob a forma de delírios e alucinações. É o processo de "psicotização".

(José Henrique P. e Silva)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Violência e Internet

O Programa Alexandre Garcia (GloboNews) de hoje teve como tema a violência e seu incrível aumento nos últimos anos aqui no Brasil. Em certo momento a "internet" veio à tona na discussão como um espaço que multiplica esse apelo à violência. Isso é fato! 

Não se trata de dizer que a internet é "culpada" de alguma coisa. Não se trata disso! É da natureza humana que estamos falando. O que a internet possibilita é que aquilo que, em público, não fazemos por temer as regras e punições, fazemos livremente no ambiente virtual. 

Ou seja, a internet funcionaria (para alguns) como um espelho onde se projetam frustrações, raivas, ressentimentos, ódios a partir de uma suposta posição de força e grandeza. Assim, o que a internet faz é facilitar a comunicação entre pessoas que já nutrem, potencialmente, o ódio e a frustração dentro de si de uma forma pouco controlável. 

Agora, isso combinado à falta de modelos identificatórios saudáveis na vida política e um quadro de instituições falidas, é explosivo! Não é à toa que, numa lista de 132 países, somos o 11° mais violento, e nem temos uma das melhores internet do mundo!

(José Henrique P. e Silva)

terça-feira, 13 de maio de 2014

A contra-ofensiva do PT com a volta de "fantasmas do passado"

O interessante, e desafiador, de uma campanha eleitoral é que não há linha "reta", ou seja, está permeada por ofensivas e contra-ofensivas. Aécio apareceu na TV, contou com o crescimento do temor da volta da inflação e capitalizou boa parte dos insatisfeitos que deixaram o apoio à Dilma entre março e maio. Agora vem a contra-ofensiva. Peça de campanha do PT hoje, em rede nacional, dá sequência ao pacote de bondades lançado por Dilma em 1° de maio.

Nada de novo nesta peça de propaganda. A defesa da continuidade é clara. O PT que teria "resgatado" parte da população pobre para o consumo e integrado-a na sociedade mostra para todos o "risco" de um governo do PSDB acabar com tudo isso ("volta de fantasmas do passado"). 

Uma coisa é certa, o PT sabe que há um claro movimento de reação na sociedade por "mudanças" e certo "cansaço" com o governo Dilma. E está contra-atacando com o que tem de melhor até aqui (o alcance das políticas de emprego e incremento do consumo). O tom é melodramático e inspira o "medo"! 

O alcance, porém, me parece limitado ao "reduto" mais tradicional do PT nestes últimos anos e trata-se, salvo engano, de uma tentativa de "reagrupar" o "time principal" (setores pobres que emergiram para o consumo) para, a partir daí contra-atacar em direção a outros setores sociais.

O recado do PT é claro: "ei vocês aí que conseguem trabalhar e se alimentar por nossa causa, fiquem do nosso lado e não se deixem contaminar pela onda de mudanças!"

Daqui a uns dias começam a sair novas pesquisas e já começamos a ver o que aconteceu de fato e como a oposição vai agir novamente!

Tá ficando animado!!!

(José Henrique P. e Silva)

O escândalo político e o discurso cínico!

Foi no dia 14 de maio de 2005, há exatos 9 anos, que a edição 1905 da revista Veja chegou às bancas com uma discreta chamada no cabeçalho mas com uma longa matéria revelando o que viria a se transformar no maior escândalo político-midiático da República recente: O escândalo do mensalão. Talvez a maior herança deste escândalo tenha sido a legitimação, em sua completa magnitude, do chamado "DISCURSO DO CÍNICO". O que é isto?

É exatamente o "discurso do cínico" que faz com que um escândalo seja tão pouco escandaloso e faça prevalecer a crença de que, ao final, tudo acabe em "pizza" e que só reste a equação: "eu sei que ele sabe que eu sei". 

O grande trunfo de um escândalo é a "confissão", é isso que o transforma em algo verdadeiramente devastador. Quando a Revista Veja trouxe a denúncia de corrupção nos Correios só se inaugurou o que chamamos de "pré-escândalo". Só com a entrevista de Roberto Jefferson (06 de maio) e sua "confissão" surge  a fase do "escândalo propriamente dito". Mas sempre faltou algo: Lula nunca admitiu!

