"Face à dor psíquica, às divisões internas, os traumatismos universais e pessoais que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar uma neurose, uma psicose, um escudo caracterial, uma perversão sexual, sonhos, obras de arte e doenças psicossomáticas. Artesão de si mesmo, tem poucas possibilidades de modificar a forma de suas criações psíquicas, essa estrutura que o ajuda a manter não somente o equilíbrio de sua economia pulsional, mas também o sentimento de ter uma identidade. Assim, existe uma resistência ferrenha contra tudo o que pode abalar essa fortaleza psíquica, e embora o sujeito encontre aí sua morada, tem muito pouca consciência de seu significado. É claro que esse conhecimento psíquico e as criações que ele origina não possuem um valor idêntico do ponto de vista de sua eficácia, nem aos olhos da sociedade. Todavia, todos visam os mesmos objetivos: o desejo de se manter vivo, de realizar-se nos planos pulsional e narcísico, de conservar intacta a identidade assim construída e defender-se contra tudo que ameaça estes propósitos. A força do sujeito reside nessa continuidade e nessa monotonia. Contudo, é aí também que encontramos a fonte do seu sofrimento e até mesmo de sua morte..."
(Joyce McDougall - "Em defesa de uma certa anormalidade", 1° parágrafo do ensaio Psicanálise e Soma)
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