Ele sabe que é a da confissão que todos precisam. O reverendo Eymerich, no "Manual dos Inquisidores" (1376), já nos dizia da importância da "confissão". Enquanto o segredo não se tornar transparente o culpado ainda não se sente devassado pelo olhar do outro que o acusa. Neste aspecto Lula foi e é mestre! Jamais admitiu e, mesmo quando vacilou numa quase admissão de culpa, logo reagiu com um discurso contrário.

O "eu não sabia", portanto, virou o grande lema e a grande incógnita do escândalo do mensalão. É aquele "buraco" que ainda não foi devidamente tapado. Por isso Lula sempre aposta em que "a história mostrará a verdade". É daí que brota o "discurso do cínico", dessa incapacidade de admissão, desse esconder-se no segredo e na não revelação, no não reconhecimento da culpa. Ter algo a esconder é próprio do cinismo.

Mas, Lula talvez seja só a expressão maior de uma época em que a "ética da malandragem" instaura e legitima, como nunca, a ordem dos "espertos" e do "jeitinho". O seu "EU NÃO SABIA" marcou época, fez escola e nos colocou, definitivamente, no interior do "discurso do cínico".

Como nos diz, de forma incisiva, o psicanalista Ricardo Goldenberg ("No Círculo Cínico", ed. Relume Dumará, 2002), o homem moral de Kant está obsoleto, é um "otário" e quase ninguém mais quer habitar sua moradia. Rejeitamos a internalização da Lei e das Regras e a substituímos pela fé cega de que há sempre um "jeito" de sermos uma "exceção". O que vivemos é uma tremenda crise do superego e nenhum modelo vinculado às leis e regras parecem ser suficientes para determinar nossa subjetividade e domar nossos desejos.

Vivemos em uma época em que o cinismo se transformou na caricatura da moral Iluminista evidenciando sua possível falência, pois estamos sempre invocando normas universais e, ao mesmo tempo, promovendo sua transgressão. Como nos diz Goldenberg "o cinismo consiste no conjunto de operações que preservam oculto o hiato entre os princípios e a prática que os contradiz"

Os canalhas se deleitam em nossa época! Todos, imersos em culpa, não a reconhecem e levantam os punhos afrontando a justiça e a todos. Quanto a isso, temos muito o que agradecer ao ex-presidente Lula!

(José Henrique P. e Silva)

O medo inconsciente do voto facultativo

Artigo, no Observatório da Imprensa, a respeito da pesquisa Datafolha que aponta alta rejeição ao voto obrigatório entre os brasileiros.

O medo inconsciente do voto facultativo (José Henrique P. e Silva)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Copa do mundo: legados e jeitinhos!

Texto do Jamil Chade mostra os alertas que a Fifa faz aos torcedores estrangeiros sobre as dificuldades de infra-estrutura para a Copa. Deixando ufanismos de lado, é claro que os alertas fazem sentido pois o Brasil é mesmo um país complicado em termos de locomoção, estadia e segurança. Nada que não se resolva, desde que não seja com o "jeitinho" é claro! 

Ele diz, por exemplo, que veio de Lula a "sugestão" para se ter não 8 mas 12 sedes, e que a seleção brasileira deveria jogar em vários locais (forçando mais e mais deslocamentos de todos os times). Qual o objetivo disto? Precisava mesmo? O pior é que muita gente já alertava sobre isto, mas o governo insistia que iria haver o tal "legado" da Copa em cada cidade. Enfim, depois a gente vê o que vai sobrar mesmo em termos de "legado"!

O fato é que, para a Fifa, a Copa no Brasil vai servir para uma mudança de paradigma. Ou seja, vão começar a exigir maiores compromissos por parte dos países que se candidatam a sediar o evento. Agora, o cômico é a Fifa acreditar que estas "garantias" viriam do Poder Legislativo. Eles não imaginam o quanto o Legislativo, por aqui, só anda a reboque do Poder Executivo!

E não adianta dizer que a Fifa é "isso ou aquilo"...ela é mesmo. Mas, o fato é que o país assumiu um compromisso internacional e não tá dando conta do recado...mas no final, o "jeitinho" prevalece e os turistas vão tomar uma caipirinha numa roda de samba...pior pra quem mora aqui e vai pagar a conta da brincadeira!!!

(José Henrique P. e Silva)

Dilma não está associada às mudanças necessárias!

A pesquisa do Datafolha, feita ontem, foi a primeira após a "reação" da presidente (anúncio do aumento do Bolsa Família, diminuição do "volta Lula" etc.). Diria o seguinte:

Se a eleição fosse hoje o 2° turno seria "inevitável" (Dilma tem menos votos que a soma dos demais candidatos). Dilma perdeu poucos votos agora pela sua "reação" mas, já é a candidata com maior "rejeição" (35%) e está menos associada à possíveis "mudanças" (Aécio já aparece como o nome mais preparado). 

A continuar neste ritmo, mesmo que atenue sua queda (continua em oscilação negativa) a presidente será vista com cada vez menos "bons olhos". Se a conjuntura econômica não mudar rapidamente, será necessário que o "volta Lula" (Lula ainda é visto mesmo como um "bom reserva") ou aconteça mesmo ou tenha capacidade de transferir apoio pra presidente, do contrário, é esperar que a inauguração de obras e o tempo de TV faça milagre durante a campanha. 

O complicado pra Dilma é que os nomes de Aécio e Campos, que ainda têm muito espaço para aumentar seu "conhecimento" junto ao eleitorado, já estão capitalizando essa "insatisfação" com o governo federal e surgindo com "bons olhos". Parece que dessa vez o PT vai enfrentar uma eleição com uma conjuntura econômica desfavorável, com muitos flancos abertos (corrupção, ineficiência administrativa etc.) e, pior, com candidatos de oposição que "agradam" e são capazes mesmo de capitalizar a insatisfação e o anseio por mudanças.

Enfim, a próxima alteração de conjuntura, ainda antes do início das campanhas, me parece, será com a entrada em cena da Copa do Mundo e as possíveis manifestações. Vamos esperar pra ver como a população se comporta.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A necessária "chispa" na relação entre Internet e Democracia

Pensando um pouco sobre a relação internet e política acabei relendo um artigo do ex-presidente Fernando Henrique no Estadão de, quase exato, um ano atrás. No artigo, ele fala de suas leituras de M. Castells (Redes de Indignación y Esperanza) e Moisés Naim (The End of Power), ambos tratando da relação da tecnologia e a política, discussão que se aprofunda na esteira da perda de força da democracia representativa e na expansão da política tradicional (principalmente nas disputas eleitorais) sobre estas novas tecnologias.

O assunto não é novo e recebeu grande impulso a partir da "Primavera Árabe", e talvez por isso se enxergue nesse uso da tecnologia on-line uma maior presença de homens comuns, que não seguem lideranças tradicionais e deixam claro seus desejos de forte "autonomia", pois quase sempre formam uma "massa invisível" para as instituições representativas. 

E, com base nisso, muitos se apressam em dizer que há na internet um potencial "explosivo" para a política. Mas, a relação entre a internet e a mobilização política não é automática pois, da mesma forma que na vida "real", na vida "on-line" são necessários "fatores desencadeadores" que nos tirem do isolamento. E estes, só surgem quando de um clima psicossocial propício para a "chispa de indignação".  Nesse ponto, Fernando Henrique nos diz que:
A chispa, entretanto, só ateia fogo e produz reações quando se junta profunda desconfiança das instituições políticas com deterioração das condições materiais de vida. A isso se soma frequentemente o sentimento de injustiça (com a desigualdade social, por exemplo, ou com a corrupção diante do descaso dos que mandam), que provoca um sentimento de ira, de indignação, geralmente proveniente de uma situação de medo que dá lugar a seu oposto, a ousadia. Passa-se, assim, do medo à esperança. 
É a partir deste quadro que a conjuntura atual oferece uma boa oportunidade para se testar um pouco mais dessa relação entre internet e política.

Há condições propícias para isso hoje em dia? Não há nenhuma dúvida que se vive um período de erosão de alguns ganhos obtidos em épocas anteriores, trazendo riscos para um possível descontrole da inflação, aumento do desemprego, perda de capacidade de consumo etc., além de um forte descontentamento com a vida política em geral. Em função disto, já é visível a movimentação no eleitorado no sentido de reforçar a oposição e, com a chegada da Copa do Mundo, e a muito provável intensificação de movimentos de rua, a "chispa de indignação" pode surgir ainda mais forte.

Quem vai ganhar com isso? Acho que na altura do campeonato, o "poder de fogo" do governo é pequeno. Teria que surgir algo muito "novo" e "interessante" para frear esta queda de popularidade. E, além disso, Aécio Neves e Eduardo Campos teriam que se tornar muito "antipáticos" à população. Sinceramente? Acho que esta combinação não vai ocorrer, e mesmo que o governo tenha "balas na agulha" vai encontrar, além de uma conjuntura desfavorável, uma oposição muito mais agradável e disposta a chegar ao poder.

Então, é fato que a simples potencialização e abrangência da tecnologia de contato on-line não necessariamente se transforma em algo "real". É preciso que haja um clima psicossocial propício ao surgimento de "chispas de indignação".

(José Henrique P. e Silva)

A genialidade do pensamento alemão

Se na música e no cinema tenho uma forte "queda" pelos ingleses, confesso um profundo respeito e admiração pelo "gênio alemão" e sua intelectualidade. Não quero fomentar discussões com isso, apenas acredito que exista uma cultura na Alemanha que se reproduz fazendo com que uma geração sempre assuma, com grandiosidade, os desafios do pensamento levados a cabo pela geração anterior, mantendo o gosto pelas "grandes questões" e sua discussão em profundidade e abrangência, um pouco diferente do pragmatismo inglês e do proselitismo francês. Mas, isso é só uma impressão.

Pensei sobre isso a partir de uma resenha no Estadão da autoria de Brian Ladd, jornalista e sociólogo sobre o livro The German Genius, de Peter Watson. O livro é uma compilação de contribuições essenciais feitas pelos alemães nos campos da filosofia, teologia, matemática, ciências naturais e sociais e arte, desde 1750. O que parecia estar claro na virada do século XIX para o XX era que havia algo de especial na cultura alemã, a ponto de alguns a colocarem como única herdeira das civilizações clássicas de Grécia e Roma.

De acordo com Watson, devemos a eles nosso conceito de História. O seu romantismo e erudição instalaram a verdade e a criatividade na mente humana. Nomes como Kant, Hegel, Goethe, Marx, Nietzsche e Freud, buscaram sentido para um mundo em total movimento. Inventaram a universidade moderna, que combinou ensino e pesquisa. Desenvolveram uma burocracia especializada, como uma espécie de rival da autoridade. E, o mais decisivo, para muitos, voltaram-se para o interior com o objetivo de encontrar verdades que não estivessem ancoradas na razão nem na revelação divina. Esta é a marca do "individualismo subjetivo moderno".

Freud, então, é fruto deste ambiente, desta ousadia metafísica, deste não contentar-se com a razão, nem com a religião. Da mesma forma que foi fundo na mente humana, foi abrangente ao olhar para a sociedade. Profundidade e abrangência, é esta combinação, para mim, que produz genialidades. Mas, veio o nazismo, o holocausto, e como definir esta "genialidade"? É possível deixá-los de lado ao se observar a cultura alemã? O que significam no conjunto da cultura alemã? Hitler foi o ponto culminante dessa genialidade? Não acredito! São questões delicadas e que exigem reflexão. Só não podem é obscurecer que existe uma vontade de potência naquele pensamento, que também revela seu lado trágico, e que marcou a sociedade alemã em todo o século XX.

(José Henrique P. e Silva)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre o discurso da oposição em 2014

Hoje, no seu Twitter, o Gaudêncio Torquato disse não acreditar tanto que o PT comece a acusar a oposição de querer "vender" a Petrobrás. Segundo ele, é um "truque manjado". E é verdade, afinal, foi assim que ocorreu nas duas últimas eleições com o PT insistindo em "colar" no PSDB o carimbo de "privatista". Mas, hoje, a forma como o PT está tentando "reelaborar" a crise da Petrobrás colocando a oposição como interessada na derrocada da empresa sinaliza bem que, na eleição, esse discurso de "salvação" do patrimônio público pode voltar sim, embora seja "manjado". 

A questão é que agora, com 12 anos de administração petista já é bem possível mostrar o tamanho da "INEFICIÊNCIA" da gestão pública (obras inacabadas, gastos excessivos, aparelhamento, crescimento econômico pífio, dificuldades no mercado internacional). Esse discurso pode ser mais forte até que o da "corrupção" (importante por consolidar os votos de classe média). Não acredito em um discurso novo do PT nesta eleição. Virá, como sempre, sustentado no Bolsa Família, crescimento da classe C e, para isso, irá explorar ao máximo (de novo) o "conflito de classes" (ricos x pobres), a "comparação com FHC", e colocar-se como "salvação". Muito difícil a Dilma sustentar-se da ideia de ser uma boa "gerente" ou "mãezona" (estão fragilizados estes discursos)

Então, insisto que o que está fazendo o governo da Dilma "patinar" na popularidade, não é tanto a corrupção quanto a INEFICIÊNCIA, principalmente em não conseguir sustentar a ECONOMIA do país. Isso é que coloca uma grande INTERROGAÇÃO na cabeça do eleitor: o que virá pela frente com mais 4 anos de Dilma? Por que não mudar? O eleitor está começando a "duvidar". Ou seja, O FIEL DA ELEIÇÃO SERÁ AQUELE ELEITOR DE CLASSE C QUE COMEÇA A DUVIDAR DE UM FUTURO TÃO "CERTINHO" COM A DILMA E O PT, E COMEÇA A MOSTRAR-SE DISPOSTO A "ARRISCAR" (mudar).

Acho que se o Aécio e o Campos "puxarem" o debate para o terreno da "eficiência e competência administrativa" e não caírem na cilada do "conflito de classes" as chances da oposição ficam muito fortes. O problema é que as oposições em 2006 e 2010 ficaram sem "discurso". Naqueles momentos, praticamente nada podia bater de frente com o discurso do bolsa família e do crescimento econômico...mas e agora? A conjuntura é bem outra!!! Existe discurso sim!!!

Além do mais, se o Campos tiver uma boa atuação no Nordeste e se o Aécio tiver um vice de São Paulo, a coisa fica imensamente complicada para o PT.

(José Henrique P. e Silva)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Não quero ser somente ... "eu"!

As vezes pensamos tanto em buscar a nossa própria felicidade, as vezes nos concentramos tanto em sentir as nossas próprias dores que esquecemos que somos responsáveis por algo além de nós mesmos. Talvez isto não seja egoísmo, mas somente aquele desejo de ser feliz e ter alguma paz, e aí nos colocamos sempre em "primeiro lugar". 

Mas, e aquelas pessoas que dependem de nós? Existem momentos, então, que não podemos nos colocar em "primeiro lugar", afinal, quem sabe para sermos felizes não dependemos mesmo de lutar por fazermos os que estão mesmo do nosso lado felizes e retribuir um pouco do que já foi feito por nós? 

A felicidade e o fim de nossas dores, me parece, nunca é um processo "individual", uma conquista que alcanço "sozinho"! Eu preciso sempre de algo a mais, que seja mais do que simplesmente... "eu"! Não confundir isso com o fato de sermos "responsáveis" pela felicidade dos outros, embora sejamos, em parte, sim! Afinal os outros não são, também, responsáveis, um pouco, pela minha felicidade? Insistimos em ser felizes sozinhos, mas...

Isso parece ir um pouco de encontro aos pensamentos narcísicos, dominantes em nossa época. Mas quem disse que temos sempre que remar a favor da maré? As vezes é preciso coragem pra pensar e agir de forma diferente. 

(José Henrique P. e Silva)